terça-feira, 31 de maio de 2011

NOTAS #26


Gêneros literários
Daniela Comani, uma artista plástica italiana radicada na Alemanha, costuma investigar em seu trabalho questões ligadas ao gênero feminino. Seu objetivo é mostrar que as mulheres não ocupam a história mundial do século XX e muito menos o cânone literário ocidental. Na série de trabalhos New Publications, a artista escolheu cinquenta e dois clássicos da literatura inglesa, espanhola, francesa, alemã e italiana e mudou o gênero de seus títulos. Assim, a capa de Os irmãos Karamozov ganha o título de As irmãs Karamozov; Madame Bovary vira Monsieur Bovary; e Dom Quixote se transforma em Dona Quixote. Não deixa de ser curioso e provocativo. A mostra está em exibição na Charlie James Gallery em Los Angeles.

Listas
O site Flavorwire (sempre com as listas das dez melhores coisas relacionadas à literatura) pediu a revista literária One Story (especializada em publicar contos) que escolhesse os dez maiores contos de todos os tempos. Na votação da equipe vários nomes foram citados e a editora da revista escolheu os clássicos - tudo segundo uma ordem bem particular, pessoal e aleatória. É fato que a nomeação é discutível, mas tem o mérito de mostrar uma reunião de contos não tão citados. Entre eles, “Para Esmé, com amor e sordidez”, de JD Salinger; “Os mortos”, de James Joyce; “Um senhor muito velho com umas asas enormes”, de Gabriel Garcia Marquez; “É difícil encontrar um homem bom”, de Flannery O’Connor; e “Catedral”, de Raymond Carver. A lista completa está disponível em http://tinyurl.com/3lrnta5

Áudio Huxley
Entre 1956 e 1957 a rádio americana CBS organizou uma série experimental de leituras dramáticas. Na estréia do programa nada menos do que uma adaptação em duas partes do clássico romance de ficção científica Admirável mundo novo, de Aldous Huxley. A peça que tem introdução e narração do próprio Huxley reapareceu na internet. O programa está disponível em duas partes: parte 1 e parte 2. [via openculture]

140 caracteres
No ano passado Jeff Howe criou no twitter um enorme clube do livro chamado "One Book, One Twitter". A experiência foi muito bem sucedida e teve cerca de 12 mil pessoas ao redor do mundo lendo Deuses americanos, de Neil Gaiman. Para tristeza de muitos, tudo terminou subitamente da mesma forma como começou - afinal, na internet as coisas às vezes são um pouco efêmeras. No entanto, Howe com a ajuda da revista The Atlantic recuperou a ideia. Dessa vez, o clube do livro foi rebatizado de "1book140" e vai ter um livro por mês comentado por seus seguidores. Dia primeiro de junho começam as leituras e discussões em torno de O assassino Cego, de Margaret Atwood - o primeiro livro escolhido pelos quase 5 mil seguidores. Quem quiser se aventurar só precisa seguir o perfil http://twitter.com/1book140 .




Moby Dick em imagens
Os desenhos incríveis de Matt Kish para cada páginas de Moby Dick serão publicados em livro. O ilustrador e artista plástico americano gosta tanto do romance de Herman Melville que em agosto de 2009 decidiu criar uma ilustração para cada página do livro. Ele fazia apenas um desenho por dia e postava o material num blog da internet. A longa jornada terminou em janeiro desse ano. O livro Moby-Dick in pictures: one drawing for every page vai sair pela editora Tin House em outubro numa edição caprichada que além dos desenhos inclui trechos do monumental romance da baleia. Os desenhos estão disponíveis em http://tinyurl.com/yajkgzu

34 leituras íntimas
A editora 34 em parceria com a Casa de Francisca realiza amanhã a quinta edição da série 34 leituras íntimas. Dessa vez, os escritores João Paulo Cuenca e Chico Mattoso vão ler trechos selecionados de obras com o tema Leituras de deformação. Quem estiver por lá vai ouvir histórias de outros escritores que revolucionaram a vida e a maneira de fazer literatura de Cuenca e Mattoso. Em outras edições o evento já reuniu Antonio Prata, Humberto Werneck, Verônica Stigger, Leandro Sarmatz, Beatriz Bracher, Noemi Jaffe, Fabrício Corsaletti e Fabiano Calixto. É importante reservar seu lugar com antecedência pois a Casa de Francisca é um pequeno café-teatro que costuma lotar. O endereço é Rua José Maria Lisboa, 190 - São Paulo.

A notícia Franzen da semana
Na semana em que Jonathan Franzen é assunto em diversos jornais e revistas, nada melhor do que reavivar a notícia Franzen da semana (para quem não se lembra, isso foi uma brincadeira que fiz no ano passado, quando Franzen estava fazendo um sucesso enorme nos Estados Unidos e na Europa). O Gotham Writers' Workshop perguntou a ele quais os conselhos para enfrentar o terrível bloqueio criativo. Franzen não titubeou e contou alguns macetes: "A certa altura, muitas vezes depois de meses de fracasso e frustração, eu sou forçado a parar e proceder a uma auto-análise através de anotações e conversa com amigos confiáveis". A conversa toda está disponível em http://tinyurl.com/3wcuwoh

*imagens: reprodução.
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domingo, 29 de maio de 2011

SANTIAGO RONCAGLIOLO PARA O MUNDO

Santiago Roncagliolo, escritor peruano radicado na Espanha, ganhou o Independent Foreign Fiction Prize por seu romance Abril vermelho. Concorrem ao prêmio autores de ficção que foram traduzidos para o inglês e tenham sido publicados no Reino Unido durante 2010 - lá, saiu pela editora Atlantic Books com tradução de Edith Grossman. O prêmio é concedido tanto para o escritor quanto para o tradutor do livro.

Abril vermelho foi publicado em 2006 e no mesmo ano faturou o Prêmio Alfaguara. Na época Roncagliolo foi considerado o autor mais jovem a receber o prêmio. Com o Independent Foreign Fiction Prize o resultado é semelhante, já que ele tem apenas 36 anos. Detalhe, entre outros, ele estava concorrendo com Orhan Pamuk e Per Petterson - dois autores bastante conhecidos de crítica e público.

Apesar de jovem, Roncagliolo pode ser considerado um veterano. Já publicou cinco romances e um livro de contos - sem considerar as obras infanto-juvenis. Também publicou ensaios, obras de não-ficção e teatro, além de contribuir com o jornal El País e outros jornais da América Latina. Lê muito bem inglês, francês, português, catalão e espanhol. No ano passado figurou na edição da revista Granta Os melhores jovens escritores em espanhol ao lado de Andrés Barba, Andrés Neuman e Pola Oloixarac. O ganhador do Prêmio Nobel de Literatura, Mario Vargas Llosa, confessou que é leitor de Roncagliolo.

Por aqui, a Alfaguara Brasil publicou Abril vermelho em 2007 (infelizmente não consegui achar o nome do tradutor).

***

Em tempo, a Alfaguara Brasil (que publica uma versão da revista Granta em português) lança na próxima semana a edição com Os melhores jovens escritores em espanhol. Eu comentei aqui quando o lançamento aconteceu na Espanha. Nela constam nomes de jovens escritores que estão levando a literatura hispânica para novos rumos. Dois autores da lista, Andrés Neuman e Pola Oloixarac, vão estar na FLIP desse ano.

A edição teve bastante êxito na Inglaterra e nos Estados Unidos, contribuíndo bastante para que europeus e norte-americanos ficassem de olho na literatura dos nosso hermanos hispânicos. Junte isso com a feira do livro de Frankfurt que homenageou a Argentina no ano passado e podemos tirar uma boa lição para a nossa particapação em 2013. Me lembro de uma entrevista dos editores da revista aqui do Brasil comentando os planos de lançar em 2012 uma edição com o tema Os melhores jovens escritores brasileiros.

***

Quem quiser, pode ler em inglês o conto Stars and stripes, de Santiago Roncagliolo que está liberado no site da revista Granta. Tem também uma breve entrevista com ele e um comentário de apresentação de Nell Freudenberger. Ele confessou que os cinco escritores que ele admira no momento são: Bertrand Rusell, Philip Roth, Yasunari Kawabata, Michel Houellebecq e William Shakespeare.

*imagem: divulgação.
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sexta-feira, 27 de maio de 2011

JONATHAN FRANZEN VEM A FLIP EM 2012

Vou confessar que estava esperando a presença do Jonathan Franzen na FLIP quando vi a notícia de que Liberdade seria publicado pela Companhia das Letras. No entanto, quando vi a programação oficial o nome dele não estava lá. Até fiz uma torcida, pensei em criar um hashtag "#vemfranzen". Quem sabe até já estava preparando um post especial para o momento do anúncio tal anúncio. Mas não foi dessa vez.

Esforços não faltaram. A Ilustrada de hoje tem uma entrevista com Jonathan Franzen e confirma a presença dele na FLIP do ano que vem - revela até as tentativas da Companhias das Letras para trazê-lo. Parece que ele não pode vir por incompatibilidade de agenda. Um pena! Seria um lançamento em grande estilo para Liberdade, um prestígio para a FLIP e nós teríamos a chance de ver um escritor em seu grande momento. Como todo mundo sabe, no ao passado ele foi eleito pela TIME como o grande romancista americano. As resenhas aqui no Brasil também não me deixam mentir.

Não tem problema. Guardamos o nosso entusiasmo para o próximo ano!

*imagem: reprodução.
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TOM MCCARTHY EM PORTUGAL

Parece que o mercado editorial em Portugal anda em crise e que as editoras de lá querem vir para cá - Editoras portuguesas miram Brasil. Ocorre que em alguns casos os portugueses chegam na frente em termos de lançamentos de literatura estrangeira que estão chamando atenção. Mas verdade seja dita, me lembro que antigamente esperávamos muito tempo pelo lançamento de um livro muito comentado - frequentemente tínhamos de comprar livros importados diretamente de seus países de origem ou recorrer as traduções portuguesas. Atualmente a situação é bem diferente, quase tudo o que saí lá, saí por cá. E também pode acontecer de um livro sair por cá e não por lá.

Um caso curioso é o do escritor inglês Tom McCarthy. Não sei se alguma editora no Brasil planeja lançar os romances dele por aqui, mas em Portugal tanto Remainder quanto C já foram publicados. Ambos foram recebidos pela crítica anglófona com grande entusiasmo. A escritora Zadie Smith chegou a dizer que Remainder apontava para um caminho que o romance poderia seguir no futuro. Com o romance C não foi muito diferente, quem leu disse que o romance era original, renovador e ambicioso. O livro foi finalista do Man Booker Prize do ano passado e era tido como o ganhador até que Howard Jacobson abocanhou o prêmio.


Em 2009, Remainder foi publicado em Portugal pela Editorial Estampa - com o título de Remanescente. O livro conta a história de uma pessoa sem nome que perdeu a memória depois de ser atingido por alguma coisa que caiu do céu. Depois do incidente, ele recebe uma alta soma de dinheiro para reconstruir as coisas que que vai lembrando ou imagina lembrar.

C acabou de chegar às livrarias portuguesas pela Editorial Presença. Tom McCarthy criou um romance ambientado em pleno começo do século XX, quando os grandes meios de comunicação sem fio estavam sendo inventados. Assim, o protagonista do romance, Serge Carrefax, é jogado num mundo em constante transformação tecnológica. Tamanho espanto tem semelhança com a nossa experiência contemporânea e não deixa de nos fazer pensar na internet, nos tablets, nos celulares, nos blogs e nas redes sociais.

Tom McCarthy também escreveu livros de ensaio e um outro romance chamado Men in space (de 2007). Esses ainda continuam restritos a língua inglesa. Se alguma editora aqui no Brasil já está com planos de lançar os livros do escritor, por favor, mande notícias.

*imagens: reprodução.
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quarta-feira, 25 de maio de 2011

MÁRIO DE ANDRADE - MEU ESCRITOR FUTURISTA


Mário de Andrade não foi apenas o autor de Macunaíma e Paulicéia desvairada - duas obras que por si só já o colocariam no panteão das letras nacionais. Muito além disso, ele foi o mentor do movimento modernista brasileiro atacando em diversas frentes: escreveu ensaios críticos de natureza variada sobre literatura, fotografia, história e música. Também era fotógrafo e colunista de jornais e revistas da época. Não contente, ele ainda foi diretor do departamento municipal de cultura da cidade de São Paulo. As contribuições dele para com a nossa cultura fizeram com que avançássemos anos luz. A escrava que não é Isaura, Ensaios sobre a Música Brasileira e Aspectos da Literatura Brasileira são fontes constantes fontes de informação para qualquer sujeito que deseja saber mais sobre a nossa cultura.

A parte a importância de Mário de Andrade, estou escrevendo esse post para contar uma outra história. Em 1941, antecipando um pouco a nossa atual paixão por listas de melhoras da literatura, a Revista Acadêmica pediu a diversos escritores que respondessem uma pergunta bem singela: “Quais são os dez melhores contos brasileiros?”. Mário de Andrade estava entre esses escritores. Não sendo capaz de escolher apenas dez, escolheu vinte e tres e justificou dizendo: “os dez melhores contos da literatura brasileira são, pelo menos, duas dúzias”.

O escritor Luiz Ruffato recuperou a lista, recolheu os contos mencionados por Mário de Andrade e organizou um livro que saiu esse ano pela editora Tinta Negra - Mario De Andrade - Seus Contos Preferidos. Ruffato faz o texto de apresentação do livro. Interessante é olhar como esses contos refletem o gosto literário do escritor modernista e de que forma eles podem ter alguma relação com a obra dele. Mais ainda, o livro joga nova luz sobre alguns autores que não fazem parte do cânone literário - entre eles J. Simões Lopes Neto, Afonso Arinos, Valdomiro Silveira, Roque Callage, Gastão Cruls, Léo Vaz, Menotti Del Picchia, Hugo de Carvalho Ramos, Rodrigo M. F. de Andrade, João Alphonsus, Ribeiro Couto e Darcy Azambuja.

Numa sacada modernista, Mário deixou o vigésimo quarto conto em branco. O espaço deveria ser preenchido pelos leitores da revista. Pode ser que ele estivesse pensando em colocar um conto dele mesmo. No entanto, prefiro pensar que ele estava deixando uma porta aberta para o futuro. O melhor conto não só já foi escrito, como também ainda está para ser escrito.

Em tempo, Luiz Ruffato e Marisa Lajolo falam sobre esses contos hoje às 19h na Biblioteca Mário de Andrade.

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Sobre a Revista Acadêmica, existe uma história muito boa contada pelo Fernando Morais. Diz que nos idos dos anos 40, a revista literária mais importante do Brasil se chamava Dom Casmurro. Tinha sido criada por Brício de Abreu e Álvaro Moreyra e "tinha entre seus colaboradores a fina flor da literatura e do jornalismo" da época. Depois de uma briga interna Carlos Lacerda, Murilo Miranda e Moacyr Werneck de Castro deixaram a Dom Casmurro e montaram a Revista Acadêmica. Para combater a concorrência, eles trouxeram mais gente importante. Imaginem vocês como deveria ser o ambiente de euforia e disputa intelectual em torno de um assunto como a literatura.

*imagem: reprodução Google.
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terça-feira, 24 de maio de 2011

JONATHAN FRANZEN NA REVISTA ÉPOCA


A revista Época dessa semana tem um belo artigo assinado por Luís Antônio Giron sobre Liberdade, de Jonathan Franzen - disponível no site apenas para assinantes da revista. Ocupando praticamente cinco páginas da revista com belas fotos e uma rica galeria de escritores que serviram de inspiração para Franzen, o artigo repassa a trajetória astronômica do romance nos Estados Unidos e explica porque Franzen é considerado um dos maiores romancistas da atualidade - entre as razões está o fato de "dar vida a um gênero dado como agonizante após décadas de experimentação, trangressão e desgaste".

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Em tempo, Liberdade chega às livrarias essa semana.

*imagens: reprodução da revista Época.
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segunda-feira, 23 de maio de 2011

FLIPADAS


Não comentei antes por falta de tempo, mas achei a programação da FLIP muito boa. A maioria das mesas será voltada para a ficção em prosa, com direito a escritores que estão levando o romance a novos caminhos. O maior número de autores de língua latina deixou a festa com a cara do curador, Manuel da Costa Pinto. No ano passado, depois de ter sido anunciado como o novo curador, ele disse que tinha vontade de trazer mais escritores de língua francesa e italiana.

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Abertura
Outra tacada de mestre que resultou positivamente para a curadoria foi ter Antonio Candido falando sobre Oswald de Andrade na mesa de abertura. Como se sabe, Candido raramente participa de eventos como esse e não gosta muito de falar em público. Ele pediu que a imprensa evitasse o assédio. Vamos ver como será em Paraty.

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Lamento 1
Uma pena que o escritor Michel Houellebecq e o crítico Franco Moretti tenham cancelado suas participações. A presença deles iria coroar o evento. Houellebecq iria lançar O mapa e o território, romance ganhador do Prêmio Goncourt e envolto em polêmicas sobre plágio da Wikipédia. É bom lembrar que a literatura francesa, que parecia meio moribunda, está dando sinais de renovação. Já a vinda de Franco Moretti iria garantir um brilho crítico no debate contemporâneo sobre o romance. Além disso, teríamos a chance de ver publicado mais um volume da obra Il romanzo que teve curadoria dele - saiu por aqui pela Cosac & Naify apenas o volume 1 - A cultura do romance.

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Estrelas pop
O mais curioso foi a enxurrada de comentários após o anúncio da programação final: só se falava em David Byrne. O músico garantiu o lado pop da festa e ficou com uma mesa no domingo - para segurar a presença do público. Daqui a pouco devem surgir rumores não confirmados de que ele poderá fazer um show secreto em Paraty (o que não deixaria de ser muito bacana, afinal existe coisa mais antropofágica do que David Byrne).

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Lamento 2
A ficção brasileira ficou apenas duas mesas: uma com Marcelo Ferroni, Edney Silvestre e Teixeira Coelho e outra com João Ubaldo Ribeiro. Estamos bem representados na festa, mas sempre fica aquele gostinho de quero mais. No entanto, o lamento é passageiro se pensarmos na quantidade de eventos literários que estão acontecendo em todo o país. Chance para ouvirmos nossos escritores não devem faltar.

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Duas mesas particularmente interessantes
Pola Oloixarac com valter hugo mãe e João Ubaldo Ribeiro.

*Imagem: Tenda dos Autores / reprodução do Flickr da FLIP, créditos: Walter Craveiro.
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sexta-feira, 20 de maio de 2011

GARY SHTEYNGART - UM PICARO RUSSO

Gary Shteyngart já chegou a ser comparado aos escritores russos Nikolai Gogol e Vladimir Nabokov, não exatamente por ter nascido na Rússia, mas pelo grande manejo literário dos seus livros e pelo humor particular que lhe é bem característico.

Shteyngart nasceu em Leningrado e imigrou para os Estados Unidos aos 7 anos. Ele devorou avidamente quase todos os livros de escritores russos, lidos em língua original. Considerando esses aspectos, não é à toa que seus romances contem histórias de jovens judeus russos que imigram para os Estado Unidos em busca de amor, de uma vida melhor ou de uma nova identidade - suas personagens são uma espécie de alter ego. Porém, o que poderia funcionar como um romance sério e de enaltecimento do modo de vida americano, acaba se tornando uma verdadeira epopéia folhetinesca no melhor estilo romance picaresco.

Em O pícaro russo (The russian debutante’s handbook no original, publicado em 2002 nos Estados Unidos e por aqui em 2006 pela Geração Editorial), as trapalhadas de Vladimir Girshkin ironizam o declínio do comunismo, o consumo capitalista desenfreado e a xenofobia aos imigrantes ao redor do mundo. Em Absurdistão, Misha Borisovitch Vainberg é a metralhadora politicamente incorreta que dispara contra o multiculturalismo americano (em certa medida mundial) simbolizado pela república de Absurdsvanï, o Absurdistão.

Não demorou muito para que Shteyngart se tornasse um autor aclamado. Para coroar a boa fase, Shteyngart emplacou seu nome na famosa lista de jovens escritores da revista New Yorker e lançou no ano passado o romance Super sad true love story. Foi bastante elogiado pela crítica americana e eleito um dos melhores romances do ano. Dessa vez, o protagonista é Lenny Abramov, um homem de meia idade obcecado por três coisas: seus livros, a ideia de ter uma vida eterna e uma garota coreano-americana chamada Eunice Park. O relacionamento multicultural dos dois é a tal história de amor super triste. O romance tem um formato bastante curioso, pois os capítulos se alternam: ou são os diários de Lenny ou são a correspondência online de Eunice.

A fim de promover Super sad true love story, os editores colocaram na internet um trailer hilário em que o próprio Shteyngart aparece fazendo piada ao lado do ator James Franco.



O negócio funcionou tão bem que ele repetiu a dose num novo trailer. Dessa vez ele faz graça ao lado do ator Paul Giamatti para promover a edição do livro em brochura. Acho que só Shteyngart é capaz de encarnar as personagens que ele mesmo cria.



A editora Rocco, que publicou Absurdistão, promete lançar ainda este ano Uma história de amor real e supertriste - segundo andei lendo está prevista para junho.

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Outra coisa curiosa a respeito de Shteyngart são suas leituras. A livraria Strand Books (nos Estados Unidos) pediu a ele que indicasse alguns livros para seus clientes. Além dos russo, alguns os escolhidos foram:

Americana, de Don DeLillo
Cloud atlas, de David Mitchell
Jeff em Veneza, morte em Varanasi, de Geoff Dyer
1984, de George Orwell
In persuasion nation, de George Saunders
Afluentes do rio silêncioso, de John Wray
Unnamed, de Joshua Ferris
E nós chegamos ao fim, de Joshua Ferris
Afogado, de Junot Diaz
Não me abandone jamais, de Kazuo Ishiguro
O teatro de Sabbath, de Philip Roth
Vida vadia, de Richard Price
Os filhos da meia-noite, de Salman Rushdie
Pnin, de Vladimir Nabokov
Day of Oprichnik, de Vladimir Sorokin

*vídeos: reprodução do youtube.
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quarta-feira, 18 de maio de 2011

LITERATURA CABEÇA


Enquanto estamos aqui sentados discutindo o fim da crítica e o aumento no número de leitores no Brasil a revolução está acontecendo lá fora. Começou hoje no Rio de Janeiro o projeto "Oi Cabeça", com curadoria de Heloisa Buarque de Holanda e Cristiane Costa. A ideia é discutir justamente o futuro da literatura e da crítica com gente que está botando a mão na massa.

Até o fim do ano, o projeto pretende reunir uma vez por mês especialistas do Brasil e do mundo para conversar sobre temas que deixam qualquer crítico do sáculo passado de cabelo em pé.

O primeiro encontro rolou ontem com o tema "O fim da crítica e o auge dos fãs", com Nancy Baym, Mauricio Mota e Pedro Carvalho. Nancy, por exemplo, é uma norte-americana especialista no fenômeno chamado fandom - quando um grupo de pessoas (fãs) se reúne em torno de um determinado assunto. O assunto rende discussão, pois admite que a crítica não importa mais e o fã é o agente que consegue fazer verdadeira mobilizações em torno do seu objeto de desejo. Assim qual necessidade tem um crítico mediador?

Os próximos encontros têm os temas: "Novos espaços para a literatura", "Realidade aumentada", "Rumos da cibercultura", "Literatura expandida", "Os novos gêneros e-literários" e "Personagens, estratégias narrativas e engajamento nos games". Em dezembro acontece um labfest - espaço para troca e criação de novas ideias.

Vale lembrar que a Heloisa Buarque de Holanda não embarcou nessas ideias por esses dias. O envolvimento dela com as novas mídias vêm de longa data. É importante garantir o aparecimento de um evento como esse independente dos frutos que ele pode gerar.

*imagem: foto de Nancy Baym/reprodução.

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terça-feira, 17 de maio de 2011

VEJA ESSE LIVRO!


A revista Veja fez uma matéria de capa no mínimo divertida - Por que ler ainda é decisivo. A tese da reportagem diz que o número de jovens que gostam de ler está se multiplicando. E adivinhem, eles começaram lendo Harry Potter, Crepúsculo e afins. Depois de pegarem hábito e gosto pela leitura passaram a obras clássicas que estão longe de serem classificadas como mera literatura de consumo etc. A mesma coisa vale para adultos que foram atraídos pelos livros de autoajuda ou autoajuda romanceada. Hoje, eles também estão em busca de autores clássicos.

Deixando um pouco a tese, fiquei com pena do Machado de Assis. De acordo com a reportagem, ele é constantemente citado como um estorvo, alguém que só afasta as pessoas da livros por causa da leitura obrigatória no colégio. Alguém precisa fazer alguma coisa para descolar essa imagem dele. Por enquanto, acho que nem Woody Allen conseguiria?

Completando a reportagem, a revista criou uma lista de sugestões do tipo "um livro puxa outro" (reproduzida acima - para quem quiser acompanhar). Me diverti muito olhando os mapinhas, porque a primeira vista me parece tão incoerente que um leitor de Nicholas Sparks chegue a ler Guerra e paz, do Tolstói. Não estou duvidando, acho mesmo um caminho natural, mas deve levar tempo até que esse leitor chegue a esse livro. Enfrentar a aridez das infinitas páginas da história da Rússia exige tempo, vontade e muita paciência.

Segundo as sugestões, um leitor que começou lendo Harry Potter, pode muito bem passar a Sherlock Holmes (de Conan Doyle), seguido por A ilha do tesouro (de Robert Louis Stevenson), O Aleph (de Jorge Luís Borges) e terminar com As cidades invisíveis (de Ítalo Calvino). Será mesmo?

Um outro caminho sugere que um leitor da saga Crepúsculo pode ler Drácula (de Bram Stocker), seguido de O médico e o monstro (de Robert Louis Stevenson), A metamorfose (de Franz Kafka) e A montanha mágica (de Thomas Mann). Taí um caminho que eu acho bem mais provável.

Tem esse: começou lendo A menina que roubava livros, segue para O diário de Anne Frank, A trilogia de O tempo e o vento (de Érico Veríssimo), O memorial do convento (de José Saramago) e Austerliz (de W.G. Sebald). Esse deve ser um leitor bem avançado, não é?

Fico imaginando o contrário: Será que em algum momento um leitor de Ricardo Piglia vai chegar até A cabana?

*imagem: reprodução.

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domingo, 15 de maio de 2011

JONATHAN FRANZEN NA GQ



A edição brasileira da revista QG tem um artigo curtinho escrito por Chuck Klosterman falando sobre Jonathan Franzen. O encontro deles aconteceu num trem quando Klosterman foi entrevistar Franzen na ocasião do lançamento de Liberdade. O artigo é um pouco raso, quase não toca em assuntos propriamente literários: fala de fama, da capa da Time e fica mais centrado na figura do escritor mais badalado dos últimos anos - um pouco menos que Roberto Bolaño, eu diria.

Klosterman diz que Franzen "é um pouco arrogante. Mas não intragável" e que ele não curte "nem um pouco" fazer turnês para lançamento de livros.

Acho que o momento mais curioso é quando Franzen revela seu gosto musical. Ainda jovem ele ouvia Moody Blues, Grateful Dead e Talking Heads, mas hoje só ouve música na academia. Figuram no seu playlist, segundo o artigo, Jackson 5, M.I.A., Grace Jones, Rolling Stones, Steely Dan e Mission of Burma.

***

Por ocasião do lançamento de Liberdade, a Companhia das Letras vai relançar As correções em edição econômica. Esse livro não causou o mesmo burburinho, exceto pela comentada recusa de Franzen em aparecer no book club da apresentadora Oprah Winfrey. De qualquer forma é uma obra-prima e teve diversos elogios mais "contidos" de crítica e público.

A capa dessa edição econômica é bem bonita. Não dá vontade de trocar a edição de 2003?

*imagem: reprodução.

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quarta-feira, 11 de maio de 2011

A LITERATURA VAI AO CONGRESSO


O debate sobre crítica literária e literatura brasileira devem continuar no 3º Congresso Internacional de Jornalismo Cultural que acontece na semana que vem em São Paulo. Haverá duas mesas sobre o assunto: a primeira tem como tema a pergunta “Qual o papel da crítica literária hoje? Seus equívocos e seus acertos”, com Ignácio de Loyola Brandão, Alcir Pécora, Daniel Piza e mediação de Cassiano Elek Machado; a segunda tem como tema a pergunta “O que quer e o que pode a literatura brasileira hoje. Ela tem autonomia estética e influência social?” com Fabio de Souza Andrade, Noemi Jaffe, Rodrigo Lacerda e mediação de Raquel Cozer.

Promete ser o ponto alto do congresso para os minimamente interessados nesses dois assuntos. Certamente as questões levantadas na série Desentendimento vão ganhar corpo novamente - comentei em duas partes: I e II.

Fora isso, o congresso conta com a presença do escritor espanhol Enrique Vila-Matas (mediação de Paulo Roberto Pires) e do escritor cubano Pedro Juan Gutiérrez (mediação de Xico Sá).

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**ATUALIZAÇÃO: O Congresso tem um hotsite que fará toda a cobertuda do que está acontecendo no SESC. Inclusive tem transmissão ao vivo de algumas palestras, entrevistas gravadas e programas ao vivo. O link é esse aqui http://tinyurl.com/5vtmqz3

*imagem: reprodução.
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terça-feira, 10 de maio de 2011

HARRY POTTER PARA APRESSADINHOS

Confesso que eu nunca li nenhum dos sete livros do Harry Potter - acho que não tenho mais idade também. Mas acho que vi um dos filmes - não me lembro exatamente qual deles. Daí, fuçando na internet vi que o pessoal do Flavorwire fez um post com os cinco primeiros livros da série em formato de quadrinhos. Não resisti, tive de compartilhar com vocês. Trata-se de um resume hilário e com certas liberdades poéticas para quem quer saber mais sobre o jovem bruxinho, mas tem muita preguiça, está velho ou anda sem nenhum tempo para ler. Os belos desenhos foram feitos pela artista Lucy Knisley - parece que ela ainda vai completar a série com os outros dois livros.

Recomendo dar uma olhadinha, não leva nem cinco minutos.

A PEDRA FILOSOFAL























A CÂMARA SECRETA























O PRISIONEIRO DE AZKABAN























O CÁLICE DE FOGO























A ORDEM DA FÊNIX























*imagem: via Flavorwire.
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segunda-feira, 9 de maio de 2011

NOTAS #25



Lolita na web
Um vídeo raro mostra Vladimir Nabokov comentando a capa de diferentes edições estrangeiras de seu romance Lolita. O vídeo acima é apenas uma parte de um programa chamado “USA: The Novel”. Além de comentar as capas, o escritor lê um trecho do mesmo livro e ainda fala sobre diversos outros assuntos. O programa na íntegra está disponível em http://tinyurl.com/3fc9h8q

Ficção eletrônica
O jornalista e escritor Luís Henrique Pellanda está com um projeto muito bacana: levar a literatura aos domínios eletrônicos. A idéia é integrar música com leitura de textos e disponibilizar o material no site http://eletroficcao.wordpress.com . O teaser de lançamento é eletrizante. Já tem bastante coisa no site.

A voz da sabedoria
Como diz aquele velho ditado: "se conselho fosse bom ninguém dava, vendia". No entanto, quando o conselho vem de alguém como V.S. Naipaul é mais prudente ficar bem atento. O escritor britânico nascido em Trinidad e Tobago tem sete conselhos para escritores iniciantes: não escreva frases longas; cada frase deve fazer uma afirmação clara; não use palavras muito grandes; nunca use palavras cujo significado você não tem certeza; os iniciantes devem evitar o uso de adjetivos, exceto os de cor, tamanho e número; evite o abstrato; todo dia, durante pelo menos seis meses, pratique a escrita desta maneira: palavras pequenas, curtas e claras, frases concretas.

Listas 1
Está na hora de matar a saudade das listas do Flavorwire. Dessa vez, o site preparou uma lista com dez escritores japoneses que você precisa conhecer. Entre eles há escritores já bastante conhecidos por aqui como Kenzaburo Oe e Haruki Murakami; escritores sendo descobertos como Ryu Murakami; e escritores pouco divulgados como Shintaro Ishihara e Natsuo Kirino. A lista completa está disponível em http://tinyurl.com/3g6aynv

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Outra lista interessante do mesmo Flavorwire: as dez melhores entrevistas da revista Paris Review. Reproduzo aquia lista: Jonathan Franzen, Vladimir Nabokov, Marilynne Robinson, Michel Houellebecq, William Faulkner, Kurt Vonnegut, Ralph Ellison, Jorge Luis Borges, Toni Morrison e Joan Didion. A lista completa está disponível em http://tinyurl.com/5tkf2yz

Listas 2
O escritor Edward Docx fez uma lista para o Guardian com os dez personagens mais dementes da história da literatura. A lista foi encabeçada por Don Quixote, personagem de Miguel de Cervantes. Outros citados são: Mickey Sabbath, personagem de Philip Roth; Gregor Samsa, do livro de Franz Kafka; Charles Kinbote, de Fogo pálido - Vladimir Nabokov; Alex, do livro Laranja mecânica - Anthony Burgess. Claro que não poderia faltar o Hamlet do Shakespeare. A lista completa está disponível em http://tinyurl.com/42jx5kg

Vila-Matas em São Paulo
O escritor espanhol Enrique Vila-Matas está com as malas prontas para visitar o Brasil. Ele vem a São Paulo para participar de dois eventos: palestra no III Congresso Internacional de Jornalismo Cultural no dia 17 de maio; e evento de lançamento do livro Dublinesca no Instituto Cervantes no dia 18 de maio. O evento contará com uma palestra e sessão de autógrafos. O jornal Rascunho publicou um trecho inédito do romance Dublinesca disponível em http://tinyurl.com/4ywprzf
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sábado, 7 de maio de 2011

MACHADO DE ASSIS INFLUENCIOU WOODY ALLEN?



Não importa que o The New York Times Book Review tenha comparado Machado de Assis a Flaubert, Thomas Hardy ou Henry James. Nem que o New York Times tenha classificado o livro como "uma obra-prima da ironia epicurista". Woody Allen disse que só leu Memórias Póstumas de Brás Cubas porque o livro era fino. Salvo por poucas páginas! Ainda bem que não mandaram para ele um exemplar d'Os Sertões, de Euclides da Cunha. Seria descartado no primeiro contato.

Finda a tarefa, Woody falou que o livro era muito original e poderia ter sido escrito ontem - pela inventividade e tudo o mais. Sorte de Woody não ter passado a vida sem conhecer o nosso maior clássico. E tem gente que acha Machado de Assis velho, pode? Isso para não citar aquelas pessoas que acusam Machado de estragar o gosto dos adolescentes pela leitura. Ora vejam só!

O que eu mais me intrigou mesmo nessa história foi as semelhanças entre o livro do Bruxo do Cosme Velho e a obra de Woody Allen. Reparem: a narrativa metalinguística e a conversa com o leitor, tão típicas em Machado, sempre figuram nos filmes do Woody; A conturbada relação de amor de Brás com Marcela e Virgília serviriam como uma luva para o cineasta americano; e o que dizer do capítulo "O delírio", "O velho diálogo de Adão e Eva" e tantos outros? Dignos de Zelig, não?; isso para não falar da ironia, do humor, da agilidade... não sei, começo a achar que Machado de Assis deixa Woody Allen no chinelo!

Agora, será que Woody Allen leu uma edição de inglesa ou americana? Será que tinha aquele posfácio escrito pela Susan Sontag?

*imagem: reprodução da capa das edições americana e inglesa.

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sexta-feira, 6 de maio de 2011

AS DECLARAÇÕES DE MARTIN AMIS



O escritor Martin Amis tem mesmo um senso de humor bem peculiar. Nas últimas semanas, o escritor inglês tem sido notícia a todo o momento graças as suas declarações ácidas.

Num programa de TV da BBC chamado Falks on Fiction, ele fez o seguinte comentário sobre literatura infantil:



"As pessoas me perguntam se eu nunca pensei em escrever um livro infantil. Eu digo, 'Se eu tivesse uma grave lesão cerebral eu bem que poderia escrever um livro infantil', mas por outro lado a idéia de estar consciente de para quem você está direcionando a história é um anátema [maldição] para mim, porque, na minha opinião, a ficção é liberdade e quaisquer restrições sobre isso são intoleráveis​​. Eu nunca iria escrever sobre alguém que me obrigou a escrever em um registro inferior do que o que eu posso escrever." (tradução minha)

O comentário causou certa revolta em alguns ingleses. Pensando nisso, o pessoal do blog BookLust fez um desenho de Amis para cada personagem clássico da literatura infantil. O resultado não deixa de ser engraçado, sobretudo pela feição emburrada de Amis e seu inseparável cigarro. Os desenhos fizeram tanto sucesso que até foram paras nas páginas dos jornais ingleses.

Na semana passada, em pleno auge do assunto casamento real, Amis falou poucas e boas sobre o Reino Unido e sua monarquia para o Le Nouvel Observateur (o jornal é francês, mas o link da notícia é do Guardian). Parece até que está preparando um livro sobre o assunto. Detalhe: Amis está de mudança da Inglaterra, vai morar em Nova York.

Também na semana passada, ele publicou um artigo no Guardian falando sobre Christopher Hitchens. Dessa vez foi por uma razão nobre, ele elogiou a inteligência e engenho retórico do amigo - tem até uma foto dos dois juntos num bar em 1985.

Deixando as polêmicas de lado, está saindo por aqui A viúva grávida - seu livro mais recente que saiu na Inglaterra no ano passado.

*imagem: reprodução do blog Booklust.

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quinta-feira, 5 de maio de 2011

ENTÃO, VOCÊ QUER SER CRÍTICO LITERÁRIO? (2)


Ontem falei sobre a inflação simbólica das narrativas e uma literatura maior ou menor no Brasil. Hoje termino de comentar outras ideias que apareceram no debate da série Desentendimento e no artigo do caderno Prosa e Verso.

***

Tradição / Inovação

Pécora tem razão quando diz que a literatura "não tem como se fingir de recém-nascida, livre para não ter memória e amar integralmente a si própria como invenção de grau zero". A questão aqui pode ser explicada pela falta/excesso de repertório cultural do escritor quando produz algo ou pela falta de manejo do crítico quando ignora o diálogo daquela obra com o seu tempo e com a tradição que a precede.

O apagamento do passado e o esquecimento da história são os males do nosso tempo moderno/pós-moderno que contaminam todas as áreas do conhecimento humano. Não são um privilégio da literatura, certamente. Pior para ela cuja origem está na antiguidade clássica - ou antes mesmo, se pensarmos nas narrativas orais.

Acontece que desde o começo do século XX "fazer o novo" é a palavra de ordem. Todo escritor pensa em algum dia superar o que ficou para trás na literatura. Mas o peso da tradição e as inovações trazidas pelo século XX (que já se tornaram tradição faz tempo) não deixaram muito espaço para novas invenções.

A inovação, no sentido de superação, vive uma espécie de colapso e percebemos que as coisas na história não seguem sempre em linha reta, progressivamente rumo ao futuro glorioso.

Não há saída para romper com a representação subjetiva ou objetiva da realidade. Para que isso aconteça precisamos de uma transformação na nossa humanidade, nas nossas percepções do mundo. Independente de inovações linguísticas e modificações nas categorias narrativas, contar histórias é algo intrínseco ao ser humano: não acaba e não cansa.

Reforço essa ideia com uma citação do Tao Lin, um escritor americano. Elas estão num ensaio para o The New York Observer chamado Does the Novel Have a Future?. Partindo de perguntas como "que tipos de romances existem hoje?" ou "qual o futuro do romance?", ele constrói argumentos para demonstrar como esse tipo de discussão no desvia daquilo que é mais importante: escrever. Vou colocar abaixo um trecho que traduzi livremente, meio ao pé da letra:

"Um certo discurso literário, sobre o que os outros devem ou não fazer com sua arte, provavelmente vai sempre existir como uma distração do ato de escrever romances.

(...)

Romances - e memórias - são talvez os relatos mais abrangentes que os seres humanos podem transmitir, de suas experiências particulares, para outros seres humanos. Nestes termos, há apenas um tipo de romance: a tentativa humana de transferir ou transmitir alguma parte ou a versão do seu mundo de númeno para outro do mundo do númeno.

(...)

Portanto, eu atualmente me sinto mais interessado na leitura/criação de romances que não são melhorias ou inovações de outros romances. Eu quero ver cada romance potencial como definitivamente e inevitavelmente único, aperfeiçoável apenas em relação a si mesmo e só a partir da perspectiva singular do seu criador. Eu quero aprender sobre a experiência única de um outro ser humano a partir de relatos que ele mesmo fizer enquanto animadamente ciente de que só ele, independentemente do que os outros estão pensando ou fazendo, tenha acesso sobre o que ele esta relatando".
Pode ser que em algum lugar, nesse exato momento, exista alguém "fazendo o novo". Porém, contar história interessantes é tão importante quanto. Isso retira das nossas costas a responsabilidade de fazer obrigatoriamente algo novo. A imposição que parece que não deixa com que a gente avance.

Cabe ao escritor a tentativa de dialogar com o que existiu, recombinando e recomeçando tudo outra vez.

***

Da crítica

A briga dos escritores com a crítica, dos leitores com a crítica e dos críticos com a crítica, está enraizada no esvaziamento do seu discurso que oscila ora entre o jargão acadêmico e ora entre repetição de esquemas interpretativos e releases jornalísticos.

Alguns torcem pelo fim da crítica e alguns já deram ela como morta. Mas quando uma coisa desaparece é que ela ganha mais importância. Eis uma ideia que aparece nos diários do escritor Ricardo Piglia, que encontrei no blog Todoprosa, do Sérgio Rodrigues:

“A crítica literária é a mais afetada pela situação atual da literatura. Desapareceu do mapa. Em seus melhores momentos – com Iuri Tinianov, Franco Fortini ou Edmund Wilson – foi uma referência na discussão pública sobre a construção do sentido em uma comunidade. Não resta nada dessa tradição. Os melhores – e mais influentes – leitores atuais são historiadores, como Carlo Ginzburg, Robert Darnton, François Hartog ou Roger Chartier. A leitura dos textos passou a ser assunto do passado ou do estudo do passado.”
Antes de sumir, a crítica precisa se reinventar - tanto quanto os escritores. O próprio Pécora falou sobre isso numa entrevista para a revista "Floema", da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (encontrei via Prosa e Verso e recomendo a leitura). Lá ele diz que a crítica precisa ser exercida em várias frentes, precisa trabalhar para fazer surgir "um conjunto de metáforas e formas novas de lidar com eles" e o mais interessante:

"(...) também acho que a crítica de cultura deve ocupar prioritariamente o campo da língua portuguesa e não o do jargão de área acadêmica. Para que o espaço de linguagem crítica no jornal seja mais do que uma glosa descorada do que já existe (descoradamente) no espaço acadêmico, para que esse espaço possa funcionar não só como orientação do consumo e do gosto, mas também como lugar de reflexão atenta à especificidade dos novos objetos do presente, são necessários estudo e erudição".
Não deixa de ser uma saída interessante, mas que exige tempo e esforço.

Também acho que as inúmeras discussões a respeito de mercado editorial, dos livros e leitores eletrônicos, do fim da literatura, do fim do romance também nos desviam do que está acontecendo na literatura agora. Seria interessante ouvir o que um escritor tem a dizer sobre o seu processo de trabalho, suas intenções, sua pesquisa e todo o resto.

Outra coisa que falta à crítica é acabar com essa indisposição para enfrentar e vasculhar o que está sendo produzido. O Michel Laub, novamente, tem um texto bem interessante sobre isso para o blog da Companhia das Letras - Os clichês do escritor e os clichês da crítica:

"O uso do clichê e do jargão é apenas um exemplo da subjetividade intrínseca a qualquer julgamento literário. (...) ok, mas o resultado de tais premissas e escolhas é bom ou ruim, funciona ou não dentro do que se propõe — nas regras que o autor determina, e não o crítico —, e por quê?

(...)

Existem os best-sellers de público, com fórmula reconhecível por qualquer leitor com experiência, e os best-sellers de crítica, que se escondem — às vezes por décadas e séculos — entre a chamada “literatura de qualidade”. Por razões que valeriam um texto à parte, no entanto, é sempre possível encontrar em algum ponto deles a prova de que o escritor capitulou — em termos ideológicos, morais e técnicos, por falta de talento, esforço ou coragem — ao o pior dos clichês, que é o do imaginário comum de uma época. Ou seja, aquilo que os outros, incluindo a crítica, esperam que digamos. Quando tudo o que deveríamos perseguir é aquilo que, usando meios que podem parecer os menos literários possíveis, queremos e precisamos dizer."
Alguém, não me lembro quem, num desses congressos culturais, disse que a internet (blogs e redes sociais) é livre para criar críticas pois tem espaço (coisa que está sumindo dos jornais e revistas) e não está ligadas a nenhuma instituição. No entanto a internet sofre de um mal inerente a ela mesma: falar indefinidamente sobre um determinado assunto sem acrescentar nada de relevante - a tal inflação simbólica das narrativas. Como muitos debates críticos estão migrando para a internet, seria natural que essas questões não sejam deixadas de lado. Só que esse ainda é um terreno meio movediço.

Irrelevância das narrativas

A preferência da leitura crítica à produção de ficção (de literatura) me faz lembrar a briga de Lee Spiegel no The New Yorker Observer. Entre tantas coisas, o crítico cultural americano também disse que prefere ler não ficção a ficção, e diz ainda que a não ficção está ocupando o lugar da ficção - um gênero irrelevante, peça de museu para os dias de hoje. Será mesmo?

Não quero arriscar dizendo autores representativos de alguma coisa. Mas no final do ano passado, o Caderno 2, do Estadão, fez uma reportagem bem interessante sobre o romance dessa primeira década do século XXI.

E para quem quer entender mais sobre o que aconteceu e está acontecendo na literatura brasileira, recomendo um texto do Sérgio Rodrigues, do Todoprosa - Notícia da atual literatura brasileira: instinto de internacionalidade. Ele resume o embate dos nossos escritores em encontrar uma saída para impasse da irrelevância da narrativa nacional.

Existe espaço para o que é bem realizado, só precisa haver tempo para acontecer e boa vontade para avaliar.

*imagem: reprodução.
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terça-feira, 3 de maio de 2011

ENTÃO, VOCÊ QUER SER CRÍTICO LITERÁRIO? (1)


Os argumentos de Alcir Pécora em relação a crise da literatura contemporânea brasileira (e em certa medida mundial, por que não?) causaram um pequeno beco sem saída. Quem não responde aos argumentos do crítico parece que atesta o fato de que vivemos um momento de conformação total. Por outro lado, quem responde acaba contribuindo para a tal inflação da "bolha de produção simbólica de hoje". O impasse vale mais para a internet - blogs e redes sociais - pois me parece que foi aqui que o falatório ganhou mais corpo. Nos jornais e revistas, apenas o Prosa & Verso e a coluna Painel das Letras, da Ilustrada, tocaram no assunto.

Seja como for, o debate da série Desentendimento e o artigo no Prosa & Verso serviram para reafirmar, reforçar e trazer à baila algumas ideias que incomodam muita gente e circulam soltas no meio acadêmico, nas críticas de jornal/revista e nas mesas dos botequins. Qualquer pessoa que lida com literatura vive as voltas com essas ideias - ou pelo menos deveriam viver. Não gostaria que o debate esfriasse porque dele podem brotar novas ideias e bons argumentos.

Na falta de conseguir articular um texto longo, montei uma colcha de retalhos de reflexões alheias que servem como diálogo para a situação apontada por Pécora. Não quero definir ou encerrar o assunto, acho difícil alguém fazer isso. Os textos nem sempre são reações diretas a série Desentendimento ou ao artigo. Fui catando por aí o que me parecia significativo, mais interessante. Será que também vou contribuir para a "inflação simbólica das narrativas"?

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Sobre a inflação simbólica das narrativas

A tal "inflação simbólica das narrativas" é uma manifestação da era da internet. A invenção dos blogs e redes sociais foi aos poucos detonando a importância vertical da figura do crítico e causou uma horizontalização nos discursos, conversas, comentários, opiniões, etc. (peguei a ideia emprestada do Alexandre Matias, editor do caderno Link do Estadão).

As ferramentas de comunicação abriram portas para que todas as pessoas pudessem manifestar a sua voz - independente de terem algo importante a dizer. Consequentemente ficamos fissurados em buscar, compartilhar e opinar sobre tudo o que nos cerca. É por isso que postamos em blogs e redes sociais as nossas conversas privadas e as nossas ações, antes mesmo delas acontecerem de fato.

Não podemos impedir. É um processo sem volta que está causando uma série de transformações na leitura/produção de literatura. Somente com o tempo vamos saber analisar se essas mudanças são boas ou ruins e para onde elas estão nos levando. Nesse momento, precisamos aprender a conviver com elas. Tem gente acompanhando de perto e discutindo tudo isso em congressos, encontros, simpósios, palestras, livros e também na internet.

Até aproveito para comentar a falta de debates destinados ao assunto "literatura e internet" nesses congressos de cultura digital. Se não me engano, só na última edição da Campus Party aconteceu uma mesa, meio tímida, dedicada ao tema.

Acho interessante um post do escritor Michel Laub que aborda, ainda que de forma breve, a interação entre a literatura e a internet - Três (possíveis) motivos para a internet mudar a literatura. Pode ser que algumas direções estejam apontadas ali.

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Maior / Menor

A bronca do Álcir Pécora também tem razão de ser. Todo mundo (leitores, escritores, editores, críticos e livreiros) está esperando por um escritor que seja o novo Guimarães Rosa ou a nova Clarice Lispector. Alguém que ponha a literatura em risco e mostre o inesperado. É saudável para a nossa literatura que esse nível de exigência exista e tenha o seu lugar garantido. É isso que permite elevar a qualidade da nossa produção literária. No entanto, não podemos desprezar o lugar da experimentação, nem negar a possibilidade de erro de um escritor em formação, nem impedir que os defeitos da nossa literatura apareçam.

Reconhecemos o lugar periférico da literatura brasileira no mundo. Portanto, exigir dos nossos escritores que sejam excelentes e que apresentem soluções originais o tempo todo, acaba gerando uma espécie de esterilização da criação - ao menos essa é a impressão que isso me causa. Parece que a crítica quer matar aquilo que precisa existir a fim de proporcionar o aparecimento do novo Guimarães Rosa ou da nova Clarice Lispector. O que leva tempo.

No entanto, o fato de garantir a existência de uma literatura "menor" (mediana ou ruim) não quer dizer que o novo, o instigante e o arriscado vá surgir dali. Dizendo de outra maneira, a existência de literaturas "menores" garante saúde ao mercado editorial e pode servir de trampolim para o aparecimento de algo "maior".

A ideia não é minha, achei num texto bem interessante do escritor Antonio Xerxenesky - Pelo luxo de uma literatura do tipo “menor”. Além de muito argumentos certeiros, há um comentário de Roberto Bolaño que ilumina a nossa falta de espaço para a literatura "mediana":

“Escritores que cultivaram o gênero fantástico, no sentido mais restrito do termo, temos muito pouco, para não dizer nenhum, entre outras coisas porque o subdesenvolvimento não permite a literatura de gênero. O subdesenvolvimento só permite a obra maior. A obra menor é, na paisagem monótona ou apocalíptica, um luxo inalcançável. Claro, isso não significa que nossa literatura esteja repleta de obras maiores, muito pelo contrário, mas sim que o impulso inicial só permite essas expectativas, que logo a mesma realidade que as propiciou se encarrega de frustrar de diferentes modos.”
Embora a fala de Bolaño seja dirigida a literatura de gênero, ela pode também ser estendida para a literatura (me refiro, especificamente, a prosa de ficção) como um todo.

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O assunto é longo e enfadonho. Vou encerrar por aqui, mas continuo amanhã. Pretendo falar sobre cegueira voluntária em relação ao passado, crítica e irrelevância da ficção.

*imagem: reprodução.
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