terça-feira, 25 de junho de 2013

JULI ZEH - A ESCRITORA COM MUITAS QUALIDADES

Conheci o livro de Juli Zeh por causa de uma propaganda que eu vi na MTV. Durava quase dois minutos e tinha como trilha sonora a bombástica canção "Movement", do LCD Soundsystem. Ao final, aparecia em letras garrafais o título A menina sem qualidades.

Talvez você não saiba, mas esse esse título faz referência direta ao livro O homem sem qualidade, de Robert Musil, considerado por dez entre dez críticos como a maior obra literária do século XX. Tudo o que você quiser saber sobre esse catatau de 1280 páginas, muito mais comentado do que propriamente lido, está espalhado na internet em resenhas, análises, comentários etc. Sua beleza está escondida num complexo emaranhado de referências políticas, econômicas e culturais do período que antecipa a Primeira Guerra Mundial. Musil queria fazer um livro sobre todas as coisas que existiam no mundo, a coisa levou anos e tomou proporções gigantescas até que seu editor recortou uma parte do projeto e publicou um livro quase enciclopédico por onde desfilam toda a sorte de personagens e histórias. Tem muito humor, apesar de parecer cabeçudo.

Pois bem, a obra de Musil entrou em domínio público justamente em 2013 e quando vi a chamada na TV achei que fosse alguma homenagem. Foi assim, que cheguei em Juli Zeh. Na verdade, o livro foi publicado em 2004 e descobri que o título em alemão não é Das Mädchen ohne Eigenschaftenseu, mas Spieltrieb - uma daquelas famosas palavras alemãs que são bem difíceis de traduzir. Muito sabiamente, a edição em português traduzida por Marcelo Backes, tem um apêndice com diversas notas explicativas (que ajudam muito o leitor) e inclui uma rápida explicação do tradutor para a adoção do título. Lá, Backes conta que o título, em tradução literal, a tal palavra em alemão significa algo como 'lidicidade' ou 'pulsão para o jogo'. Acho que as duas possibilidades estariam aquém da beleza da história e dariam ao livro um ar um tanto esquisito. Foi comparando com outras traduções que Backes descobriu a versão francesa com o título de La fille sans qualités. Fazia todo o sentido, na medida em que o livro é quase uma atualização (uma releitura, uma homenagem, um estudo) ao livro de Robert Musil. Além disso, a escolha ajuda na circulação do nome de Juli Zeh - uma revelação da literatura alemã contemporânea inédita no Brasil, até então.


O enredo gira em torno do jogo perverso estabelecido por dois adolescentes Ada e Alev contra seu professor Smutek. Ela tem uma inteligência acima da média, leu todos os clássicos mais importantes da literatura aos 16 anos e sente um vazio existencial incapaz de ser preenchido. Ele encarna o duplo perfeito dela no desprezo pelas pessoas e pelo mundo. Juntos eles começam a seduzir e chantagear Smutek, um professor muito popular no colégio em que estudam.

Tal qual Musil, A menina sem qualidades é ambicioso, um liquidificador de referências culturais da música pop e da literatura tendo como mentores Musil e Vladimir Nabokov - o nome da protagonista Ada tem ligação com o romance Ada ou ardor, de Nabokov. De modo resumido, o enredo funciona como uma espécie de sátira sobre os dilemas da crítica ao mundo contemporâneo (o grande vazio de sentido que ronda as pessoas, a crise de identidade, os problemas econômicos etc.), e sobre as dificuldades da adolescência.

Muito viram uma filiação a tradição alemã de livros tendo jovens adolescentes como tema principal: vai desde a peça O despertar da primavera, de Frank Wedekind a Debaixo das rodas, de Herman Hesse; passando inclusive por outro livro de Musil, O jovem Törless.

A menina sem qualidades teve tanto impacto que já ganhou uma versão para o teatro e para o cinema. Foi Marcelo Backes quem sugeriu para o diretor Felipe Hirsch a adaptação para a série da MTV. A trilha sonora conferiu um ar demasiado 'cult'. No livro, a banda favorita de Ada é Evanescence.

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Aqui tem um trecho de A menina sem qualidades - saiu pela editora Record.

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Em tempo, além das muitas traduções do alemão para o português, Marcelo Backes acaba de publicar um novo romance, O último minuto - pela Companhia das Letras. Conta a história de um ex-treinador de futebol que, dentro da prisão, relata sua história de vida a um missionário.

*Imagem: divulgação.
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domingo, 23 de junho de 2013

A FICÇÃO ESTÁ NAS RUAS


Pode ser que meus comentários tenham chegado por aqui um pouco tarde. As ruas foram bastante movimentadas ao longo dessa semana e o assunto foi pauta obrigatória de todos os jornais, revistas, canais de TV, redes sociais e mesas de bar. Não havia uma única pessoa que não tivesse uma opinião a respeito. Que bom! Sendo assim, pode ser que tudo o que eu diga nesse momento já tenha sido dito e redito - em breve descubro. Meu "atraso" aconteceu porque também estive ocupado indo para a rua engrossar o coro dos descontentes e observar tudo o que está acontecendo. 

Tanto a interceptação de informações de usuários da internet feita pelo governo norte-americano (furo do jornal inglês The Guardian) quanto os protestos que tomam as ruas do Brasil inteiro fazem pensar, guardando as devidas proporções, no modo como a realidade está cada vez mais próxima da ficção. 

Se a minha apuração estiver correta, o primeiro romance que pregou um futuro distópico foi Admirável mundo novo, de Aldous Huxley, de 1932. Em resumo, o livro descreve uma sociedade controlada pela ciência e dividida em castas rígidas para garantir a harmonia entre todos os seus habitantes. Qualquer elemento que possa desestabilizar essa estrutura é mantido ao longe, tome como exemplo a droga "soma" que os cidadãos consomem quando sentem tristeza, insegurança etc. A frase mote é "dois gramas de soma curam tudo". Quando o livro foi publicado a história parecia muito implausível. Mais de oitenta anos depois, temos remédios que curam até tristeza, a manipulação genética é uma realidade e o controle social parece uma obsessão constante. 

Alguns anos depois, foi a vez de 1984, de George Orwell - o romance mais lembrando por qualquer pessoa quando o assunto é distopia. Tamanha popularidade foi comprovada com a notícia de que as vendas desse livro cresceram 7,000% no período de 24 horas após o furo de reportagem do Guardian. Todo mundo deve conhecer um pouco do enredo: Winston Smith, um homem insignificante e solitário, luta em vão contra as forças opressoras do regime político totalitário instituído pelo Partido que desenvolveu uma série de aparatos de controle: o Grande Irmão, um mecanismo de vigilância que registra a vida pública e privada de todos os cidadãos; o Ministério da Verdade que trabalha falsificando documentos oficiais para beneficiar o regime; o Ministério do Amor que pratica a tortura; a Novafala instituída para renomear as coisas etc. Muitos críticos enxergaram o livro como uma alegoria dos regimes totalitários da Europa e do regime comunista da antiga União Soviética. Algumas pessoas chegaram a considerar que o futuro descrito por Orwell não parecia tão distante da realidade - vide os ensaios que compõe a edição desse livro publicada recentemente pela Companhia das Letras. O tempo passou, o livro permaneceu e quando todo mundo achava que o enredo não passava de ficção surge esse furo do Guardian e a frase dita por O'Brien, um membro do Partido, a Winston ecoa pelas ruas: "só nos interessa o poder em si. Nem riqueza, nem luxo, nem vida longa, nem felicidade: só o poder pelo poder, poder puro".

Vale dizer que muitos momentos descritos na novela A revolução dos bichos também demonstram em alguma medida o controle social, a busca pelo poder e a manipulação de informações para promover uma classe dominante. Aparentemente, essa alegoria dos regimes totalitários ficou para trás e esteve colada a realidade por num determinado contexto histórico.

Voltando a 1984 e saindo um pouco do ramo da política afim de ilustrar elementos da ficção que estão virando realidade, basta considerar a captação de dados que o Google e as redes sociais praticam conosco. Por mais paranoico que possa parecer, essas ferramentas estão nos observando e nos oferecendo serviços baseado nos cliques que distribuímos pelo ciberespaço. De modo que não vai demorar muito para que todas as pessoas virem um perfil de uma página na internet. Será que existe algum livro de ficção sobre isso?

Não posso deixar de citar outros dois clássicos da distopia futurista: Fahrenheit 451, de Ray Bradbury (publicado em 1953) e Laranja mecânica, de Anthony Burgess (publicado em 1962).  Com menos força, ambos descrevem algumas situações que tem reflexo na nossa sociedade contemporânea - controle do Estado, manipulação das informações etc.

Para finalizar, a revista norte-americana The Atlantic fez um pequeno artigo dizendo que na verdade Franz Kafka, e não George Orwell, pode nos ajudar a entender melhor os últimos acontecimentos do mundo. Segundo o artigo, o livro The digital person, de Daniel J. Solove aponta que O processo, de Kafka como uma metáfora:

"[o livro] retrata uma burocracia com fins inescrutáveis ​​que usa informações das pessoas para tomar decisões importantes sobre elas e nega ao povo a capacidade de participar na maneira como as suas informação é utilizada. Os problemas capturadas pela metáfora de Kafka são de um tipo diferente dos problemas causados ​​pela vigilância. Eles muitas vezes não resultam na inibição ou na paralisia. Em vez disso, eles são problemas de processamento de informação - o armazenamento, uso ou análise de dados - ao invés de coleta de informações. Eles afetam as relações de poder entre as pessoas e as instituições do Estado moderno. Eles não só frustram o indivíduo, criando uma sensação de desamparo e impotência, como também afetam a estrutura social, alterando o tipo de relações que as pessoas têm com as instituições que tomam decisões importantes sobre suas vidas." (tradução minha).

Quero acreditar que felizmente, o mundo real é bem mais complexo do que o sistema desenhado por todos esses escritores. Muitas forças atuam na realidade. Torcemos para que a democracia garanta a mudança requerida pela vontade da sociedade civil e o mundo da ficção distópica restrito aos livros.

PS.: Não preciso explicar de que maneira esses livros servem para ilustrar a insatisfação brasileira nas ruas. Acho que está claro: burocracia, peso do Estado, manipulação das informações, aparelhos ideológicos e segue em frente.

Imagem: Reprodução de um cartaz que encontrei no Google.

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sexta-feira, 14 de junho de 2013

SIM! NÓS TEMOS UMA MUSA

Terminou hoje a votação para apontar a musa da literatura brasileira contemporânea. Teve gente que não 'curtiu' muito a brincadeira e soltou o verbo nos comentários - até de Luciano Huck e Pedro Bial me chamaram (loucura! loucura! loucura!).

Nem preciso lembrar que foi tudo uma brincadeira nada sexista (no blog da Rafaela Gimenes tá acontecendo uma eleição para escolher o muso - peguei carona na mesma ideia) para promover a beleza e o talento de dez escritoras que estão fazendo a nossa prosa de ficção acontecer. Não me canso de repetir que, em alguns momentos, a literatura se leva muito a sério e um pouco de descontração não faz mal a ninguém - pode até aproximar as pessoas que andam afastadas do assunto.

Como falei, alguns nomes ficaram de fora porque a seleção foi feita no esquema 'toró de ideias'. Teve gente que sentiu falta de nomes da poesia, mas este blog é somente sobre prosa de ficção. Faltou, por exemplo, Manoela Sawitzki, Adriana Lisboa, Carola Saavedra, Natércia Pontes e Juliana Frank. Faço um "mea culpa".

Vamos ao resultado! No total foram 805 votos - lembrando que qualquer pessoa podia votar mais de uma vez em candidatas diferentes (não tinha bloqueio).


Valeu todo mundo que votou e comentou!
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quarta-feira, 12 de junho de 2013

PARA QUEM VAI À FLIP E DECIDIU NA ÚLTIMA HORA...

E aí comprou ingressos para a FLIP? Se você esqueceu completamente da vida e perdeu a data, saiba que restam poucos ingressos para a tenda dos autores. Para minha surpresa, em menos de uma semana, até a Tenda do Telão já tem ingressos esgotados para algumas mesas (o encontro entre Lydia Davis e John Banville, por exemplo, está totalmente vendido - oba!). Portanto, se você quer ver as mesas em Paraty é bom correr.

Bom, vamos supor que você decidiu de última hora fazer as malas, comprar ingressos e participar da Festa mas não leu nenhum livro dos autores convidados. Como você pode resolver esse problema e não fazer feio? 

Para não fugir a tradição (que começou no ano passado - cof!), resolvi dar uma força e criei uma tabela relacionando livros de 17 autores de ficção que estarão na FLIP (só inclui autores de prosa de ficção e ensaio porque o blog é focado nesses gêneros). Nem preciso dizer que eu queria criar um daqueles infográficos super transados, mas não deu. O jeito foi improvisar e criar uma tabela no melhor estilo vintage.

Para entender a tabela você precisa saber que os parâmetros foram os seguintes: uma pessoa lê em média 15 páginas por hora. Usando esse dado, a tabela ficou assim:


(clique para aumentar)

Olhando mais detalhadamente, a gente pode constatar que você pode ler pelo menos dois ou três livros mesmo que seja um sujeito muito ocupado. Considere também a possibilidade de ler mais de 15 páginas por hora (usei uma média aleatória) - o que vai significar mais um livro para ler.

Não desanime, não arrume desculpa e vá ler um livro.
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quinta-feira, 6 de junho de 2013

VOTAÇÃO: MUSA DA LITERATURA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA

Na semana passada, o blog da Rafaela Gimenes organizou uma votação para eleger os musos da literatura brasileira contemporânea. Os dez concorrentes reúnem ao mesmo tempo beleza e talento suficientes que justificam a presença no páreo.

Foi pensando nisso, que resolvi organizar uma votação parecida. Portanto, cuecas de plantão, vamos eleger a musa da literatura brasileira contemporânea. Fique registrado que não estamos desprezando a beleza das escritoras das gerações antigas - Clarice Lispector, Hilda Hilst e Lygia Fagundes Telles estão na categoria hors concours. Aliás, os olhos de Lygia Fagundes Telles conquistaram até o ganhador do Prêmio Nobel, William Faulkner.

As candidatas aparecem na lista de forma aleatória, sem ordem de predileção. A seleção foi feita no esquema 'toró de ideias' - as dez primeiras escritoras que apareceram na lembrança. Use a caixa de comentários para manifestar algum nome que merecia estar na disputa e ficou de fora.

Vamos às musas:



1. Vanessa Bárbara
Além de O livro amarelo do Terminal, O Verão do Chibo (escrito em parceria com Emílio Fraia) e A máquina de Goldberg (HQ ilustrada por Fido Nesti), ela também dedica parte do seu tempo ao periódico A Hortaliça, traduz, faz preparação de texto e escreve para a revista Piauí e para o jornal Folha de SP. Ufa! O jeito tímido e irreverente são um charme a parte.



2. Marina Colasanti
Nasceu na Itália e veio para o Brasil em 1948. Aqui estudou e trabalhou como jornalista. Tem quarenta livros publicados sendo o primeiro, Eu sozinha, de 1968 e o mais recente, Passageira em trânsito, de 2010 - vencedor do Prêmio Jabuti. É uma senhora muito elegante e dona de lindos olhos claros.



3. Ana Paula Maia
É quase como a tigresa daquela canção do Caetano Veloso. Teve banda de rock, gosta de Quentin Tarantino, Dostoievsky e Sergio Leone, escreveu roteiro para teatro e cinema. Publicou quatro livros e participou de diversas antologias.



4. Adriana Lunardi
Apesar de ter nascido em Santa Catarina, já morou em Santa Maria, Porto Alegre, São Paulo e atualmente está no Rio de Janeiro. Publicou As Meninas da Torre Helsinque (1996), Vésperas (2002), Corpo estranho (2007) e A vendedora de fósforos (2011). Também trabalha como roteirista.



5. Cecilia Giannetti
Depois de participar de muitas antologias, publicou o romance Lugares que Não Conheço, Pessoas que Nunca Vi em 2007. Trabalhou como jornalista e roteirista. No momento está preparando novos romances.


6. Simone Campos
Ela é dona de uma beleza algo nerd porque usa óculos, adora videogame e ficção-científica. Publicou quatro livros e participou de muitas antologias - sem contar a participação em blogs e textos de ficção que foram escritos na internet. Sua experiência mais recente é OWNED - Um novo jogador, narrativa que usa recursos do videogame e outras mídias.



7. Tatiana Salem Levy
Nasceu em Lisboa, mas veio para o Brasil alguns meses depois. Leitora de Blanchot, Foucault, Deleuze e muitas outras coisas mais, publicou dois romances A Chave de Casa (2007) e Dois rios (2011). Antes disso, participou de diversas antologias.


8. Paloma Vidal
Ela nasceu em Buenos Aires - outra autora que veio para cá muito jovem. Tem trabalho como crítica, tradutora, leciona teoria literária e edita uma revista chamada Grumo. Publicou A duas mãos (2003), Mais ao sul (2008), Algum lugar (2009) e Mar azul (2011).



9. Clara Averbuck
Além de bonita é leitora de John Fante, Charles Bukowski, Paulo Leminski, Pedro Juan Gutiérrez, Hunter S. Thompson e João Antônio. gosta de Fiona Apple, Nina Simone, Rolling Stones, Tom Waits e Strokes. Tem cinco romances publicados.


10. Verônica Stigger
Essa gaúcha faz um pouco de tudo: trabalha como jornalista, professora e crítica de arte. Sua obra tem características e formatos muito particulares. Publicou O trágico e outras comédias (2004), Gran Cabaret Demenzial (2007), Os anões (2010) e o mais recente é Delírio de Damasco (2013).

Agora é com você ajude a eleger nossa musa. Vote no formulário abaixo e chame os amigos porque a eleição encerra na outra sexta-feira (dia 14/06).


>> VOTAÇÃO ENCERRADA <<

*Fotos: reprodução/Google Images.
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segunda-feira, 3 de junho de 2013

PRÊMIO PORTUGAL TELECOM 2013 - SEMIFINALISTAS


A curadoria do Prêmio Portugal Telecom anunciou os livros que foram classificados para a semifinal e seguem na disputa por uma vaga na final - o prêmio será no valor de R$ 50 mil reais. Depois de avaliar 450 livros, o júri inicial escolheu 63 livros divididos nas categorias poesia, romances e contos ou crônicas para compor a lista dessa primeira etapa. Em setembro será anunciada uma lista menor com os 12 finalistas - sendo 4 livros para cada categoria.

Abaixo, relaciono os indicados na "categoria romance" e apenas os livros de conto da "categoria conto ou crônica":

CATERGORIA ROMANCE
A confissão da leoa, de Mia Couto
A máquina de madeira, de Miguel Sanches Neto 
A noite das mulheres cantoras, de Lidia Jorge,
A sul. O sombreiro, de Pepetela
As visitas que hoje estamos, de Antônio Geraldo Figueiredo Ferreira
Barba ensopado de sangue, de Daniel Galera
Big Jato, de Xico Sá
Caderno de ruminações, de Francisco J.C. Dantas
Desde que o samba é samba, de Paulo Lins
Deus foi almoçar, de Ferrez
Era meu esse rosto, de Márcia Tiburi
Estive lá fora, de Ronaldo Correia de Brito
Mar azul, de Paloma Vidal
Casarão da Rua do Rosário, de Menalton Braff
O céu dos suícidas, de Ricardo Lísias
O filho de mil homens, de Valter Hugo Mãe
O mendigo que sabia de cor os adágios de Erasmo de Rotterdam, de Evandro Affonso Ferreira
O que deu para fazer em matéria de história de amor, de Elvira Vigna
O sonâmbulo amador, de José Luiz Passos
Paulicéia de mil dentes, de Maria José Silveira
Sóbolos rios que vão, de António Lobo Antunes
Solidão continental, de João Gilberto Noll

CATEGORIA CONTOS OU CRÔNICAS
A caneta e o anzol, de Domingos Pellegrini
A verdadeira história do alfabeto, de Noemi Jaffe
Aquela água toda, de João Anzanello carrascoza
Cheiro de chocolate e outras histórias, de Ronivalter Jatobá
Contos inefáveis, de Carlos Nejar
Copacabana dreams, de Natércia Pontes
Essa coisa brilhante que é a chuva, de Cíntia Moscovich
Jogo de varetas, de Manoel Ricardo de Lima
Manhãs adiadas, de Eltânia André
Mistura fina, de Vera Casa Nova
O tempo em estado sólido, de Tércia Montenegro
Páginas sem glória, de Sérgio Sant'Anna
Shazam!, de Jorge Viveiro de Castro

Para ver as os semifinalistas de poesia e os demais livros de contos ou crônicas clique aqui.

E você, concorda com a lista?

*Foto: OiFuturo Notícias/Reprodução
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domingo, 2 de junho de 2013

A PROGRAMAÇÃO DA FLIP 2013


A FLIP anunciou a programação completa da sua décima primeira edição que acontece entre os dias 3 e 7 de julho. Como os curadores gostam de lembrar, a Festa é um evento de artes, humanidades e ideias cujo eixo central é a literatura. O que não engessa os assuntos das mesas e permite mudanças, inovações, experiências e surpresas aos expectadores. Quem não se lembra do ano em que o homenageado foi o sociólogo Gilberto Freire? Não estou menosprezando a importância de sua obra, mas destacando o fato de que com essa manobra a FLIP estava ampliando seu repertório condutor. Portanto, não causa espanto os debates sobre cinema, artes plásticas e arquitetura. 

O chamariz que confere popularidade a Festa está nessas mesas não necessariamente literárias com Gilberto Gil, Maria Bethânia lendo Fernando Pessoa ao lado de Cleonice Berardinelli, Nelson Pereira dos Santos ao lado da cantora Miúcha e uma mesa com Eduardo Coutinho (gênio).

A grande surpresa foi Michel Houellebecq. Acho que ninguém esperava já que ele tinha cancelado a sua participação na Festa, em 2011, alegando problemas pessoais. Resta torcer para que nada aconteça e ele venha. Apesar de ser uma figura aparentemente serena, seus livros sempre despertam debates apaixonados. No romance Partículas elementares, por exemplo, uma das personagens diz "Se havia um país detestável, era justamente, e especificamente, o Brasil”. Em 2008, quando ele esteve no Brasil para o Fronteiras do Pensamento, falou sobre o futebol como uma válvula de escape para o instinto de combate do ser humano. Em 2010, muita gente acusou Houellebecq de plágio quando O mapa e o território ganhou o Prix Goncourt - o livro contém trechos que foram retirados da Wikipédia. Vai ser no mínimo curioso.

A tarefa de fazer Houellebecq falar está nas mãos do jovem escritor e crítico espanhol Javier Montes. Será que vão conversar em francês? Ele já morou em Paris, Lisboa, Rio de Janeiro e Buenos Aires, tem experiência com tradução e domína outras línguas. Quem quiser conhecer um pouco dele pode recorrer aquela edição da Granta com Os melhores jovens escritores em espanhol. Montes também apresentou Emilio Fraia para o mundo na edição inglesa da Granta dedicada aos escritores brasileiros.

No mais, no terreno da prosa de ficção, a FLIP apostou em nomes ainda pouco conhecido pelos leitores brasileiro como o norueguês Karl Ove Knausgård, o francês Laurent Binet, a norte-americana Lydia Davis e o francês Jérôme Ferrari (ganhador do Prix Goncourt do ano passado). Um pouco mais conhecidos são o bósnio Aleksandar Hemon cuja obra tem sido publicada por aqui pela editora Rocco desde 2002, o irlandês John Baville publicado no Brasil desde o final dos anos 80 pelas editoras Globo, Rocco e Nova Fronteira e o norte-americano Tobias Wolff que apesar de ter livros publicados em português anda meio sumido das estantes - acho que só catálogo.

No quesito popularidade, os escritores brasileiros levam vantagem. Três dos prosadores mais comentados da temporada marcam presença: Paulo Scott, José Luiz Passos e Daniel Galera. E para aqueles críticos que acreditam que a não-ficção está mais interessante do que a ficção, vale as mesas entre Lila Azam Zanganeh e Francisco Bosco, Roberto Calasso e Jeanne-Marie Gagnebin (eles vão falar sobre Kafka e Baudelaire) e Geoff Dyer e John Jeremiah Sullivan (promete ser o ponto alto da Festa no domingo em que as pessoas costumam ir embora).

No mais, a gente sempre espera que a FLIP traga um escritor por quem somos apaixonados. Só que o mercado editorial no Brasil mudou, as Bienais do Livro estão tentando se reinventar, feiras estão crescendo, eventos menores estão surgindo e as editoras estão mais sintonizadas com isso. O que significa dizer que a gente não precisa esperar só pela FLIP para ver aquele autor que a gente gosta. Logo mais, ele pode pintar por aí na sua cidade.

***

Tenho certeza que eu, você e muita gente distribuiu palpites da programação nas conversas de mesa de botecos. Como acontece com o futebol, todo mundo tem uma escalação de sua preferência na cabeça. Algo me dizia que Zadie Smith e David Mitchell finalmente viriam (dois nomes em evidência nesse momento e cujos livros mais recentes devem sair em português logo mais). Não rolou. No mais, lamentei a 'não-vinda' de Chuck Palahniuk e olhando a programação geral, teria incluído Elif Batuman (uma das melhores 'ensaistas' do momento). Faltou uma mesa que contemplasse quadrinhos. Enfim, a lista é longa. Quem sabe numa outra oportunidade.

E você? Qual seria a sua escalação?

p.s.: deixei de fora os comentários sobre poesia porque o blog trata de prosa de ficção. no entanto, sei que vai ter coisa bacana.

(Foto: Walter Craveiro/Flip)
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