quinta-feira, 31 de maio de 2012

PÓS-FLIP

Depois da FLIP, tem o tradicional pós-FLIP que nesse ano não deve ser tão animador. Seja como for, se você não vai à FLIP faça seus planos. Notícia retirada do "Painel das Letras", coluna da Raquel Cozer para a Ilustrada.

Depois da Flip 1

O pós-Flip não será dos mais emocionantes para quem esperava ver os convidados internacionais nos já tradicionais eventos organizados pelas editoras no Rio ou em São Paulo. Alguns dos principais nomes, como Ian McEwan e Jennifer Egan, vão embora logo depois da participação em Paraty. Jonathan Franzen até fica no Brasil, mas vai observar passarinhos no Nordeste.

Entre as boas notícias para os paulistanos, estão a mesa do grego Adonis, na Livraria Cultura da Paulista, na segunda (9/7), e, na terça (10/7), a do catalão Enrique Vila-Matas, no Cine Livraria Cultura, e a do espanhol Javier Cercas, na unidade Lorena da Livraria da Vila.

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O chileno Alejandro Zambra estará na livraria Blooks, do Rio, na terça pós-Flip (10/7), e na quarta (11/7) segue para São Paulo, para bate-papo na Livraria da Vila do shopping Higienópolis. A portuguesa Dulce Maria Cardoso também passa pelas duas cidades: na terça, fala na Livraria da Vila da Fradique, e, na quarta, na Travessa do Leblon.

A rodada de mesas já confirmadas termina na quinta, com o americano Teju Cole e o indiano Suketo Mehta em conversa na Vila do shopping Higienópolis. O libanês Amin Maalouf deve fazer uma miniturnê, sem datas definidas.

Achei graça do Jonathan Franzen no nordeste vendo passarinhos. Será que ele vai se aventurar por Paraty também?

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NOTAS #37


O pintor da estepe
Não é surpreendente que existam escritores que pintam ou desenham, mas que existam muitos escritores que fazem isso com talento. A lista é tão grande que ganhou até um livro muito bacana chamado
The writer's brush, organizado por Donald Friedman. Nem todo mundo sabe, por exemplo, que Charles Bukowski, Joseph Conrad, William Faulkner, Nikolai Gogol, Günter Grass, Aldous Huxley, Franz Kafka, Vladimir Nabokov e tantos outros usavam o pincel entre um livro e outro. Só consigo explicar o fato curioso de uma forma: o talento de cada um deles era tão grande que uma única forma de expressão não pode ser suficiente.

Junto dessa galeria de nomes está o escritor Herman Hesse, autor de O lobo na estepe, cujos desenhos e aquarelas (foto acima) estão numa grande exposição comemorativa no Kunstmuseum Bern, na Suíça. Ele começou a pintar como parte de uma terapia para se recuperar de um colapso nervoso. Nunca largou a atividade e fez um trabalho digno de nota.

A exposição integra as comemorações para lembrar os 50 anos da morte de Herman Hesse.



Leitura Recomendada
A equipe da revista Electric Literature resolveu expandir seu planos de unir literatura e novas tecnologias com o projeto Recommended Reading: uma revista eletrônica que publicará ficção inédita recomendada por renomados escritores e editores. Estará disponível toda semana no Kindle e gratuitamente na internet. Até agora apareceram textos de Ben Marcus, Clarice Lispector e Marie-Helene Bertino. Para promover o lançamento do projeto uma frase do conto "Watching Mysteries with My Mother", de Ben Marcus virou uma animação eletrizante.

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A frase é: “We speak of having one foot in the grave, but we do not speak of having both feet and both legs and then one’s entire torso, arms, and head in the grave, inside a coffin, which is covered in dirt, upon which is planted a pretty little stone.”

Dupla nacionalidade
Nesse mês a Companhia das Letras lança Cidade aberta, primeiro romance do escritor Teju Cole (que nasceu nos Estados Unidos, mas foi criado na Nigéria e voltou para a América nos anos 90). O livro foi bem recebido pela crítica norte-americana que o comparou a J.M. Coetzee e W.G. Sebald. A tradução ficou a cargo de Rubens Figueiredo.

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Cole estará na FLIP dividindo mesa com a escritora Paloma Vidal (que nasceu em Buenos Aires e foi criada no Rio de Janeiro). Ela já publicou três livros, mas não lança nada desde Algum lugar, em 2009, pela 7Letras. Uma pena que o jejum de três anos será quebrado somente em setembro com o romance Mar azul. O livro marca a estreia da escritora na editora Rocco e vem cercado de grande expectativa.

Mais Ulysses
No próximo sábado, 16 de junho, muita gente ao redor do mundo vai comemorar mais uma edição do Bloomsday - a festividade anual dedicada ao romance Ulysses, de James Joyce. O livro foi publicado pela primeira vez em partes no jornal The Little Review de março de 1918 a dezembro de 1920 e publicado em formato de livro por Sylvia Beach, em fevereiro de 1922, em Paris.

Ulysses acompanha um dia da vida de Leopold Bloom, 16 de junho de 1904. Por isso, o Bloomsday acontece nessa data todos os anos. Para dar o pontapé inicial nas comemorações, recomendo o audio book em inglês disponível no Archive.org. Você pode ouvir em streaming ou fazer o download - para ouvir no carro, no MP3 player ou onde você quiser.

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Como você deve saber, Ulysses recebeu uma nova tradução pelas mãos de Caetano Galindo e teve uma grande repercussão no lançamento.

*Imagem: reprodução do site do museu.

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PARA QUEM VAI A FLIP E DECIDIU NA ÚLTIMA HORA...

E aí comprou ingressos para a FLIP? Sei de gente que nessa época do ano fica desesperada com a possibilidade de perder uma mesa com um autor preferido. Para não fugir a regra, os ingressos para a Tenda dos Autores da maioria das mesas esgotou antes do final do dia. Se você esqueceu completamente da vida e perdeu a largada, não se preocupe. Sempre existe a possibilidade de pegar um telão. Os preços são bem atraentes e com a mudança da tenda do telão para a beira da praia, o lugar ficou tão legal que quase virou um oásis nos dias de calor.

Bom, vamos supor que você decidiu de última hora fazer as malas, comprar ingressos e participar da Festa. Só que tem um agravante: você não leu nenhum livro dos autores convidados. Como você pode resolver esse problema e não fazer feio?

Para ter dar uma mão eu criei uma tabela relacionando livros curtos, médios e longos (bem longos) de 21 autores de ficção que estarão na FLIP. Na verdade eu queria criam um daqueles infográficos super transados (até tentei aprender a mexer naqueles programas avançados de designer, mas não deu). O jeito foi improvisar e criar uma tabela no melhor estilo vintage - que lembra os tempos do jornal em preto e branco (ainda bem que essas coisas do passado estão na moda).

Para entender a tabela você precisa saber que: uma pessoa lê em média 15 páginas por hora. Usando esse dado, a tabela ficou assim:

Olhando mais detalhadamente, a gente pode constatar que você pode ler pelo menos dois ou três livros mesmo que seja um sujeito muito ocupado. Considere também a possibilidade de ler mais de 15 páginas por hora - o que vai significar mais um livro para ler.

Agora se você quiser ler todos esses livros até a FLIP, você vai precisar ler 175 páginas por dia - ou seja, gastar mais ou menos 12 horas do dia lendo.

Não desanime e não arrume desculpa.

*Juro que quando tiver tempo e habilidade faço um infográfico mais bonitinho, com as capinhas e tudo o mais.

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NEYMAR, TUFÃO, TELENOVELA E LITERATURA

Faz um tempão (cof!) que li um textinho do blog Farofafá (dedicado a música popular brasileira em todas as suas gradações) sobre o quanto Neymar, o jogador do Santos, com suas coreografias, participações em videoclipes, aparições em shows e programas de TV acabda sendo uma figura central na divulgação "dos mais recentes sucessos musicais brasileiros". Imagina se o Neymar aparece algum dia com um livro embaixo do braço?

Existe uma história que não sei bem se é verdadeira ou não, mas que gosto de contar para todo mundo que encontro. Juro que li esse "causo" numa resenha de Marcelino Freire para uma novela de Georges Perec - saiu nas páginas da Ilustrada. Conta a lenda que quando Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa foi adaptado para a TV (tendo Bruna Lombardi e Tony Ramos) houve uma correria às livrarias para comprar o romance. No dia seguinte, a correria foi para devolver o livro.

Será que a história se repetiria caso Neymar fosse visto lendo Os sertões, de Euclides da Cunha?

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Um jogador de futebol - da ficção, é verdade - anda falando com muito entusiasmo sobre Flaubert, Machado de Assis e até Franz Kafka. Para quem ainda não sabe, o famoso divulgador é a personagem Tufão, vivida por Murilo Benicio na novela Avenida Brasil.

As séries de TV Mad Men e Os Simpsons são craques em fazer algo parecido.

*Imagem: montagem a partir de reproduções do Google.
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QUERELAS DO BRASIL OU DA LITERATURA BRASILEIRA


Será Clarice Lispector capaz de romper com o nosso complexo de vira-latas?

Fiquei pensando nisso depois de ler um artigo no jornal Los Angeles Times sobre o relançamento de quatro livros dela nos Estados Unidos em nova tradução e novo projeto gráfico -
Perto do coração selvagem (tradução: Alison Entrekin), Água viva (tradução: Stefan Tobler), A paixão segundo G.H. (tradução: Idra Novey) e Um sopro de vida (tradução: Johnny Lorenz). Os livros estão saindo pela editora New Directions com coordenação e supervisão de Benjamin Moser que além de ser o autor da biografia Clarice, também traduziu para o inglês A hora da estrela, lançado ano passado pela mesma New Directions.

O artigo do L.A. Times, além de muito elogioso, apresenta Clarice Lispector aos leitores norte-americanos, conta um pouco do enredo de cada livro, fala das novas traduções e termina dizendo que a escritora deveria ser colocada nas prateleiras entre Franz Kafka, James Joyce e Virginia Woolf - três grandes escritores do século XX.

Aqui eu volto para o ponto inicial, pois como todo mundo sabe o brasileiro tem uma tendência a tratar sua própria literatura com certo descaso. Parece que a gente lê, crítica e comenta com muito entusiasmo os autores estrangeiros porque achamos que a literatura do lado de lá sempre é mais verdinha. Dizemos que os argentinos tem a melhor literatura da América Latina, ficamos com inveja dos chilenos e seus feitos, veneramos os norte-americanos e admiramos a literatura europeia (dividindo nossa atenção de forma equivalente entre ingleses, franceses, espanhóis e alemães). Os argentinos conquistaram a América do Norte e a Europa com Borges, Cortázar, César Aira e companhia. Os chilenos estão dando um baile com Bolaño e Alejandro Zambra. Os norte-americanos tem os seus milagrosos cursos de escrita criativa. Os europeus tem a tradição. E o Brasil?

A coisa muda bastante de figura quando um gringo vem e nos diz que temos grandes autores. Dessa maneira somos capazes de reconhecer o nosso talento e beleza. Aceitamos aquele escritor que estava bem ali, debaixo do nosso nariz. Só que mesmo quando isso acontece nosso complexo vira-latas anda a espreita e pensamos: a gente de fato dá alguma bola para a literatura nacional? Será que esse autor consegue retirar nossa literatura da periferia para colocá-la no centro?

Fique claro que estou me referindo apenas a ficção contemporânea - mas com uma cabeça na Clarice Lispector.

O problema (sabiamente batizado por Nelson Rodrigues de complexo vira-latas) não é novo. Pelo contrário: é mais ancestral do que a gente pode imaginar. Remete as formações da nossa literatura onde a questão da identidade sempre foi um conflito. Como se reconhecer em algo que a gente não consegue definir exatamente? Para ser nacional precisa ter índios, mulatas, carnaval, futebol e pobreza? Como romper essa barreira? Na impossibilidade de vencer o desafio proposto ouvimos aos montes que a literatura brasileira comparada a estrangeira é ruim. Sobretudo da crítica acadêmica: Antonio Candido afirmando que, “comparada às grandes, a nossa literatura é pobre e fraca. Mas é ela, não outra, que nos exprime”; e porque não lembrar também do caso Alcir Pécora na série "Desentendimento", do Instituto Moreira Salles - resumindo a conversa Pécora acha que a literatura perdeu importância. Daí não me espanta os jovens críticos da internet (e da acadêmia) e o pessoal dos cadernos culturais dedicarem laudas e mais laudas à literatura estrangeira.

(Aqui eu faço um parênteses para lembrar não só de Nelson Rodrigues, mas também de Tom Jobim e Caetano Veloso reclamando do mesmo problema em relação a nossa cultura. Caetano, certa vez, disse que os cadernos culturais do país dedicavam páginas inteiras a bandas que não tinham tanta importância em seus países de origem e não dedicavam uma linha crítica aos brasileiros. A transposição cabe para a literatura).

Estou juntando numa mesma panela vários ingredientes diferentes, promovendo digressões, borrando matizes, generalizando. Mas não deixo de pensar que a enorme repercussão de Clarice Lispector nos Estados Unidos deve esbarrar na Inglaterra e possivelmente no resto da Europa. Assim, venceríamos nossa vergonha em relação a literatura estrangeira e imbuídos de algum orgulho poderíamos dizer: "somos bonitos pra caramba". Aliando isso ao nosso belo momento econômico, a força da nossa jovem literatura (que está fervilhando de bons escritores - acreditem!) e aos nossos tímidos avanços no campo da leitura teremos uma combinação perfeita para mudar nosso descaso com nossa própria literatura.

Para esclarecer: é verdade que Clarice Lispector faz um tremendo sucesso aqui no Brasil e goza de um grande número de leitores devotos. Quando publicou seu primeiro livro ganhou atenção merecida da crítica. Também não é a primeira vez que a sua obra está sendo traduzida para o mundo inteiro. Além disso, outros países (outra culturas) já alimentam interesse por ela faz tempo - acho que sobretudo na França. Jovens escritores da Argentina também tem admiração e chegam a citá-la como influência. A edição do ano passado do FILBA teve mesas temáticas dedicadas a sua obra.

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Em tempo, críticas e notícias a respeito do relançamento das obras de Clarice Lispector nos Estados Unidos saíram nas páginas gringas da Vogue, da Publisher's Weekly, da Quarterly Conversation e nos blogs The Millions e da editora Tin House. Benjamin Moser também foi convidado para um podcast muito bacana chamado That Other Word. Contos dela também apareceram recentemente na Paris Review e no projeto Recommended Reading (do pessoal da Electric Literature).

As edições da New Directions estão ganhando textos de apresentação de Caetano Veloso, Jonathan Franzen, Pedro Almodovar, Colm Toíbín e Orhan Pamuk.

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Não posso deixar de citar o caso de Woody Allen que numa entrevista do ano passado afirmou que tinha adorado Memórias Póstumas de Brás Cubas. Será que isso tornou Machado de Assis mais popular?

Também quero lembrar dois textos do qual peguei emprestado algumas ideias: "Notícia da atual literatura brasileira: instinto de internacionalidade", de Sérgio Rodrigues (uma resenha sobre romance de João Paulo Cuenca com brilhante descrição de toda a trajetória da literatura brasileira desde a sua formação e os problemas de identidade nacional até uma luz do fim do túnel, uma saída para o impasse com o "instinto de internacionalidade" - recomendo vivamente, inclusive é possível reconhecer certos trechos que retirei dali); e "A irrelevância da literatura brasileira", de Joca Reiners Terron (com ideias e explicações da maior importância - inclusive no fato de César Aira achar nossa literatura a melhor do continente e comentar seu entusiasmo com Sérgio Sant'Anna cuja obra ele mesmo está traduzindo e divulgando. Será que vamos ler mais Sérgio Sant'Anna?).

*Imagem: reprodução do Google.

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segunda-feira, 28 de maio de 2012

A CAIXA PRETA DE JENNIFER EGAN FICA NO TWITTER

Sem nenhuma sombra de dúvida o posto de musa da próxima edição da FLIP pertence a escritora norte-americana Jennifer Egan. Sua ousadia com as fronteiras formais que separaram os gêneros conto e romance aliada as histórias tocantes e humanas das personagens de A visita cruel da tempo chamaram atenção dos leitores e dos críticos ao redor do mundo. Ela ainda foi premiada com um Pulitzer, um National Book Critics Circle e derrotou Jonathan Franzen na final do Tournament of Books. Fique assinalado que isso não é tarefa das mais simples.

Pois bem, na FLIP, Jennifer Egan vai dividir a mesa 'Pelos olhos do outro' com ninguém menos que Sir Ian McEwan - alguém que dispensa muitas apresentações; se você não conhece só precisa saber que ele é num dos dez maiores escritores vivos, autor do melhor romance escrito na primeira década dos anos 2000, ganhador do Man Booker Prize e autor de mais de uma dezena de romances. Considerando as façanhas anteriores da jovem Egan arrisco dizer que ela vai tirar tudo de letra e fazer bonito. Bem diferente da musa do ano passado - a bela Pola Oloixarac - que foi "engolida" pelo português valter hugo mãe, seu companheiro de mesa. Sir McEwan já esteve numa outra edição da FLIP, por isso não vai ganhar uma mesa só para ele apesar de sua importância.

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Nessa semana, Egan voltou a ser assunto porque está publicando um conto pelo twitter da revista New Yorker - começou na quinta-feira e vai durar por 10 dias com transmissões todas as noites. O conto chamado "Black Box" vai integrar a edição temática da New Yorker sobre ficção científica, mas será publicado primeiro pelo twitter a pedido da autora. A história tem como protagonista a personagem Lulu, de A visita cruel do tempo, que anos mais tarde está trabalhando como espiã do governo norte-americano.

Egan contou que estava interessada em experimentar com o formato que o twitter proporciona: a restrição do espaço, a independência de cada sentença, uso de ação ao invés de descrição, trabalhar uma personagem num gênero diferente etc. Porém, ao contrário de outras experiências envolvendo o uso do twitter para escrever ficção, ela planejou a história do começo ao fim num caderno japonês que tinha oito retângulos em cada página e editou o material final.

Quem quiser pode acompanhar o desenvolvimento do conto de duas maneiras: através do twitter todas as noites ou na íntegra no site da New Yorker após a transmissão pelo twitter.

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Outros experimentos do gênero já aconteceram antes. Se não estou enganado, Marcelino Freire criou uma série de microcontos pelo twitter - chamado "Conto Nanico". Cada conto nanico (ou tweet) era uma história com começo e fim. Existia individualmente e não compreendiam um texto mais longo dividido em pedaços.

O escritor norte-americano John Wray também tem experiência semelhante. A personagem 'Citizen', de seu livro Afluentes do rio silêncioso, ganhou vida própria e protagoniza uma história em série que já dura anos. Não tem uma forma fixa de romance ou conto em que os acontecimentos vão se desenrolando numa sequência e culminam num desfecho. Também não tem tamanho e nem duração de tempo definidas. Ele pretende que cada tweet seja o mais espontâneo, real e improvisado o possível.

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Infelizmente não temos como saber ainda se essas experiências vão resultar num novo formato de escrever ficção. Só o tempo será capaz de responder. Bom saber que tem muita gente tentando, sobretudo gente do calibre de Jennifer Egan.

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Em tempo volto a dizer que a Intrinseca vai publicar O torreão, romance escrito por Jennifer Egan antes do sucesso de A visita cruel do tempo. O que significa que teremos muito assunto para tratar com ela.

***ATUALIZAÇÃO: a edição da New Yorker acaba de sair - está bem bacana com textos de Sam Lipsyte, Anthony Burgess (falando sobre Laranja mecânica que fez aniversário semanas atrás), Jonatham Lethem, Junot Díaz, Ursula K. Le Guin, China Miéville, Margaret Atwood, Karen Russell, William Gibson e Jennifer Egan. A capa ficou por conta de Daniel Clowes. Egan conversou com Deborah Treisman, editora de ficção da revista, sobre o conto que está publicando e suas experiências com o twitter. A conversa está disponível em áudio (em inglês) nesse link.

* Imagem: reprodução do Google.

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terça-feira, 22 de maio de 2012

LIVRO COM TRILHA SONORA


Tem gente que desliga tudo quando vai ler um livro: rádio, TV, MP3 Player, computador, celular etc. É importante estar no mais absoluto silêncio para se concentrar, entender o que está lendo e aos poucos adentrar aquele universo. O menor barulho distraí. Da maneira como estou falando não consigo esconder que me enquadro nessa categoria, sobretudo quando vou ler romances mais elaborados - literariamente falando. Caretice ou não é uma maneira. Já para ler revista, jornal ou livrinhos mais "leves" nada me incomoda. Posso estar até no show do Sonic Youth ouvindo aquela longa versão de "Diamond Sea" sem nenhum problema.

No entanto, estou pensando seriamente em abrir uma exceção depois que vi a trilha sonora sugerida por Alejandro Zambra para
Bonsai (para quem não viu, a trilha saiu na revista sãopaulo - que acompanha a Folha de SP aos domingos). Só tem música boa. Vai do étnico ao pop, do calmo ao agitado e do alto a baixo.

"La Jardinera", Violeta Parra
"Penas", Sandro (na versão de Aterciopelados)
"Rubí", Babasónicos
"How Could I Be Such a Fool", Frank Zappa
"Wave of Mutilation", Pixies
"A Night in", Tindersticks
"El Rey y Yo", Los Ángeles Negros
"You Can't Always Get What You Want", The Rolling Stones
"Standing in the Doorway", Bob Dylan
"So Like Candy", Elvis Costello
"A Man Needs a Maid", Neil Young
"Pink Moon", Nick Drake
"My Sharona", The Kinks
"I Didn't Know What Time It Was", Ella Fitzgerald
"50 Ways to Leave Your Lover", Paul Simon
"Superficies de Placer", Virus

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Ainda não li Bonsai e nem preciso mentir que li, pois como adiantou a Raquel Cozer "dá para matar em uma hora e meia, se tanto" por conta das suas 96 páginas. Está na minha fila de leitura e estou pensando seriamente em passá-lo na frente de outros tantos que pretendo ler em algum momento. Zambra tem sido altamente recomendado por muita gente. Deve ser reflexo da FLIP, mas o nome dele já tinha aparecido naquela lista dos melhores jovens escritores em língua espanhola que saiu na Granta (essa edição também foi publicada aqui no Brasil no ano passado). Antes disso, em 2007, ele tinha sido eleito um dos 39 melhores escritores com menos de 39 anos. Ou seja, o chileno é mesmo um fenômeno. Prometo que eu volto ao assunto depois de ler Bonsai.
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A visita do tempo cruel, de Jennifer Egan também pede uma trilha sonora. Não tinha como ser diferente considerando que as personagens principais estão diretamente envolvidas com música. Bennie Salazar teve uma banda na adolescência e depois tornou-se dono de uma gravadora. Muitas bandas dos anos 80 devem ter servido de inspiração para Egan. Para facilitar a vida, a Intrínseca montou uma trilha sonora bem legal:
"The Passenger", Iggy Pop
"Seventh World", ­The Sleepers
"Too Drunk to Fuck", Dead Kennedys
"Alive", Pearl Jam
"My Generation", The Who
"Search and Destroy", The Stooges
"Take Her Where the Boys Are", Eye Protection
"Kimberly", Patti Smith
"Ever", Flipper
"Six Pack", Black Flag
"I Just Want Some Skank", Circle Jerks
"No More Heroes", The Stranglers
"Media Control", The Nuns"Mercenaries", Negative Trend
"Frustration", Crime
"The American in Me", The Avengers
"Lexicon Devil", The Germs
"Heart of Glass", Blondie

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Falando em Jennifer Egan, a Intrínseca promete para o mês que vem o lançamento de O torreão (tradução para The Keep, terceiro romance da autora que saiu nos Estados Unidos em 2006). A editora repetiu a decisão acertadíssima de chamar Rafael Coutinho para ilustrar a capa.

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Finalizando as trilhas sonoras, A trama do casamento, de Jeffrey Eugenides tem na epígrafe um trecho de "Once in a lifetime", do Talking Heads. Sempre que eu ouço essa música me lembro do livro Menino de lugar nenhum, de David Mitchell quando o garoto Jason Taylor deixa de lado a vergonha, entra na pista de dança e avista a menina que ele está afim. Tem um trecho no tumblr.

Não dá para esquecer também trilha que Thomas Pynchon (ele mesmo) fez para Vício inerente.

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É, definitivamente a gente está bem de literatura e música.

*Imagem: Zambra/reprodução blog da Cosac Naify; as demais divulgação.

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quarta-feira, 16 de maio de 2012

50 ANOS - A LARANJA MECÂNICA

Estou começando a ficar parecido com o namorado ou marido que esquece datas importantes depois chega no dia seguinte pedindo desculpas com um presente na mão. Em janeiro propus algumas comemorações importantes para esse ano: tantos anos de nascimento, tantos anos de morte, obra em domínio público, aniversários e toda a sorte de coisas. O tempo passou e caçando notícias descobri que ficaram de fora os 30 anos sem Georges Perec (que tratei de corrigir) e os 75 anos de Thomas Pynchon (que também tratei de corrigir), por exemplo. Vamos combinar que saber essas datas de cor e salteado é algo impossível - certamente eu vou deixar muitas outras datas passarem.

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Seja como for, estou aqui para dizer que um clássico da literatura está completando 50 anos. Trata-se de
A laranja mecânica, de Anthony Burgess que foi lançado em 1962 depois de três árduas semanas de trabalho - reza a lenda que ele começou a escrever porque tinha sido diagnosticado com uma doença grave e tinha medo de deixar a esposa sem dinheiro. A história de Alex e seus "droogs" causou um enorme impacto na cultura pop influenciando de Andy Warhol ao Sepultura. Alguém já deve ter feito um levantamento de filmes, canções, pinturas, balés e tatuagens que citam diretamente o livro. Claro que houve reações negativas por causa das cenas de violência e da linguagem totalmente inovadora que Burgess criou para o livro: o nadsat.

Virou um belo filme nas mãos de Stanley Kubrick em 1971. Certamente foi essa adaptação que contribuiu para tornar a história ainda mais popular - acho que teve mais gente que viu o filme do que leu gente que leu o livro. Burgess não gostou muito do resultado. Achava que o filme glorificava o sexo e a violência, além de causar um mal-entendido sobre suas verdadeiras intenções e críticas sociais. Ele chegou a se arrepender e dizia que repudiava a obra.

Embora tenha escrito muitos livros, ensaios críticos, roteiros para TV e música, Burgess ficou para a história como o autor de A laranja mecânica. A vida tem dessas coisas.

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O livro saiu em português (com nova tradução assinada por Fábio Fernandes) pela Editora Aleph. Tem um trecho disponível para leitura aqui.

* Imagem: divulgação.
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terça-feira, 8 de maio de 2012

UM DIA PARA THOMAS PYNCHON


Ainda pouco falei de Thomas Pynchon - um escritor ao mesmo tempo tão cultuado e tão impopular. Porém, preciso começar a rever meus conceitos. Hoje ele completa 75 anos e para comemorar um site nos Estados Unidos chamado Pynchon in a Public Day está com uma campanha muito bacana: documentar a leitura de qualquer livro de Thomas Pynchon em lugares públicos. Vale foto, texto, mapa e vídeo - vale tudo! Depois coloca no twitter com o hashtag #Pynchon2012 ou manda para @Pynchoninpublic.

Se vc está sem ideia do que fazer, não tem problema. O site tem uma lista de sugestões.

Tire seus livros das estantes e mãos à obra!

*Imagem: reprodução de um episódio dos Simpsons com dublagem do próprio - segundo dizem.

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sábado, 5 de maio de 2012

GRANTA: COLÔMBIA, ITÁLIA, MÉXICO E BRASIL


Por mais trinta anos a revista Granta conquistou prestígio publicando (quase exclusivamente) autores do mundo anglo-americano, mas parece que a revista está abrindo suas portas para a literatura feita no restante do mundo. Tem sido assim desde que John Freeman assumiu o cargo de editor, em 2009. Para manter a revista relevante diante da internet, das tecnologias digitais e do encolhimento monstruoso dos cadernos culturais.

Freeman investiu em coisas audaciosas que somente uma revista como a Granta pode fazer: promovendo misturas, subvertendo a lógica do mercado de livros e "colocando os escritores em lugares inesperados, onde eles podem criar sua própria comunidade de leitores" - para citar as palavras do próprio Freeman. Some a isso tudo olhar para a literatura produzida fora do eixo anglo-americano. Assim, a Granta ganhou uma versão em português, espanhol e italiano - não esqueçam que houve um número recente dedicado ao Paquistão; Freeman também viajou para China de olho na literatura daquele país.

O investimento nessas edições ao redor do mundo tem sido realmente audaciosos. No ano passado a versão em espanhol lançou uma edição bem sucedida dos "melhores jovens autores em língua espanhola". Os selecionados foram traduzidos para o inglês, rodaram o mundo e divulgaram a literatura de seus países.



Durante a Feira do Livro de Bogotá, os editores da versão espanhola anunciaram que o próximo número será dedicado a ficção colombiana - “Colombia, sus armas ocultas” com textos de Tomás González, Evelio Rosero, Fanny Buitrago, Juan David Correa, Carolina Sanín, Power Paola (uma desenhista incrível), Andrés Felipe Solano (ele esteve na seleção da Granta de melhores jovens escritores), Nayla Chenade, Ricardo Cano, entre outros. A literatura do México também vai ganhar um número especial no ano que vem.

Na próxima segunda-feira, John Freeman estará na Itália para anunciar um número com os melhores jovens escritores italianos (serão 15, se não estou enganado). Vai chamar "Che cosa si scrive quando si scrive in Italia" - Do que escrevo quando escrevo na Itália, em tradução livre.

ATUALIZAÇÃO: divulgaram a capa da terceira edição da Granta Itália (acima). O número inclui textos de Luciano Funetta, Chiara Marchetti, Roberto Risso, Piergianni Curti, Danilo Deninotti, Francesca Mazia Esposito, Martino Pietropoli, Michele Di Palma, Mari Accardi, Leonardo Staglianò, Stefania Bruno, Laura Taffanello, Nicola Ingenito, Angelo Lippolis, Ferdinando Morgana, Domiano Zerneri.

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A Granta brasileira prometeu lançar na próxima FLIP a mesma seleção de jovens autores. Ancelmo Gois, do jornal O Globo, disse que a decisão foi tomada mês passado num hotel em Ipanema - o júri levou quatro horas discutindo e selecionando alguns entre os 247 textos inscritos. O anúncio está cercado de expectativa, afinal a projeção dos selecionados será enorme - como não me canso de repetir, o Brasil será o país convidado da Feira de Frankfurt, em 2013; também somos a bola da vez economicamente falando.

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Depois volto comentando minhas apostas para esse número.

*Imagem: capa da edição colombiana - reprodução.

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