quarta-feira, 30 de junho de 2010

DIÁRIO DE UM LEITOR


7:30 - Acordei cedo. Ontem fui dormir bem depois da meia-noite. Fiquei lendo notícias na internet até bem tarde. Agora é hora de levantar e tomar café.

8:10 - Abro os nossos principais jornais: Folha de SP e Estadão. Nenhuma notícia muito animadora sobre livros, literatura ou que quer que seja. Só há destaque para os jogos da Copa do Mundo. Checo meus e-mails.

8:50 - Atrasado para o trabalho.

9:05 - No metrô aproveito para adiantar a leitura de Khadji-Murát, de Liev Tolstói. O guerreiro da Chechênia está realmente ocupando minha cabeça. Acho engraçado como o texto de Tolstói arrasta o leitor para dentro do seu universo.

9:45 - Esperando o ônibus e ainda lendo Khadji-Murát. Ele está numa situação bastante complicada. Seu destino está dividido em pedir ajuda aos russos, se entregar ao seu inimigo ou perder de vez sua família. Os escritores russo não tem mesmo pena da gente.

10:00 - Trabalho. Trabalho, trabalho... coitado do Khadji-Murát. Quero ver se ele vai encontrar alguma saída.

14:00 - Almoço. Aproveito para ver notícias sobre os novos lançamentos das editoras. Passo na livraria. Vejo alguns livros e capas de revistas.

15:00 - De volta ao trabalho. Mais trabalho, trabalho, trabalho... não sabia que Júlio Cortazar sofria de gigantismo. Será mesmo verdade?

19:30 - Hora de ir embora. Aproveito para ouvir música e dou um tempo na leitura.

20:00 - Preciso passar de novo em outra livraria. Olho as vitrines, os destaques, etc. Quero comprar quase tudo o que vejo. Como o dinheiro é pouco, fico só no planejamento. Não sei porque mas ultimamente tenho tido a sensação de que não li os livros que já deveria ter lido. Chego a conclusão de que ser leitor é realmente um sufoco. A gente não consegue acompanhar os lançamentos.

20:30 - Não aguentei! Comprei três livros. Mas eram edições de bolso e estavam com um preço bem baratinho.

21:00 - Jantar. Lanço um olhar geral sobre minhas novas aquisições. Lembra daquele conto da Clarice Lispector, Felicidade Clandestina? Então...

22:00 - Em casa. Coloco os livros na minha estante. Vou para o computador: ler e-mail, ver notícias, etc. Hora de postar alguma coisa no blog. Não tenho idéia nenhuma. Desisti. Continuei olhando mais notícias e blogs.

22:30 - O twitter é mesmo um mundo de notícias, né? Até quando será que a gente aguenta?

23:00 - Desliguei o computador e aproveitei para adiantar as minhas leituras. Tem alguns artigos que deixei separado e nunca mais mexi. Acho que é uma boa hora de dar uma olhada neles.

00:00 - Aos poucos estou concluindo: "Só sei que nada sei". Melhor continuar lendo.

00:32 - Hora de dormir. Apagar as luzes e pensar em tudo o que li por hoje.
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domingo, 27 de junho de 2010

O ARQUIVO QUE REVELA O TRABALHO DE JOHN UPDIKE

Mais de um ano depois da morte de John Updike, temos a notícia de que ele deixou um imenso arquivo de todo o seu trabalho. O jornal New York Times publicou um imenso artigo falando sobre o assunto na semana passada - o texto também foi publicado no Caderno2 do Estadão.

Que atire a primeira pedra quem nunca quis saber o que se passa na cabeça de um escritor. Como ainda não inventaram uma máquina capaz de fazer isso, a chance é recorrer aos vestigios que ele deixa sobre o seu método de trabalho. Os críticos que já tiveram acesso ao arquivo dizem que ele contém "as chaves do universo literário de Updike". Há cartas, manuscritos, pesquisas para os romances, etc.

A notícia chega quase ao mesmo tempo em que a Companhia das Letras lançando dois livro do escritor americano: As bruxas de Eastwick (em edição de bolso) e As viúvas de Eastwick - continuação do primeiro romance. Ambos foram livro de muito sucesso, sobretudo depois do filme homônimo com Jack Nicholson, Cher, Susan Sarandon e Michelle Pfiffer nos papéis principais.

John Updike escreveu bastante: mais de 20 romances, poesia, crítica literária e crítica sobre arte. Além de ter escrito para revistas e jornais americanos. Ele publicou em média quase1 livro por ano, ao longo de toda a sua carreira, inclusive vários deles foram premiados. Seu tema preferido era a vida da classe média americana moradora dos subúrbios e pequenas cidades do interior. Por ter escrito por um longo período, Updike construiu um verdadeiro retrato dessa sociedade no século XX - chegou até mesmo a tratar do terrorismo do 11 de Setembro em O terrorista, lançado aqui em 2007.

Quem sabe essa notítica não motive o relançamento da famosa tetralogia do Coelho?

*imagem: reprodução de um vídeo no site do New York Times.

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sábado, 26 de junho de 2010

É TEMPO DE LER E RELER CHARLES DICKENS


Ontem passei em duas grandes livrarias e percebi que as obras de Charles Dickens estão ganhando destaque nas vitrines e estantes. O autor inglês é indiscutivelmente um clássico da literatura ocidental. Todo mundo já esteve em contato com sua obra pelo menos uma vez na vida. O livro Um conto de natal, por exemplo, serviu de inspiração para o Tio Patinhas, personagem dos quadrinhos. O mesmo livro rendeu recentemente a animação Os fantasmas de Scrooge, de Robert Zemecks. Grandes esperanças, outro livro muito conhecido de Dickens, virou filme com Ethan Hawke e Gwyneth Paltrow no elenco.

Acho que esse novo retorno está acontecendo aos poucos por conta da biografia Charles Dickens, de Michael Slater (Yale University Press). Semana passada, o caderno Sabático, trouxe uma resenha Gênio investigado sobre essa nova biografia.

Enquanto não temos tradução da biografia para o português, vale ler ou reler a obra de Dickens. A editora Estação Liberdade acaba de lançar Um conto de duas cidades, com tradução de Débora Landsberg. O livro conta a história de uma nobre família francesa que se exilou na Inglaterra antes da Revolução Francesa - por isso as duas cidades do título, Londres e Paris. O enredo é muito bem desenvolvido pela maneira realista e sentimental que Dickens costuma empregar em seus livros. Sem tomar posicionamento político, Dickens descreve a sociedade francesa e inglesa daquela época e o impacto que a Revolução promoveu em todas as camadas sociais: o aristocrata, o burguês, o camponês, o malandro, o vagabundo.

*imagem: wikipédia.


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sexta-feira, 25 de junho de 2010

OS BRITANICOS TAMBÉM TEM SEUS NOVOS ESCRITORES

A famosa lista da New Yorker com seus 20 escritores com menos de 40 anos continua dando o que falar na imprensa internacional. Afinal, quem disse que somente a New Yorker pode fazer uma lista como essas? Pensando nisso, Lorna Bradbury, jornalista do Telegraph, escreveu um artigo perguntando Are these Britain’s best 20 novelists under 40? (São esses os 20 melhores romancistas britânicos com menos de 40?).

Incomodados com o fato de os britânicos terem tido a mesma lista há quase dez anos atrás (feita em 2003 pela revista Granta), Lorna e a equipe do Telegraph resolveram juntar forças e fazer uma nova lista. Durante as entrevistas e pesquisas, eles descobriram as diferenças que existem entre a ficção americana e a ficção britânica.

Entre tantas coisas, o artigo fala sobre a força comercial da revista New Yorker; critica o fato da lista não ter muitas novidades (quase todos os escritores já tinham publicado algum livro); e comenta o quanto os escritores americanos são frutos dos cursos de escrita criativa (o que não deixa de ser bastante curioso).

A lista do Telegraph seguiu os mesmo critérios da lista preparada pela New Yorker - existem algumas particularidades, é claro. O que eu acho bastante interessante é a possibilidade de termos mais um olhar sobre a produção literária contemporânea. Vamos conhecer novos escritores, encarar novos estilos, novas maneiras de pensar e ouvir sempre boas histórias que merecem serem contadas. Sem dizer que essas listas movimentar o mercado editorial. Isso é bom para todo mundo.

A lista: Chris Cleave (nasc. 1973); Rana Dasgupta (nasc. 1971); Adam Foulds (nasc. 1974); Sarah Hall (nasc. 1974); Steven Hall (nasc. 1975); Mohsin Hamid (nasc. 1971); Anjali Joseph (nasc. 1978); Joanna Kavenna (nasc. 1974); Benjamin Markovits (nasc. 1973); China Miéville (nasc. 1972); Paul Murray (nasc. 1975); Patrick Neate (nasc. 1970); Ross Raisin (nasc. 1979); Dan Rhodes (nasc. 1972); Kamila Shamsie (nasc. 1973); Zadie Smith (nasc. 1975); David Szalay (nasc. 1974); Adam Thirlwell (nasc. 1978); Scarlett Thomas (nasc. 1972); Evie Wyld (nasc.1980).

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quarta-feira, 23 de junho de 2010

A LITERATURA NA SALA DE AULA COM AJUDA DA INTERNET



Eu já falei sobre dos problemas que enxergo nessa moda de usar vídeos na internet para divulgar livros. Mas como dizer alguma coisa quando esses vídeos servem para os professores estimularem seus alunos a lerem mais? É exatamente isso que o pessoal do LivroClip está fazendo: usando "a internet para levar os livros à sala de aula, na forma de animações, dicas de uso e fórum de debates". No site é possível encontrar uma animação sobre um determinado livro e ainda ler um pouco da biografia do autor e trechos do livro selecionado. As animações resumem bem o enredo das obras sem revelar muita coisa. E de fato causa em quem assiste uma imensa vontade de ler. Veja por exemplo o vídeo sobre A metamorfose, de Franz Kafka. A linguagem é bem simples, mas a comunicação é imediata. E quem sabe assim não acabam com aquele ideia que os alunos tem de que a literatura é chata?

Acima o vídeo de Dom Casmurro, de Machado de Assis - retirado do site LivroClip.
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domingo, 20 de junho de 2010

VÍDEO DE JENNY OFFILL PARA A ELECTRIC LITERATURE

Mais um vídeo incrível produzido pelo pessoal da Electric Literature - as coisas que eles fazem são realmente bem profissionais, eu acho. Tem um caráter provocativo ao tornar a literatura um meio eletrônico. Mas vejo como algo estimulante para as futuras gerações. De repente, um meio pode acabar complementando o outro. Por que não? O vídeo se chama The Tunnel, de Jenny Offill.


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FUTEBOL COMBINA COM LITERATURA NA ÁFRICA DO SUL


Em época de Copa do Mundo, as atenções ficam todas voltadas para os televisores e as transmissões dos jogos. Tudo em Tvs de alta definição, tecnologia 3D, etc. Com as partidas encerradas é hora de se dedicar a leitura - coisa que apreciamos bastante. E o que nos reserva a literatura da África do Sul, país sede do mundial de futebol? Eu não tenho notícias sobre a produção literária mais recente deles. Mas, conheço dois nomes importantes da literatura mundial que nasceram naquele país: Nadine Gordimer e J. M. Coetzee. Ambos são ganhadores do Prêmio Nobel de Literatura - Nadine Gordimer em 1991 e J. M. Coetzee em 2003.

Diferente do espetáculo proporcionado pelo futebol mundial, a literatura de ambos aponta para os problemas sociais vividos pela África do Sul desde a época do apartheid. Sem muito panfletarismo, a obra dos dois rompe a fronteiras da África e acaba revelando questões enfretadas pelo homem universalmente. Melhor ainda é saber que a literatura deles fica melhor a cada nova obra. Coetzee, por exemplo, acaba de lançar um novo romance bastante elogiado pela critica. Tanto um quanto outro também se tornaram referência para os novos escritores.

Muitos romances de Gordimer e Coetzee já ganharam tradução para português.

* imagem: http://nobelprize.org


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sexta-feira, 18 de junho de 2010

JOSÉ SARAMAGO: TAMBÉM MORREM OS ESCRITORES


Hoje de manhã eu estava lendo uma novela escrita por Dostoiévski e não sei porque razão pensei em José Saramago. Quer dizer, acho que sei. Foi por conta de uma conversa que tive com alguém sobre o fato dos romances de Saramago não terem pontuação. Eu disse, na ocasião, que achava que a escrita dele não tinha pontuação para privilegiar o fluxo de consciência e a polifonia das vozes que narram a história que estamos lendo. Foi uma coisa que me ocorreu naquele momento. Lendo Dostoiévski pensei rapidamente nisso: fluxo de consciência, polifonia, vozes narrativas, etc. De alguma maneira o que estava em um, estava no outro.

Cerca de meia hora depois recebi um telefonema de um amigo. Ele me disse "você ficou sabendo que o Saramago morreu". Fiquei muito surpreso na hora porque sabia que a saúde de Saramagamo estava frágil. Mas morrer? Nunca pensei. Me senti como no romance A hora da estrela, de Clarice Lispector. No final, o narrador Rodrigo SM, diz assim: "Meu deus, só agora me lembrei que a gente morre (...)". E se naquela hora me dei conta de que também os escritores morrem.

Não preciso dizer da importância de Saramago para a literatura. O fato de ter recebido um prêmio Nobel já diz muita coisa por si. Aliás, quando ele recebeu o prêmio Nobel disse que se sentiu a pessoa mais sozinha do mundo. Ele estava num aeroporto, se preparando para alguma viagem. E no corredor, solitariamente, ele não pode compartilhar ou comemorar sua alegria. Agora, somos nós que estamos sozinhos, solitários.

*imagem: reprodução da Fundação José Saramago
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quarta-feira, 16 de junho de 2010

WORLDHUM ELEGE O MELHOR DA LITERATURA DE VIAGEM

O site americano, WorldHum, é uma espécie de revista eletrônica de viagens. E nesta semana eles publicaram uma lista com "Os 100 livros de literatura de viagens mais celebrados de todos os tempos". Afinal, quem viaja tem sempre histórias para contar. Uma curiosidade da lista é o escritor americano Paul Theroux. Ele foi o escritor que apareceu com o maior número de livros escolhidos - quatro no total: O Safari Da Estrela Negra, O Grande Bazar Ferroviario, The Old Patagonian Express e The Pillars of Hercules - os dois últimos sem tradução para o português ainda.

O motivo não pode ser outro: Paul Theroux é um exímio escritor de literatura de viagens. Segundo a crítica ele reinventou o conceito de "livro de viagem" porque transformou sua própria experiência como viajante do mundo em livro. Seus romances de ficção também estão carregados desse mesmo ar. E existe alguém melhor para contar histórias do que os viajantes? Não deixo de me lembrar do ensaio "O narrador", de Walter Benjamin.

A lista ainda tem nomes como: Ernest Hemingway, Tom Wolfe, George Orwell, Mark Twain, John Steinbeck, Truman Capote, D.H. Lawrence, Paul Bowles e Ernesto “Che” Guevara.

*imagens: foto Paul Theroux (reprodução do site http://www.paultheroux.com/)

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terça-feira, 15 de junho de 2010

O FUTURO DAS REVISTAS LITERÁRIAS: ELECTRIC LITERATURE

Andy Hunter e Scott Lidenbaum, dois editores americanos, ouvem das pessoas o tempo todo que a literatura de ficção está condenada ao fim. Sobretudo num mundo em que a internet e os novos meios de comunicação estão transformando a maneira de publicar livros, jornais e revistas. Cansados de ouvir tanta reclamação, ao invés de declararem a morta da ficção eles pensaram o seguinte:

"[vamos] selecionar histórias fortes que capturem os nossos leitores e os levem em algum lugar excitante, inesperado e significativo. Publicar em todos os lugares, de todas as maneiras: papel, Kindles, iPhones, livros eletrônicos e audiobooks. Tornar isso mais barato e acessível. Simplificar: apenas cinco grandes histórias em cada edição. Ser divertido, sem sacrificar a profundidade. Em suma, criar aquilo que nós desejamos". (tradução minha)

Unindo a literatura com a tecnologia que nos cerca eles criaram a revista Electric Literature. O modelo é bacana: eles publicam a versão impressa da revista apenas por demanda (ou seja, só imprimem uma edição quando existe algum pedido de compra); e existe ainda uma versão digital para eBook, Kindle, iPhone e áudio. Como a versão digital não precisa de impressão o custo gráfico é reduzido. Com isso eles preferem investir dinheiro em novos autores e pagá-los muito bem. A versão digital (e mesmo a impressa) chega no mundo todo e estará sempre disponível para quem quiser adquirí-la.

O formato ainda é novo e arriscado. Tanto pode se tornar um sucesso pelo número de leitores e retorno financeiro; quanto um fracasso não tendo nem leitores e nem dinheiro. Mas para os dois é a literatura que importa e não meio em que ela é distribuida. Por isso mesmo pagam por histórias muito bem selecionadas, capricham nas edições de "vídeos literários" (histórias de ficção em formato de vídeo), investem em textos de qualidade no twitter, disponibilizam a versão digital para o iPad com aplicativos, estão no Facebook e até nos celulares.

Sucesso de crítica, os dois editores já tem. Se vai dar certo ou não só o tempo poderá dizer. Pelo menos eles estão arriscando e fazendo alguma coisa inovadora e interessante.

Abaixo um dos "vídeos literários" que integram a coleção da revista:



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segunda-feira, 14 de junho de 2010

A FALTA DE COBERTURA DA IMPRENSA QUANDO OS LIVROS SÃO A NOTÍCIA


Ouço muita gente falando a respeito da pequena atenção que os jornais e revistas tem dedicado aos livros. As resenhas e críticas estão sumindo. Quase não há mais espaço para essas coisas nas seções de cultura. Talvez a única exceção seja o caderno SABÁTICO do Estadão que circula aos sábados - único caderno dedicado totalmente ao assunto. Mas o problema parece que não se restringe somente ao Brasil. John Palattella, um jornalista americano, escreveu um artigo para o The Nation falando como os livros estão sumindo dos semanários americanos - The Death and Life of the Book Review (A Morte e a Vida da Crítica Literária). Por crítica literária, devemos entender a cobertura de notícias referente a livros e ao mercado editorial, de maneira ampla.

É evidente que no artigo muitos fatos mencionados tratam da realidade da imprensa americana. Porém, alguns pontos servem para ilustrar a nossa situação. Sobretudo quando Palatella menciona a internet. Vou destacar dois pontos que considero importantes:

1. Na imprensa atual, a crítica literária sofre de um problema cultural e não apenas econômico. Os jornais e revistas estão contendo custos para sobreviverem nesse momento de incertezas quanto ao seu futuro. Na tentativa de ter um produto mais rentável, apelam para notícias que sejam mais vendáveis e cortam ou reduzem o conteúdo que julgam pouco popular - como é o caso da crítica literária. Ao contrário desse pensamento, Palatella demonstra que são os próprios jornais e revistas os responsáveis por essa redução já que dentro das redações impera uma atitude "anti-intelectual" (uma falta de interesse dos jornalistas por ideias diferentes do senso-comum).

2. Na internet tudo o que importa é ser o mais rápido a dar a notícia. Como os jornais e revistas reduzem a crítica literária no meio impresso, a internet passa a ocupar esse espaço deixado. Porém, na internet existe uma obsessão em ser o primeiro a dar uma notícia e colocar no site o máximo de conteúdo que você puder. Não importa a qualidade, mas o quão rápido você pode ser. Palatella ainda fala que muitas redações não se preocupam em colocar um conteúdo incorreto no site - depois é possível corrigir na edição impressa que tem muito mais credibilidade.

No Brasil, a rasa cobertura literária feita pela imprensa tem origem no problema da educação e da pouca expressão do mercado editorial - quase não lemos e compramos poucos livros. Talvez com uma cobertura maior e mais interessante dos jornais e revistas, pudessemos mudar um pouco esse quadro. Afinal, os jornais e revistas são os responsáveis por colocar em circulação as opiniões críticas a respeito de um livro. Muita gente pode conhecer, comprar e ler um livro pelo simples fato de ter lido uma crítica a respeito dele.

Falta um pouco de ousadia na imprensa: não apostam em ideias novas e fazem resenhas de livros para cumprir tabela. Conter custos não é razão para reduzir a critíca literária. Muito pelo contrário, uma boa cobertura pode atrair novos leitores e aumenta a venda de um livro. Essa mesma falta de ousadia acontece na internet. De fato, existe uma obsessão em ter uma quantidade de notícias pouco relevantes. E infelizmente, quem gera conteúdo copia muita coisa. Sem contar a dispersão que a internet provoca no leitor. Clicando em links e se perdendo em informações.

Termino com as mesmas palavras que John Palatella: "Apesar da turbulência e das inúmeras dúvidas, acho que não há momento melhor que o presente para que a imprensa faça a cobertura de livros" (tradução minha). Recomendo a leitura do artigo.

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quinta-feira, 10 de junho de 2010

#CLUBE2666: LENDO ROBERTO BOLAÑO NO TWITTER

No twitter está acontecendo uma espécie de leitura coletiva do livro 2666, de Roberto Bolaño. A iniciativa é surpreendente por dois motivos: primeiro pelo grande interesse nessa obra tão comentada do autor chileno; e segundo pela mobilização das pessoas em organizar a leitura no twitter. Sinceramente, não me lembro de ter ouvido mobilização parecida no Brasil em se tratando de literratura.

Os comentários são interessantes e instigam a gente a participar e compartilhar. O único problema é que por ser espontâneo não é possível acompanhar os comentários por capítulos ou tópicos. Os participantes vão escrevendo a medida que vão lendo. Detalhe: a edição brasileira do livro tem quase 900 páginas, dividida em cinco partes.

Não consegui descobrir quem começou, mas parece que surgiu de uma vontade dos leitores em improvisar esse "clube do livro". Tomara que a inicitiva renda frutos e que seja o começo de uma comunidade de leitores na internet.

Se você se interessou e quer acompanhar, basta procurar pelo hashtag #clube2666 no twitter.

Imagem: divulgação

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segunda-feira, 7 de junho de 2010

ALGUNS ESCRITORES SELECIONADOS PELA NEW YORKER EM PORTUGUÊS

Como falei na semana passada, a revista New Yorker lançou hoje a edição especial com os 20 jovens escritores com menos de 40 anos. Segundo o editor da revista, esse conjunto é uma grande promessa para a ficção contemporânea. Descobri que 8 dos 20 escritores já tem romances publicados no Brasil. Bom para os leitores brasileiros que podem acompanhar a produção desse grupo ao mesmo tempo que o resto do mundo. No fim, os 20 escritores nem são tão desconhecidos assim. Segue a lista dos romances já publicados:

Meio Sol Amarelo
Chimamanda Ngozi Adichie
Ed. Companhia das Letras

E Nos Chegamos Ao Fim
Joshua Ferris
Ed. Nova Fronteira

Extremamente Alto & Incrivelmente Perto / Tudo Se Ilumina
Jonathan Safran Foer
Ambos pela Ed. Rocco

A História Do Amor
Nicole Krauss
Ed. Companhia das Letras

Radio Cidade Perdida
Daniel Alarcón
Ed. Rocco

Os Excluidos
Li Yiyun
Ed. Nova Fronteira

As Belas Coisas, Que E Do Ceu Conte-Las
Dinaw Mengestu
Ed. Nova Fronteira

Absurdistão
Gary Shteyngart
Ed. Rocco

O Picaro Russo
Gary Shteyngart
Ed. Geração Editorial
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domingo, 6 de junho de 2010

O MUNDO INTEIRO PODE LER O MESMO LIVRO AO MESMO TEMPO: 1 BOOK, 1 TWITTER


Um dia Jeff Howe, professor da Universidade de Harvard e editor da revista Wired, teve uma ideia: usar o twitter como uma grande plataforma global de leitura. A ideia era bastante pretenciosa, mas tinha um fundamento bastante interessante. E assim nasceu o '1 book, 1 twitter' (1 livro, 1 twitter).

Não é um clube do livro em si. Howe explicou que "o objetivo com 1book, 1 twitter é reunir um zilhão de pessoas, todas lendo e falando sobre um único livro. Não é, por exemplo, uma tentativa de reunir uma seleta multidão de pessoas que amam livros para ler uma série de livros e depois reunirem-se em datas estabelecidas para discutir. O ponto central é criar uma comunidade através de fronteiras geográficas, culturais, étnicas, econômicas e sociais".

Howe se inspirou na iniciativa '1 cidade, 1 livro' que reune todas as pessoas de uma mesma cidade para lerem um mesmo livro. A diferença é que o twitter rompe barreiras físicas e pode reunir todas as pessoas do mundo que tenham os mesmo interesses que você. Evidentemente, as pessoas precisam falar inglês e devem seguir algumas regras que falicitam o entendimento daquilo que está sendo dito. Tudo em 140 caracteres.

Atualmente o perfil 1B1T2010 mantém quase 8000 seguidores. Eles estão lendo American Gods, de Neil Gaiman - existe uma edição em português com o nome de Deuses Americanos, pela editora Conrad. Ao fim de Junho o perfil não vai apresentar uma leitura profunda e única a respeito do livro. Porém, quem está acompanhando a leitura vai poder compartilhar com gente do mundo todo suas impressões. Capítulo a capítulo. E quem pretende algum dia ler esse mesmo livro, poderá recorrer ao perfil como um banco de dados.

Não sei se isso é um modismo passageiro. Há aspectos ruins como a falta da presença real das outras pessoas que como você podem amar ou odiar o livro. Mas, como diversão e experimento parece bastante interessante.

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sexta-feira, 4 de junho de 2010

QUEM SÃO OS 20 JOVENS ESCRITORES MAIS IMPORTANTES DO MOMENTO

E o New York Times divulgou a lista dos 20 escritores com menos de 40 anos que estarão na edição especial da revista New Yorker. "Temos 10 homens e 10 mulheres, satíricos e modernos, de Miami e Etiopia e Peru e Chicago. E nenhum deles nasceu antes de 1970", diz o jornal. Só o tempo poderá dizer se eles são mesmo os escritores mais importantes desses últimos 40 anos. A verdade é que a lista serve como um parametrô para ficarmos de olho na ficção produzida atualmente.

Os escolhidos são: Chimamanda Ngozi Adichie, 32; Chris Adrian, 39; Daniel Alarcón, 33; David Bezmozgis, 37; Sarah Shun-lien Bynum, 38; Joshua Ferris, 35; Jonathan Safran Foer, 33; Nell Freudenberger, 35; Rivka Galchen, 34; Nicole Krauss, 35; Yiyun Li, 37; Dinaw Mengestu, 31; Philipp Meyer, 36; C. E. Morgan, 33; Téa Obreht, 24; Z Z Packer, 37; Karen Russell, 28; Salvatore Scibona, 35; Gary Shteyngart, 37; and Wells Tower, 37.

Achei bacana o que o editor da revista New Yorker, David Remniock, disse sobre esses 20 escritores: "Se eles tivessem muito em comum, seria muito chato. (...) Este não é um agrupamento estético. O grupo é um grupo de promessa, enorme promessa. Há pessoas ali que são muito convencionais em suas abordagens narrativas, e há pessoas que têm uma grande ênfase na voz. Há pessoas que estão de alguma forma trazendo a você as notícias de uma outra cultura". (tradução livre)

A edição especial da New Yorker deve chegar as bancas na semana que vem.
*imagem: reprodução da capa "Future of American Writing" da New Yorker de 1999 - a última edição a fazer esse concurso.

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A THE PARIS REVIEW TEM UM BLOG

Desde 1 de Junho a revista The Paris Review tem um blog. A editora Lorin Stein diz que a "missão" do blog é manter contato com os leitores da revista entre uma edição e outra. Eles também querem escrever e chamar a atenção para tudo aquilo que eles mais gostam: literatura e artes.

O blog me parece bem promissor e antenado com os tempos atuais. Não dá para dizer que eles estão lançando uma tendência porque a internet e os blogs já existem faz tempo. Acho, na verdade, que eles demoraram bastante para entrar no mundo virtual. Só estão confirmando a tendência. E vejam que trata-se de uma das revistas mais importantes do mundo quando o assunto é literatura. Desde 1953, ela entrevista e fotografa de maneira particular escritores que são ou vão se tornar grandes nomes da literatura. É uma revista que criou um modelo, realmente. E agora está aderindo a internet, como muitas outras estão fazendo. Nem preciso dizer que eles também tem uma conta no twitter.
*imagem: capa da Paris Review de 1953 - via google.

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quarta-feira, 2 de junho de 2010

PATRÍCIA MELO NA FLIP E COM ROMANCE INÉDITO

Falei outro dia sobre o relançamento que a editora Rocco está fazendo dos livros de Patrícia Melo. E para minha surpresa na próxima semana a autora irá lançar um livro inédito pela mesma editora. O título do novo romance é Ladrão de Cadáveres. Pelo que li, o enredo gira em torno de um gerente de telemarketing que se muda para Corumbá e acaba envolvido numa rede de violência e mentira. Tudo vai acontecendo ao acaso. Parece bem sinistro e bem ao gosto da autora.

Uma aposta da editora é usar a internet na promoção do livro. Por isso, Ladrão de Cadáveres ganhou um blog e um perfil no twitter. Eles funcionam como uma plataforma que ira dar continuidade ao enredo presente no livro.
Outra notícia interessante: Patrícia Melo irá participar da FLIP 2010.

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