quinta-feira, 30 de setembro de 2010
JONATHAN FRANZEN POP
Depois da famigerada capa da Time, Jonathan Franzen continua sendo um dos assuntos mais comentados no mundo literário anglo-saxônico. Há uma série de razões para o falatório: Oprah Winfrey selecionou o livro para o seu famoso book club; na semana passada "Freedom" foi publicado na Inglaterra com direito a entrevista do autor para o Guardian e resenha do livro no Telegraph - aliás, achei a capa da edição inglesa bem mais bonita; por uma ou duas semanas "Freedom" chegou a desbancar o fenômeno Stieg Larsson na lista de e-books mais vendidos do Kindle na categoria ficção; etc.
Tamanha repercussão não podia deixar de ser acompanhada por brincadeiras e ironias. Achei bem interessante a paródia feita pelos editores da revista The Stranger em conjunto com o escritor Tao Lin. Eles fizeram uma perfeita reprodução da Time, começando pela capa com a mesma borda vermelha, o mesmo ângulo para a foto do escritor e a mesma chamada: "O maior romancista americano", nesse caso Tao Lin. O artigo escrito por Tao Lin falando dele mesmo continua com a mesma ideia reproduzindo linha por linha o texto escrito pelo jornalista Lev Grossman para a Time, mas invertendo seus sentidos.
O assunto também virou uma série de quadrinhos chamada "Imperador Franzen", fazendo referência a série Star Wars, tendo Franzen no papel do temido vilão Darth Vader e colocando os escritores Jonathan Sanfran Foer e Gary Shteyngart na ação. Se não me engano existe até um perfil no twitter com o nome de "emperor franzen".
Me parece que essas movimentações não visam um ataque direto a Jonathan Franzen e a qualidade de sua obra. Pelo contrário, Franzen é mesmo uma unanimidade nesse quesito. Todas essas críticas, na verdade, acompanham o período de transição pelo qual passa a literatura norte-americana. Os novos escritores não são americanos no sentido estreito do termo, alguns nasceram fora dos Estados Unidos, tem formação multicultural, visão de mundo diferente: há negros, orientais, latinos e muitas mulheres. A bronca dos americanos é justamente não ter na sua grande mídia mais espaço e variedade capaz de abarcar todas essas diferenças.
*imagem: reprodução.
quarta-feira, 29 de setembro de 2010
6 ROMANCES DE TRANSFORMAÇÃO
Histórias de metamorfose existem desde os tempos mais antigos e estão presentes, de alguma maneira, nos livros sobre vampiros, zumbis, lobisomens e mutantes que fazem tanto sucesso. Indo mais além descobrimos que todo mundo algum dia já sonhou com a possibilidade de transformar-se em outros e ter poderes sobrenaturais. Porém, a metamorfose pode tornar uma pessoa melhor do que ela é; ou pode transformá-la em algo ainda pior, num caminho de degradação sem retorno. Seis romances sobre metamorfose...
Contos de fadas
de Perrault, Grimm, Andersen e outros
Zahar
Os contos de fadas são a matriz de muitas histórias de transformação e fazem parte do nosso imaginário coletivo. Nesse universo rainhas viram bruxas, feras viram príncipes e moças pobres viram princesas. Quando tudo parece perdido a transformação é capaz de salvar a todos e conduzir todas as coisas para um final feliz. O charme dessa edição são os texto integrais, as belas ilustrações das histórias, a biografia dos autores e o texto de apresentação escrito por Ana Maria Machado.
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O médico e o monstro
Robert Louis Stevenson
L&PM
Outro romance clássico que tem a metamorfose como tema principal. Escrito em 1886, o livro conta uma história de mistério e terror mostrando o lado bom e o lado mau de um mesmo homem. O doutor Henry Jekyll adquire uma estranha personalidade depois de servir como cobaia num de seus experimentos. Assim um violento rapaz conhecido como Mr. Hide aparece na cidade de Londres. O segredo do doutor Jekyll fica ameaçado quando assassinatos começam a acontecer.
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A metamorfose
Franz Kafka
Companhia das Letras
“Quando certa manhã Gregor Samsa acordou de sonhos intranquilos, encontrou-se em sua cama metamorfoseado num inseto monstruoso”. Assim começa uma das novelas de transformação mais famosas da literatura mundial. Kafka promove nos leitores um estranhamento constante: somos capazes de reconhecer todos os elementos que fazem parte do universo de Gregor Samsa, mas as situações parecem sempre absurdas e fora de lugar. A metamorfose do caixeiro-viajante não o salva, mas serve para demonstrar o lado cruel da condição humana.
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O visconde partido ao meio
Italo Calvino
Companhia das Letras
As transformações parecem habitar muitos livros escritos por Italo Calvino. Nessa novela o recurso serve como alegoria para demonstrar os tormentos do homem moderno dividido entre o bem e o mal. O visconde Medardo di Terralba é dividido em duas metades depois de ser atingido por uma bala de canhão. Cada uma das metades conseguem viver independente sendo que uma pratica o bem e a outra o mal. O incidente causa enorme confusão no vilarejo onde mora o visconde.
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O curioso caso de Benjamin Button e outras histórias da Era do Jazz
F. Scott Fitzgerald
José Olympio
A história do menino que nasce velho e morre bebê ganhou notoriedade depois de ser adaptada para o cinema. O conto de Fitzgerald faz uma brincadeira com o tempo que corre ao contrário para Benjamin Button. É no amor que está o maior drama: a garota se apaixona pelo velho rapaz e somente por um instante os dois terão a mesma idade e poderão olhar um ao outro como iguais.
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O reino deste mundo
Alejo Carpentier
Martins Editora
A história da independência haitiana serve como pano de fundo para esse romance escrito pelo cubano Alejo Carpentier. O guerreiro Mackandal é a personagem lendária que usa a metamorfose para tentar conduzir seu povo a independência. A dominação dos senhores brancos sofre todo tipo de ataque graças ao poder de Mackandal de transformar-se em insetos, aves, peixes e outros animais. Alguns atribuem a esse livro o nascimento do realismo mágico.
6 ROMANCES DE TRANSFORMAÇÃO
domingo, 26 de setembro de 2010
LIVROS QUE AJUDAM CLÁSSICOS DA MÚSICA
LIVROS QUE AJUDAM CLÁSSICOS DA MÚSICA
sábado, 25 de setembro de 2010
JAVIER MARIAS E OS ROMANCES LONGOS
Aproveito para fazer um "mea culpa": tomei conhecimento dele dois anos atrás por meio de resenhas, mas até hoje ainda não li nenhum de seus livros. Juro que Coração tão branco esta na minha fila de próximas leituras.
Javier Marias já foi traduzido para muitos idiomas e ganhou inúmeros prêmios. É tido como um dos mais importantes escritores vivos da literatura espanhola. Seu sucesso vem da grande qualidade narrativa de seus livros.
Reproduzo aqui um trecho da resenha de Jonas Lopes sobre o método narrativo do escritor. O método é constituído de inúmeras digressões, frases muito longas, contração/expansão do tempo e parece a peça fundamental para entender a sedução que o romance exerce sobre nós, os leitores: "A magia de ler Marías (...) está na capacidade de promover digressões, no turbilhão inescapável de idéias. (...) Até onde contar - falar, relatar, narrar, sobretudo confiar - pode ser arriscado? Ao contarmos o que quer que seja, arriscamo-nos à traição. Perdemos o controle sobre nossas vidas, de certo modo, abandonando na mão de outro - um amigo, um amor, o leitor do livro - uma responsabilidade essencial".
De maneira bem resumida, Seu rosto amanhã conta a história de um ex-professor de Oxford que tem o dom de prever o que vai acontecer com uma pessoa observando o rosto dela. Ele acaba sendo recrutado por grupos de espiões para descobrir traídores em potencial. Ao longo dos três volumes essa história vai se modificando um pouco.
Gostei de saber uma história bastante curiosa sobre esse livro. O romance foi dividido em três volumes porque o autor não gosta de livros muito longos - reunindo os três volumes o romance fica com aproximadamente 1400 páginas. É um enorme catatau, sem dúvida.
Mas aqui cabe uma digressão da minha parte: pelo que ando lendo em diversos lugares (veja aqui), os romances mais longos estão de fato na moda. Quer exemplos? Para citar os nossos contemporâneos: As correções, do aclamado Jonathan Franzen tem 584 páginas e parece que Freedom não fica atrás; Do Roberto Bolaño, 2666 tem 856 páginas e Os detetives selvagens tem 624 páginas; Do Thomas Pynchon, Mason & Dixon tem 846 páginas e O arco-íris da gravidade tem 786 páginas; Submundo, de Don Dellilo tem 736 páginas. Apenas por curiosidade, alguns antigos e outros nem tanto: Ulisses, de James Joyce tem 912 páginas; Moby Dick, de Herman Melville tem 656 páginas; Grandes esperanças, de Charles Dickes tem 536 páginas; Anna Karienina, de Tolstói tem 816 páginas. Isso porque nem mencinei Dostoievski, Günter Grass, Haruki Murakami, Thomas Mann e Marcel Proust - Em busca do tempo perdido tem 7 volumes.
Tudo isso parece um contracenso se pensarmos que estamos em plena era do twitter e seus famigerados 140 caracteres. A tendência ainda nega a tão falada superficialidade de informações no mundo contemporâneo. Não é qualquer escritor que tem fôlego para manter romances tão longos e dentre os citados, todos fazem parte de um cânone moderno/pós-moderno. Também não se engane pensando que você nunca vai encontrar gente de gerações mais novas com um desses longos romances nas mãos. Muitos desses escritores são bastante comentados na internet.
O capricho, vou chamar assim, de Javier Marias se explica pelo seu gosto por livros não tão longos. Porém, os editores já podem avisar Marias que ele não deve ter nada mais a temer.
JAVIER MARIAS E OS ROMANCES LONGOS
quarta-feira, 22 de setembro de 2010
NOTAS #1
A editora inglesa Self Made Hero está lançando uma graphic novel para Coração das trevas (imagem), de Joseph Conrad, ilustrado com desenhos feitos à lapis pela artista queniana Catherine Anyango. O texto foi adaptado por David Zane Mairowitz. Considerado a obra-prima de Conrad, esse romance narra a viagem de Marlowe pelas selvas africanas em busca de um comprador de marfim chamado Kurtz. A graphic novel ainda inclui trechos do diário do congo escrito por Joseph Conrad.
Criador e criatura
Em 1975, William Burroughs não só assistiu a um show do Led Zeppelin como também entrevistou Jimmy Page e escreveu um longo artigo sobre tudo o que viu. Aliás, muita gente atribui a Burroughs a invenção da palavra 'heavy metal' que teria aparecido pela primeira vez em seu romance, Almoço nu. O artigo entitulado "Rock Magic: Jimmy Page, Led Zeppelin, And a search for the elusive Stairway to Heaven" foi publicado numa revista underground, chamada Crawdaddy e reapareceu na internet. Embora tenha gostado do show, Burroughs ficou imensamente preocupado com os riscos de que algum acidente pudesse acontecer a qualquer momento. O artigo pode ser lido na integra em http://bit.ly/55ElJh
Troca de colunistas
A escritora Zadie Smith vai assinar a coluna "New Books" da revista americana Harper's. Ela vai ocupar o lugar de Benjamin Moser que continuará contribuindo com a revista. Além de ser uma escritora reconhecida internacionalmente, Smith já demonstrou seu poder crítico escrevendo ensaios de fôlego para revistas como The New York Review of Books, por exemplo. A primeira coluna assinada por ela deve ser publicada em Março do ano que vem.
Cartas de Oscar Wilde
Uma coleção de cartas escritas por Oscar Wilde vão a leilão na Inglaterra em 24 de Setembro próximo. A descoberta dessa correspondência está causando interesse em muita gente por causa de seu conteúdo. São cartas de Wilde endereçadas com bastante afeto a Alsager Vian, seu colega e editor da Society Magazines em 1887. As cartas foram escritas anos antes de Oscar Wilde ter sido condenado por atentado violento ao pudor e ter sido submetido a dois anos de trabalhos forçados.
A intimidade de Roland Barthes
O diário escrito por Roland Barthes em 1977, logo após a morte de sua mãe, será publicado pela editora Hill and Wang. Mourning diary conta com 330 anotações que mostram as reflexões subjetivas e o estado de tristeza em que o grande semiótico da cultura francesa se encontrava naquele momento. A revista New Yorker divulgou algumas imagens do diário em http://nyr.kr/ds6HZW
Uma tarefa nada fácil
O arco-íris da gravidade, cultuado romance de Thomas Pynchon, foi ilustrado pelo artista plástico Zak Smith. Usando muitas pinturas e fotos experimentais, ele conta que tentou traduzir literalmente os trechos do livro em imagens página por página. O resultado final do trabalho foi exposto no Whitney Museum em Nova York e faz parte do acervo permanente do Walker Art Center na cidade americana de Minneapolis. As ilustrações também estão disponíveis na internet em http://bit.ly/L1m9F
Paris Review na era da internet
O editor Lorin Stein está cumprindo a sua promessa de renovar a revista Paris Review. A edição de outono é o primeiro número sob seu comando e está recheada de ares franceses: Michel Houellebecq é um dos entrevistados e Lydia Davis escreveu um artigo sobre Flaubert. De olho na internet Stein também reformulou inteiramente o site da revista. Além do novo visual, o site conta com um blog diário e grande parte do conteúdo impresso está disponível - incluindo, por exemplo, a entrevista de E. M. Foster para a edição nº 1.
*Imagem: reprodução.
NOTAS #1
terça-feira, 21 de setembro de 2010
SOBRE AS PERGUNTAS...
Valeu a atenção e a participação de todo mundo.
SOBRE AS PERGUNTAS...
segunda-feira, 20 de setembro de 2010
A PALAVRA NA CARNE: TATUAGEM LITERÁRIA
A ideia foi simples: colocaram um post no blog pedindo as pessoas que enviassem fotos de suas próprias tatuagens. Em menos de três horas já começaram a receber um monte de contribuições. Os selecionados ganharam o direito de participar do livro - no total foram selecionadas 150 fotos. Cada foto vem acompanhada de pequenos textos que contam o motivo que levou a pessoa da foto a escolher aquele texto e o que ele diz sobre essa pessoa.
Tudo isso me lembrou a coleção Penguin Ink, da editora Penguin. De tão bonito, chega a dar vontade de tatuar, né? Abaixo o trailer do projeto:
*imagem: reprodução.
A PALAVRA NA CARNE: TATUAGEM LITERÁRIA
domingo, 19 de setembro de 2010
DAVID FOSTER WALLACE
Sucesso de crítica, David Foster Wallace era tido como um promessa para a literatura do século XXI. Infelizmente ele cometeu suicídio em 2008 depois de um período longo de depressão profunda. Deixou uma obra composta por romances monumentais, livros de contos e artigos escritos para jornais e revista americanas. Infinite Jest, publicado em 1996, chegou a ser comparado ao Ulisses, de James Joyce. No Brasil, Breves entrevistas com homens hediondos foi seu único livro publicado.
Ao que parece, Foster Wallace tinha certa preocupação em dar continuidade a tradição de ficcionistas americanos que o precediam. Leitor de Thomas Pynchon e Don Delillo, ele tentava arranjar uma maneira de soar original e encontrar uma voz própria. A tarefa era difícil, esses autores transformaram radicalmente a ficção americana e a levaram a lugares nunca antes visitados. A saída encontrada por Foster Wallace foi descontruir a linguagem e atacar a estrutura da narrativa.
Isso explica porque sua ficção é repleta de lacunas, espaços em branco, palavras inventadas, frases bem longas, pontuação irregular, muitas intervenções, fórmulas matemáticas, diálogos imensos, etc. A metalinguagem e as enormes notas de rodapé também são marcas de seu estilo. Os temas giram em torno da classe média americana, mas de uma maneira mais sarcáticas e cheia de humor negro. Suas personagens sempre sofrem de algum tipo de psicose ou vivem as voltas com certas obsessões. Elas são capazes de falar por páginas e mais páginas sobre um mesmo assunto. Sexo, drogas e pervesão aparecem a todo o momento.
Porém, também existe espaço para a beleza, a alegria e o humor. As situações insólitas das histórias causam gargalhadas. Muitos críticos chegam a dizer que Foster Wallace tomou emprestado a classe média de Updike e a levou para o lado obscuro, ironico e sarcástico da vida. Atrás do caos aparente existe a sensibilidade de um escritor que está nos mostrando aos mesmo tempo a força e a fraqueza humana.
O experimentalismo em excesso às vezes pode afastar o leitor menos desavisado. De fato, em certos momentos o enredo parece não sair do lugar ou o assunto fica por demais árido - como é o caso de Datum centurio e Adult World (II), ambos de Breve entrevistas com homens hediondos.
Essa semana duas notícias devem colocar o nome de Foster Wallace em evidência novamente: o arquivo do escritor que está sob os cuidados do Harry Ransom Center, Universidade do Texas foi aberto ao público; e Pale King, um romance inacabado, terá publicação no ano que vem. Alguns trechos desse romance foram publicados na revista New Yorker: Good people, Wiggle room e All that.
Tomara que novas traduções de Foster Wallace apareçam no Brasil. Tive notícia de que dois livros de não ficção devem estar a caminho.
* Me refiro as modificações radicais da linguagem e das estruturas narrativas. Também quero deixar claro que não estou exaltando o "experimentalismo" em detrimento de outros modos de expressão.
DAVID FOSTER WALLACE
O GOSTO LITERÁRIO DOS PRESIDENCIÁVEIS
O GOSTO LITERÁRIO DOS PRESIDENCIÁVEIS
sexta-feira, 17 de setembro de 2010
VERÔNICA STIGGER
VERÔNICA STIGGER
quinta-feira, 16 de setembro de 2010
CARLOS DE BRITO E MELLO
Não consigo me lembrar com clareza do meu primeiro livro. Na infância, quando eu ainda não sabia ler, minha mãe lia para mim. Então, algumas obras que ela escolhia passaram a ser, à medida que eu aprendia a ler, as minhas obras de referência. A escola também foi decisiva nisso. Na lista das primeiras leituras estavam: Flicts, do Ziraldo; a saga do Picapau Amarelo, do Monteiro Lobato (na escola, sobretudo, onde o estudo da obra foi empregado com muita sensibilidade no próprio processo de alfabetização); e O pequeno Nicolau, de Sempé e Goscinny (que era uma leitura da minha mãe). Acho que esse primeiro contato com a leitura foi marcantemente amoroso para mim e, com isso, estabeleceu uma relação entre a experiência da palavra e a experiência afetiva que, hoje, percebo em meu trabalho. Mais tarde, na pré-adolescência, tive contato com outra obra incrível: O gênio do crime, de João Carlos Marinho. Daí vieram, do mesmo autor, Sangue Fresco, Caneco de Prata e mais..., vinculando, de maneira decisiva para mim, narrativa e aventura.
Alguma vez você considerou a hipótese de não ser escritor?
Eu tenho outras atividades além da literária: sou professor universitário, tenho diploma de jornalista, desenvolvo atividades relacionadas às artes plásticas (sobretudo com pintura e desenho) e faço formação psicanalítica. Nada disso se opõe à escrita, nada disso a neutraliza – embora haja sempre uma disputa pelo tempo. Acho que, por um lado, ser escritor é uma construção difícil, improvável, sem certificação, sem diploma, sem comprovação de endereço. Então, ser escritor significa ser também algo que carece de materialidade, de objetividade, de certeza. É uma estranha forma, digamos... de não ser. Por outro lado, acho que, depois de ter me dado conta desse desejo, do desejo de escrever, se eu não escrevesse, ainda assim seria um escritor, um escritor sem obra talvez... (risos). Depois que você aceita a escrita, como se aceita algum tipo de maldição, não tem retorno. Ainda que você não escreva, vai continuar amaldiçoado.
Na sua opinião, todas as histórias já foram escritas ou ainda é possível criar novas histórias? Há novas formas de contar histórias?
Acho que é sempre possível contar outras histórias, não necessariamente novas. Os enredos de Rei Lear e Hamlet, por exemplo, já existiam antes que Shakespeare os transformasse em obras-primas. Talvez porque a questão resida mesmo na produção de um modo singular para a palavra, e esse modo é formulado na tensão do espírito com o seu tempo. Não há como prevê-lo. A própria noção de quem somos configura-se como uma pequena e ordinária narrativa que nos localiza no mundo. A literatura tanto pode atuar tanto nesse processo de localização quanto de retirada: aí o mundo não se torna nem melhor nem pior; torna-se apenas um outro mundo que foi aberto pela palavra.
No que você está trabalhando agora?
Estou trabalhando no próximo romance. O projeto foi selecionado pela Bolsa Funarte de Literatura, então, devo ter seis meses para realizá-lo. Estou enfrentando aquelas jornadas longas de trabalho em que passo mais tempo tateando do que compreendendo. Prefiro reservar minhas manhãs para isso, para que a escrita não seja muito afetada pelo resto do dia.
Quem são os seus escritores favoritos com mais de quarenta anos?
Dentre tantos, vou citar três potentes referências para mim: Bernardo Carvalho, Luiz Ruffato e Lourenço Mutarelli.
CARLOS DE BRITO E MELLO
quarta-feira, 15 de setembro de 2010
ROMANCE DE HARUKI MURAKAMI INSPIROU REVISTA CHINESA
O nome do romance tem uma clara referência ao clássico "1984", de George Orwell. Porém, o escritor japonês disse em entrevista que seu romance é diferente porque olha para o passado.
Para quem não se lembra, os dois primeiros volumes de "1Q84" foram um sucesso antes mesmo do lançamento. Parece que no Japão o livro já vendeu mais de 2 milhões de exemplares, encabeçando a lista dos livros mais vendidos do país em 2009. O terceiro volume foi lançado esse ano. Não encontrei notícia sobre a previsão de lançamento desse romance com seus três volumes em português.
Por aqui, a editora Alfaguara está lançando esse ano outro livro de Murakami, "Do Que Eu Falo Quando Falo De Corrida" - uma espécie de ensaio em que o escritor fala sobre a prática da corrida em sua vida.
*imagem: reprodução do blog Danwei.
ROMANCE DE HARUKI MURAKAMI INSPIROU REVISTA CHINESA
terça-feira, 14 de setembro de 2010
DANIEL GALERA
DANIEL GALERA
ANDRÉ LAURENTINO
Não lembro exatamente qual foi o primeiríssimo. Mas lembro de alguns que, por motivos diversos, marcaram. Ed Mort e outras histórias, lido na sexta série do Colégio de São Bento. Indicação de um amigo, Edvaldo. Até ali eu nunca tinha imaginado que livros pudessem ser engraçados. Lembro de interromper a leitura para gargalhar. Luis Fernando Verissimo é um grande formador de leitores. Este aqui, por exemplo. O fator humano, de Graham Greene. Pelo lado oposto. Trouxe um tema sério, analisado num curso de inglês, em Olinda, que marcou minha relação com os livros. A Penguin e a literatura inglesa foram portas importantes para mim. O padre irlandês Frank Murphy, que ministrava o curso, fez uma análise detalhada da história deste romance Graham Greene é até hoje um dos meus favoritos. Bliss and other stories, da neozelandesa Katherine Mansfield. Delicadeza, fluxo de consciência, epifania, monólogo interior, contos aparentemente sem grandes reviravoltas nos enredos. Li tudo dela depois. E Gilvan Lemos. Um pernambucano pouco divulgado, mas de grande valor. Li no colégio, para formação, seu O anjo do quarto dia. Fiquei tão encantado com um personagem (intelectual de interior, que escrevia artigos para lá de empolados - muito divertido) que passei a escrever artigos para mim mesmo com o mesmo estilo, só para continuar me divertindo com aquilo depois que o livro acabou.
Alguma vez você considerou a hipótese de não ser escritor?
Claro que sim. Claro que não.
Na sua opinião, todas as histórias já foram escritas ou ainda é possível criar novas histórias? Há novas formas de contar histórias?
Todas as histórias não foram contadas. Mas todos os temas já foram abordados. Mas isso não é má notícia ou problema. Um poema de amor não invalida todos os outros que ainda estão por vir ou que já foram. E há novas formas de contar histórias. Independentemente da mídia que se escolhe. Há maneiras mais tradicionais (com começo, meio e fim bem definidos) e outras mais variadas (final inconclusivo, experiências no limite da estrutura, contar de trás para frente, etc). Às vezes a maneira de se contar uma história vale mais, prende mais, do que a própria história em si. Por exemplo, há pessoas que contam uma ida banal ao supermercado de um modo que você morre de rir e todo mundo pára no cafezinho da firma para ouvir. E há pessoas que contam a morte do pai, por exemplo, de um modo tão chato que ninguém suporta ouvir. Saber contar uma história exige um tipo específico de talento.
No que você está trabalhando agora?
Se eu contar, a mágica evapora. Pode parecer dessas superstições bobas, mas que las hay las hay.
Quem são os seus escritores favoritos com mais de quarenta anos?
Já dei pistas na primeira resposta. Mas aqui vão mais alguns. Não em ordem de preferência: Graham Greene, Katherine Mansfield, Gabriel García Márquez, Mario Vargas Llosa, Philip Roth, Milton Hatoum, Jorge Amado, Guimarães Rosa, Antonio Maria, Rubem Braga e Viva o Povo Brasileiro, de João Ubaldo Ribeiro. De poesia (tenho que colocar os poetas aqui): João Cabral, Manuel Bandeira, Ferreira Gullar, Fernando Pessoa.
ANDRÉ LAURENTINO
domingo, 12 de setembro de 2010
A GRAPHIC NOVEL DE WILLIAM BURROUGHS
Segundo a editora, as primeiras tirinhas foram criadas por Burroughs e McNeil nos anos 70 e publicadas numa revista chamada Cyclops com o título de The Unspeakable Mr. Hart - algo como, 'O indescritível Sr. Hart'. Mais tarde, os dois decidiram ampliar a ideia e criar o que eles chamaram de um "romance de palavra e imagem" (o termo graphic novel ainda não tinha sido criado). O livro não foi aceito por nenhum editor da época e tanto Burroughs quanto McNeil decidiram abandonar o projeto.
"(...) um magnata chamado John Stanley Hart, dono de um jornal bilionário obcecado em descobrir alguma maneira de alcançar a imortalidade. Com base em fórmulas contidas em livros maias que foram redescobertos, ele tenta criar um máquina de controle midiático usando as imagens de medo e morte. Ao aumentar o controle, porém, ele desvaloriza o tempo e invoca um inimigo implacável: Ah Pook, o deus da morte Maia. Jovens heróis mutantes usando a mesma fórmula Maia de viagens através do tempo trazem pragas biológicas do passado remoto para destruir Hart e sua realidade temporal judaico-cristã" (tradução minha).
A GRAPHIC NOVEL DE WILLIAM BURROUGHS
sábado, 11 de setembro de 2010
OS SUPLEMENTOS LITERÁRIOS: JORNAL x INTERNET
Afinal, me diga quem de nós não ficaria contente em ter um suplemento literário desses na mão? Só o tempo poderá dizer se a decisão foi certa ou errada.
Aqui no Brasil, o Sabático e o Prosa & Verso são os único suplementos que temos desse tipo no meio impresso - o primeiro é do Estadão e o segundo do Globo. A Folha de SP por meio da Ilustrada e Ilustríssima também comenta bastante sobre livros, mas não tem um suplemento específico. Das revistas apenas as mensais Bravo! e Cult dedicam páginas ao assunto livros. As semanais Época e Veja falam muito pouco. A Piauí em algumas edições também trata do assunto.
Como bem apontou Sérgio Rodrigues há uma "floresta de interrogações" quando o assunto é suplemento literário impresso: "Precisaremos mesmo deles no ambiente de descentralização da crítica e da informação que vem sendo construído pela blogosfera? Seria essa descentralização um retrocesso ao nível da conversa de botequim? Ou uma libertação do jugo de autoridades críticas autoproclamadas, mas pouco representativas?".
OS SUPLEMENTOS LITERÁRIOS: JORNAL x INTERNET
sexta-feira, 10 de setembro de 2010
LÍVIA SGANZERLA JAPPE
Qual foi o primeiro livro que você leu e que teve impacto sobre você?
Há um livro que me acompanha há muito tempo e que sempre me mobiliza de um modo especial: "Um Copo de Cólera". A escrita de Raduan Nassar é primorosa e nada tem a ver com modismos. É sublime o modo como ele faz as palavras se abrirem, depurando o sentido genuíno de cada uma delas. A relação que se estabelece entre um leitor e um livro é muito pessoal e sempre inesperada, de modo que muitos livros dialogaram comigo em instâncias profundas. Cresci lendo os clássicos, gosto muito dos russos e dos japoneses, mas o que verdadeiramente me interessa é Literatura genuína, portentosa, que não se mede pela construção inofensiva.
Alguma vez você considerou a hipótese de não ser escritora?
Muito mais importante do que escrever é ler. Sou uma leitora apaixonada desde a infância e este amor pelas palavras e pelas histórias vem comigo desde sempre. Escrevinho desde criança, mas nunca tive a pretensão de monitorar o que poderia vir a ser a condição de escritora porque minha relação com as palavras é de boniteza. Implica amor. Eu apenas me curvo à necessidade visceral de estar entre as palavras porque me movo na essência do imaginário.
Na sua opinião, todas as histórias já foram escritas ou ainda é possível criar novas histórias? Há novas formas de contar histórias?
Acho uma enorme pretensão de minha parte afirmar que todas as histórias já foram escritas. Demócrito dizia que há uma infinidade de mundos, entre os quais alguns são não apenas parecidos, mas perfeitamente iguais. O mesmo vale para as histórias: o imaginário é um espaço mágico, riquíssimo, e a mesma história é infinita, variável de acordo com a imaginação de quem a tece. Hoje, como em qualquer tempo, há Literatura de boa e de má qualidade. Me parece que, atualmente, estabeleceu-se um certo modo de se "escrever à moderna", com o predomínio de uma técnica que não admite conciliação entre a artesania da linguagem e um senso crítico aguçado. Uma boa história, para mim, aproxima-se do gênio simples e perturbador, do ponto de vista da reflexão, de Tolstoi. Admiro muitíssimo os paradoxos nas histórias tolstoianas, nas quais os conflitos são expostos, mas não nos são dadas soluções perfeitas para resolvê-los. Gosto do que não se quer pretender perfeito. O importante é que haja inteireza.
No que você está trabalhando agora?
Creio que literatura não se faz no tempo do relógio, mas no tempo das costuras. Tenho uma relação respeitosa com as palavras, de modo que, quando se quiserem dizer, virão à tona, e eu lhes darei passagem. Nós, os "modernos", não temos mais a confiança na elaboração das coisas silenciosas, na presença muda das coisas, mas eu creio nelas, eu creio no aprendizado e no amadurecimento, e minha artesania é toda ela à moda antiga.
Por ora, vou publicar, na companhia do impecável gênio de Odilon Moraes, ilustrador paulista, um conto na revista "BRAVO!", e, em alguns dias, parto para o Reino Unido, onde farei Mestrado em Política Internacional. Creio que um período entre os livros, para estudar, e observar as coisas do mundo, enriquecerá a alma e minha relação com as palavras. Há muito para eu aprender, é longa a jornada em busca das coisas simples. São as coisas simples que nos levam às coisas mágicas.
Quem são os seus escritores favoritos com mais de quarenta anos?
Tolstoi é absoluto em sua capacidade de colocar minha alma em estado de perturbação. Aprendo, também, intimamente lições preciosas com Marguerite Duras e Gaston Bachelard, e saio encharcada da difícil missão humana de conviver com as luzes e as sombras da psique. Raduan Nassar, Lygia Fagundes Telles, Milton Hatoum, Fernando Pessoa e Clarice Lispector me acompanham há anos, e, com eles, cada vez mais, entendo que o tempo das palavras é irmão do naufrágio da instrospecção. Nenhuma mágica se mostra tão poderosa quanto um bom livro.
*ilustração: Nathália Lippo.
LÍVIA SGANZERLA JAPPE
quinta-feira, 9 de setembro de 2010
ESTEVÃO AZEVEDO
ESTEVÃO AZEVEDO
COM LICENÇA POÉTICA, UM UIVO PARA ALLEN GINSBERG
Primeiro, Uivo é um dos meus poemas favoritos e fez a minha cabeça durante muito tempo quando eu era adolescente. Não que eu tivesse a pretensão de fazer poemas. Me fascinava, como me fascina até hoje, a força das imagens que Allen Ginsberg escolheu para compor o painel da América que não aparecia no cinema e no jornal daquele tempo. Sem falar na sintaxe recriada e naqueles longos versos, tão longos que quase nem cabem nas páginas do livro. Para mim Uivo representava uma espécie de síntese da liberdade na poesia. Assim como Walt Whitman tinha feito muitos anos antes em Folhas na relva. Reza a lenda Uivo é uma tentativa de Allen Ginsberg de achar a sua propria voz e se libertar da influência que William Blake exerceu sobre ele. Entre tantas coisas, é um poema sobre liberdade mesmo.
Por último, aqui no Brasil, Cláudio Willer, que traduziu diversas obras beatnicks para o português, está ministrando um curso sobre a geração Beat.
COM LICENÇA POÉTICA, UM UIVO PARA ALLEN GINSBERG
terça-feira, 7 de setembro de 2010
MICHEL LAUB
Na sua opinião, todas as histórias já foram escritas ou ainda é possível criar novas histórias? Há novas formas de contar histórias?
MICHEL LAUB
EDUARDO BASZCZYN
EDUARDO BASZCZYN
segunda-feira, 6 de setembro de 2010
LOLITA, DE VLADIMIR NABOKOV - CAPAS
LOLITA, DE VLADIMIR NABOKOV - CAPAS
domingo, 5 de setembro de 2010
LIMA BARRETO RENOVADO
O caderno Ilustríssima, da Folha de SP, trouxe textos caprichados sobre do escritor Lima Barreto. Dois novos lançamentos devem colocar o nome do autor de "O triste fim de Policarpo Quaresma" em evidência novamente.
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Yudith Rosenbaum fala sobre "Diário do hospício e O cemitério dos vivos" que será lançado pela editora Cosac Naify. O livro foi organizado por Augusto Massi e Murilo Marcondes de Moura. A edição ainda conta com prefácio assinado por Alfredo Bosi e um apêndice incluindo textos de Machado de Assis, Olavo Bilac e Raul Pompeia sobre hospícios.
"Diário de um hospício..." é o diário pessoal que Lima Barreto manteve durante sua internação no Hospital Nacional dos Alienados, Rio de Janeiro, entre 1919 e 1920. Já em "... Cemitério dos vivos", Lima Barreto pretendia transformar sua experiência de loucura em ficção. O livro ficou inacabado.
O blog da Cosac Naify tem um post sobre os bastidores da produção desse livro - "Direto do forno", assinado por Lilia Goes, produtora gráfica da editora.
A Folha disponibilizou "A minha bebedeira e a minha loucura", terceiro capítulo do livro.
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Nicolau Sevcenko conta um pouco da história de Lima Barreto e fala sobre a publicação de "Contos completos de Lima Barreto". O livro será lançado pela editora Companhia das Letras em outubro e conta com organização e apresentação de Lilia Moritz Schwarcz.
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Por fim, o caderno publicou o conto "Apologética do feio" que irá integrar a coletânea de "Contos completos...". Todos esses textos estão disponíveis apenas para assinantes do jornal ou do portal UOL.
LIMA BARRETO RENOVADO
sábado, 4 de setembro de 2010
EMMA BOVARY NA PLAYBOY?
EMMA BOVARY NA PLAYBOY?
sexta-feira, 3 de setembro de 2010
TIAGO NOVAES
TIAGO NOVAES
quinta-feira, 2 de setembro de 2010
MAURÍCIO DE ALMEIDA
Alguma vez você considerou a hipótese de não ser escritor?
Na sua opinião, todas as histórias já foram escritas ou ainda é possível criar novas histórias? Há novas formas de contar histórias?
No que você está trabalhando agora?
Quem são os seus escritores favoritos com mais de quarenta anos?
MAURÍCIO DE ALMEIDA