terça-feira, 7 de setembro de 2010

EDUARDO BASZCZYN


Qual foi o primeiro livro que você leu e que teve impacto sobre você?
Quando procuro na memória o que me trouxe o hábito da leitura, não encontro apenas um livro, mas uma coleção: a série Vaga-Lume, lançada pela Editora Ática nos anos 80. Foram as histórias de autores como Marcos Rey, Marçal Aquino e Luiz Puntel que povoaram minha imaginação e me fizeram companhia por muitas tardes da infância, despertando um vício alimentado até hoje. Mas os livros que mais me impactaram, os que me provocaram ao mesmo tempo angústia e fascínio, foram lidos na adolescência. No difícil exercício de escolher apenas um, destaco "Os Dragões Não Conhecem o Paraíso", de Caio Fernando Abreu. Nele estavam toda a melancolia e a solidão que marcam fases da juventude, em uma linguagem poética, sensível e ao mesmo tempo esquizofrênica. Foram os personagens frágeis e seus amores imperfeitos que me fizeram descobrir logo cedo a instabilidade do mundo e das relações. Não tenho dúvidas de que o efeito provocado por esse, e por todos os outros livros do autor devorados a partir dali, foi decisivo para que eu optasse também pela escrita anos depois.

Alguma vez você considerou a hipótese de não ser escritor?
Na realidade, nunca pensei em ser escritor - pelo menos de forma racional. Não acreditava que a atividade pudesse ser uma profissão como as tradicionais, e escolhi o Jornalismo como o caminho mais prático e seguro para garantir a sobrevivência fazendo algo mais próximo do que eu realmente gostaria de fazer. Mas ter trabalhado em redações e como repórter por mais de dez anos me ensinou, na verdade, como não escrever ficção. São atividades distantes e até contrárias, eu diria. Mas a Literatura sempre esteve por perto, me provocando como as piores tentações, e fazendo com que eu me rendesse. Quando percebi que escrever era uma necessidade, algo essencial para a minha vida, e que aquilo que eu produzia não deveria ficar apenas no escuro das gavetas, decidi me dedicar ao primeiro romance. Desamores foi lançado em 2007 pela Editora 7Letras (e está esgotado atualmente). Escrever o livro de estreia foi descobrir um outro vício além da leitura. Este, bem mais perigoso e sem tratamento. Nada me atrai mais hoje em dia do que a ideia de criar. De trazer ao mundo algo que antes não existia.

Na sua opinião, todas as histórias já foram escritas ou ainda é possível criar novas histórias? Há novas formas de contar histórias?
Há muitas histórias para ser contadas. O que não há são sentimentos inéditos. Todos os que existem e conhecemos já serviram de ingredientes para os livros. Todas as vidas são feitas dos mesmos e imagino que não exista uma única sensação que já não tenha sido descrita ou vivenciada pelos milhares de personagens criados por autores até hoje. Mas cada pessoa enxerga o mundo de uma maneira, e um mesmo episódio ou acontecimento pode ser interpretado de infinitas formas. Há muitos dramas e temas subjetivos a ser explorados ainda. O grande desafio do escritor é criar uma voz própria e segui-la no meio da gritaria.

No que você está trabalhando agora?
Depois da publicação de Desamores, em 2007, me dediquei por um ano e meio ao Núcleo de Dramaturgia do Sesi/British Council, um projeto de formação de novos dramaturgos. Com isso, a ideia e as anotações para o segundo livro ficaram temporariamente guardadas. As atividades com o núcleo resultaram no meu primeiro texto para o teatro, com os direitos para possível montagem cedidos ao Sesi. Em abril deste ano, comecei a escrever o segundo romance. E é nele que trabalho atualmente.

Quem são os seus escritores favoritos com mais de quarenta anos?
Listas de preferidos nunca são definitivas, sempre mudam; mas atualmente meus favoritos, com mais de 40 são: Ian McEwan, Michael Cunningham, Jonathan Coe, Lionel Shriver, Herta Müller e Philip Roth.

*Ilustração: Nathalia Lippo.

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5 comentários:

  1. Juliana Canoura - @_canoura9 de setembro de 2010 às 17:59

    Um sobrenome difícil de pronunciar e uma escrita impossível de largar !

    Li Desamores um ano depois do lançamento,em dois dias terminei a leitura como se tivesse perdido um amigo,de tão envolvente e bem escrito.

    Espero ansiosa o próximo livro.

    Até!
    ;]

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  2. Ansiosa pelo segundo livro. O primeiro foi devorado rapidamente e já passou pela mão de todas as minhas amigas. Quando sairá o novo?

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  3. Legal descobrir que Caio Fernando Abreu está entre as referências do Eduardo (de quem sou fã). Acompanho o blog dele e há realmente certa influência em certos textos.

    Adorei essa série com os novos autores!

    Abraços
    Thays

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