quinta-feira, 2 de setembro de 2010

MAURÍCIO DE ALMEIDA


Qual foi o primeiro livro que você leu e que teve impacto sobre você?
Não me lembro exatamente qual foi o primeiro livro que li, mas lembro de ficar às voltas no colégio com os livros do Pedro Bandeira, principalmente “A droga da obediência”. Nessa época eu não era muito dado a leituras, devo dizer. Só mais tarde, quando comecei a me interessar por literatura, tive o primeiro livro que me marcou: “Água Viva”, da Clarice Lispector. Ler Clarice é sempre uma experiência, mas a primeira leitura que fiz desse livro foi realmente impactante, pois estava escrito ali não o que eu sentia, mas como me sentia, isto é, numa busca que margeia um sentimento sem nunca alcançá-lo ou defini-lo.

Alguma vez você considerou a hipótese de não ser escritor?
É um pensamento que me assalta com alguma freqüência. Não raro passo por algumas crises de fé nas quais não consigo escrever sequer meu nome num pedaço de papel. Nesses momentos questiono a idéia de escrever histórias, mas logo me vem uma palavra, uma frase ou uma idéia qualquer, começo a rascunhar uma situação, um personagem, e lá estou eu escrevendo novamente. Não creio que seja uma designação divina, mas meu modo de me relacionar com as coisas.

Na sua opinião, todas as histórias já foram escritas ou ainda é possível criar novas histórias? Há novas formas de contar histórias?
Penso que tanto histórias como a forma de contá-las estão localizadas e em relação direta com seus contextos sócio-históricos, e estes estão em constante transformação. Ou seja, muito embora existam certas matrizes de histórias (um exemplo seria “Romeu e Julieta” como matriz de uma história de amor), acredito que há novas histórias e principalmente novas formas de contá-las. Aliás, penso que decorre disso o frescor da literatura quando temos um bom livro nas mãos.

No que você está trabalhando agora?
Estou trabalhando num romance que aos poucos vai ganhando corpo. Esse livro já teve inúmeros projetos, formas, personagens e afins, mas penso ter encontrado a forma e tom que estava procurando. Além disso, tenho trabalhado em alguns contos que acabam publicados aqui e ali (o último publicado foi ‘Sagrado Coração’, que está no livro “Como se não houvesse amanhã”, uma antologia de contos escritos a partir das músicas da Legião Urbana organizada pelo escritor Henrique Rodrigues).

Quem são os seus escritores favoritos com mais de quarenta anos?
Essa pergunta sempre tem inúmeras respostas, pois depende muito do que estou lendo no momento. Ultimamente tenho lido bastante poesia e, dentre eles, um dos meus favoritos é o Roberto Piva. Outro é o Ferreira Gullar do “Poema Sujo”.

*Ilustração: Nathalia Lippo.

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