sábado, 25 de setembro de 2010

JAVIER MARIAS E OS ROMANCES LONGOS

A Companhia das Letras está lançando o terceiro e último volume do romance Seu rosto amanhã - veneno, sombra e adeus, de Javier Marias, um escritor espanhol da maior importância. W.G. Sebald, J.M. Coetzee, Roberto Bolaño, Salman Rushdie e Ricardo Piglia estão entre os seus maiores admiradores. Porém, como bem aponta a resenha de Jonas Lopes para a Bravo!, Marias é um sucesso mundial pouco lido e pouco comentado no Brasil.

Aproveito para fazer um "mea culpa": tomei conhecimento dele dois anos atrás por meio de resenhas, mas até hoje ainda não li nenhum de seus livros. Juro que Coração tão branco esta na minha fila de próximas leituras.

Javier Marias já foi traduzido para muitos idiomas e ganhou inúmeros prêmios. É tido como um dos mais importantes escritores vivos da literatura espanhola. Seu sucesso vem da grande qualidade narrativa de seus livros.

Reproduzo aqui um trecho da resenha de Jonas Lopes sobre o método narrativo do escritor. O método é constituído de inúmeras digressões, frases muito longas, contração/expansão do tempo e parece a peça fundamental para entender a sedução que o romance exerce sobre nós, os leitores: "A magia de ler Marías (...) está na capacidade de promover digressões, no turbilhão inescapável de idéias. (...) Até onde contar - falar, relatar, narrar, sobretudo confiar - pode ser arriscado? Ao contarmos o que quer que seja, arriscamo-nos à traição. Perdemos o controle sobre nossas vidas, de certo modo, abandonando na mão de outro - um amigo, um amor, o leitor do livro - uma responsabilidade essencial".

De maneira bem resumida, Seu rosto amanhã conta a história de um ex-professor de Oxford que tem o dom de prever o que vai acontecer com uma pessoa observando o rosto dela. Ele acaba sendo recrutado por grupos de espiões para descobrir traídores em potencial. Ao longo dos três volumes essa história vai se modificando um pouco.

Gostei de saber uma história bastante curiosa sobre esse livro. O romance foi dividido em três volumes porque o autor não gosta de livros muito longos - reunindo os três volumes o romance fica com aproximadamente 1400 páginas. É um enorme catatau, sem dúvida.

Mas aqui cabe uma digressão da minha parte: pelo que ando lendo em diversos lugares (veja aqui), os romances mais longos estão de fato na moda. Quer exemplos? Para citar os nossos contemporâneos: As correções, do aclamado Jonathan Franzen tem 584 páginas e parece que Freedom não fica atrás; Do Roberto Bolaño, 2666 tem 856 páginas e Os detetives selvagens tem 624 páginas; Do Thomas Pynchon, Mason & Dixon tem 846 páginas e O arco-íris da gravidade tem 786 páginas; Submundo, de Don Dellilo tem 736 páginas. Apenas por curiosidade, alguns antigos e outros nem tanto: Ulisses, de James Joyce tem 912 páginas; Moby Dick, de Herman Melville tem 656 páginas; Grandes esperanças, de Charles Dickes tem 536 páginas; Anna Karienina, de Tolstói tem 816 páginas. Isso porque nem mencinei Dostoievski, Günter Grass, Haruki Murakami, Thomas Mann e Marcel Proust - Em busca do tempo perdido tem 7 volumes.

Tudo isso parece um contracenso se pensarmos que estamos em plena era do twitter e seus famigerados 140 caracteres. A tendência ainda nega a tão falada superficialidade de informações no mundo contemporâneo. Não é qualquer escritor que tem fôlego para manter romances tão longos e dentre os citados, todos fazem parte de um cânone moderno/pós-moderno. Também não se engane pensando que você nunca vai encontrar gente de gerações mais novas com um desses longos romances nas mãos. Muitos desses escritores são bastante comentados na internet.

O capricho, vou chamar assim, de Javier Marias se explica pelo seu gosto por livros não tão longos. Porém, os editores já podem avisar Marias que ele não deve ter nada mais a temer.

*imagem: divulgação.

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