Qual foi o primeiro livro que você leu e que teve impacto sobre você?
Quando ainda não sabia ler, ouvia LPs coloridos que contavam historinhas. Creio que, antes de qualquer livro, a historinha que mais teve impacto sobre mim foi A formiguinha e a neve. A formiguinha estava com o pé preso na neve e ela rogava ao sol: “Ó, sol, tu que és tão forte, derrete a neve que prende o meu pezinho”. E o sol respondia: “Mais forte do que eu é o muro que me tapa”. A formiguinha então pedia ajuda ao muro: “Ó, muro, tu que és tão forte, que tapa o sol, que derrete a neve, desprende o meu pezinho”. E o muro dizia que o rato era mais forte que ele porque o roía. Assim a formiguinha prosseguia pedindo ajuda àqueles que eram considerados os mais fortes e todos se recusavam a ajudá-la. Eu adorava a estrutura repetitiva da história e, ao mesmo tempo, ficava muito aflita com o drama da formiguinha. Engraçado que nunca me interessou o final redentor, em que Deus a salva, mas, sim, as reiteradas súplicas da formiguinha. Aliás, até responder a esta sua pergunta, tinha me esquecido completamente do final da história, só me lembrava da angústia da formiguinha. Foi o Google (já que não tenho mais os discos) que me ajudou a relembrá-la. Acrescento apenas que acho que algo dessa estrutura repetitiva aparece em meus primeiros contos, sobretudo do primeiro livro, O trágico e outras comédias.
Alguma vez você considerou a hipótese de não ser escritora?
Sim. Na verdade, talvez nunca tenha considerado a hipótese de ser escritora.
Na sua opinião, todas as histórias já foram escritas ou ainda é possível criar novas histórias? Há novas formas de contar histórias?
Creio que é sempre possível inventar novas formas de contar velhas histórias. Esse é, aliás, o grande desafio do escritor.
No que você está trabalhando agora?
Estou trabalhando em dois livros. Um deles será um livro de contos e se chamará Sul. Será composto de três textos mais longos – bem ao contrário dos contos curtos do meu último livro, Os anões. O outro será uma novela e se chamará Opisanie swiata, que quer dizer “descrição do mundo” e é como se traduz Il Milione, o livro de viagens de Marco Polo, para o polonês. É justamente como uma espécie de relato de viagens que essa novela deverá se constituir. A idéia é acompanhar o deslocamento do protagonista, Opalka, um cinqüentão, desde a Polônia até a floresta amazônica. Em sua terra natal, ele recebe uma carta por meio da qual descobre que tem um filho em Manaus e que este está muito doente. Daí a necessidade de voltar à Amazônia. Foi com o projeto para este livro que fui contemplada no Programa Petrobras Cultural deste ano.
Quem são os seus escritores favoritos com mais de quarenta anos?
Vale morto recente? Se sim, Roberto Bolaño.
*ilustração: Nathalia Lippo.
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