segunda-feira, 14 de junho de 2010

A FALTA DE COBERTURA DA IMPRENSA QUANDO OS LIVROS SÃO A NOTÍCIA


Ouço muita gente falando a respeito da pequena atenção que os jornais e revistas tem dedicado aos livros. As resenhas e críticas estão sumindo. Quase não há mais espaço para essas coisas nas seções de cultura. Talvez a única exceção seja o caderno SABÁTICO do Estadão que circula aos sábados - único caderno dedicado totalmente ao assunto. Mas o problema parece que não se restringe somente ao Brasil. John Palattella, um jornalista americano, escreveu um artigo para o The Nation falando como os livros estão sumindo dos semanários americanos - The Death and Life of the Book Review (A Morte e a Vida da Crítica Literária). Por crítica literária, devemos entender a cobertura de notícias referente a livros e ao mercado editorial, de maneira ampla.

É evidente que no artigo muitos fatos mencionados tratam da realidade da imprensa americana. Porém, alguns pontos servem para ilustrar a nossa situação. Sobretudo quando Palatella menciona a internet. Vou destacar dois pontos que considero importantes:

1. Na imprensa atual, a crítica literária sofre de um problema cultural e não apenas econômico. Os jornais e revistas estão contendo custos para sobreviverem nesse momento de incertezas quanto ao seu futuro. Na tentativa de ter um produto mais rentável, apelam para notícias que sejam mais vendáveis e cortam ou reduzem o conteúdo que julgam pouco popular - como é o caso da crítica literária. Ao contrário desse pensamento, Palatella demonstra que são os próprios jornais e revistas os responsáveis por essa redução já que dentro das redações impera uma atitude "anti-intelectual" (uma falta de interesse dos jornalistas por ideias diferentes do senso-comum).

2. Na internet tudo o que importa é ser o mais rápido a dar a notícia. Como os jornais e revistas reduzem a crítica literária no meio impresso, a internet passa a ocupar esse espaço deixado. Porém, na internet existe uma obsessão em ser o primeiro a dar uma notícia e colocar no site o máximo de conteúdo que você puder. Não importa a qualidade, mas o quão rápido você pode ser. Palatella ainda fala que muitas redações não se preocupam em colocar um conteúdo incorreto no site - depois é possível corrigir na edição impressa que tem muito mais credibilidade.

No Brasil, a rasa cobertura literária feita pela imprensa tem origem no problema da educação e da pouca expressão do mercado editorial - quase não lemos e compramos poucos livros. Talvez com uma cobertura maior e mais interessante dos jornais e revistas, pudessemos mudar um pouco esse quadro. Afinal, os jornais e revistas são os responsáveis por colocar em circulação as opiniões críticas a respeito de um livro. Muita gente pode conhecer, comprar e ler um livro pelo simples fato de ter lido uma crítica a respeito dele.

Falta um pouco de ousadia na imprensa: não apostam em ideias novas e fazem resenhas de livros para cumprir tabela. Conter custos não é razão para reduzir a critíca literária. Muito pelo contrário, uma boa cobertura pode atrair novos leitores e aumenta a venda de um livro. Essa mesma falta de ousadia acontece na internet. De fato, existe uma obsessão em ter uma quantidade de notícias pouco relevantes. E infelizmente, quem gera conteúdo copia muita coisa. Sem contar a dispersão que a internet provoca no leitor. Clicando em links e se perdendo em informações.

Termino com as mesmas palavras que John Palatella: "Apesar da turbulência e das inúmeras dúvidas, acho que não há momento melhor que o presente para que a imprensa faça a cobertura de livros" (tradução minha). Recomendo a leitura do artigo.

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