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Hoje de manhã eu estava lendo uma novela escrita por Dostoiévski e não sei porque razão pensei em José Saramago. Quer dizer, acho que sei. Foi por conta de uma conversa que tive com alguém sobre o fato dos romances de Saramago não terem pontuação. Eu disse, na ocasião, que achava que a escrita dele não tinha pontuação para privilegiar o fluxo de consciência e a polifonia das vozes que narram a história que estamos lendo. Foi uma coisa que me ocorreu naquele momento. Lendo Dostoiévski pensei rapidamente nisso: fluxo de consciência, polifonia, vozes narrativas, etc. De alguma maneira o que estava em um, estava no outro.
Cerca de meia hora depois recebi um telefonema de um amigo. Ele me disse "você ficou sabendo que o Saramago morreu". Fiquei muito surpreso na hora porque sabia que a saúde de Saramagamo estava frágil. Mas morrer? Nunca pensei. Me senti como no romance A hora da estrela, de Clarice Lispector. No final, o narrador Rodrigo SM, diz assim: "Meu deus, só agora me lembrei que a gente morre (...)". E se naquela hora me dei conta de que também os escritores morrem.
Não preciso dizer da importância de Saramago para a literatura. O fato de ter recebido um prêmio Nobel já diz muita coisa por si. Aliás, quando ele recebeu o prêmio Nobel disse que se sentiu a pessoa mais sozinha do mundo. Ele estava num aeroporto, se preparando para alguma viagem. E no corredor, solitariamente, ele não pode compartilhar ou comemorar sua alegria. Agora, somos nós que estamos sozinhos, solitários.
*imagem: reprodução da Fundação José Saramago
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