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As teorias selvagens é um livro bastante engenhoso e cheio de humor. O melhor de tudo é que Pola recorreu aos temas da cultura pop para dar forma ao romance e brincar com coisas sisudas da literatura. Caminham lado a lado coisas como hackers, nerds, Google, música dos anos 80, videogame, blogs, redes sociais, conhecimento enciclopédico de filosofia, sociologia e antropologia.
Não é um romance de leitura fluída, rápida. Exige certa atenção por parte do leitor para fazer as ligações entre a galeria de personagens soltos ao longo do tempo. Também precisamos ter algumas referências sobre as questões que ela aborda como a ditadura militar na Argentina, a juventude universitária de Buenos Aires (que existe em qualquer parte do mundo), a coisa hacker/nerd, programas de TV, música brasileira, música pop etc.
Como ela mesma explica numa entrevista ao programa Entrelinhas, da TV Cultura, a ideia do romance era abordar as questões de intercâmbio de informações entre as pessoas. Todo mundo quer comunicar, seduzir e dominar outras pessoas por meio do conhecimento e isso fica bem claro no enredo.
Durante a ditadura militar havia um controle de informações por parte do governo, mas também havia esse mesmo controle por parte da militância anti-ditadura. Os desdobramentos desses dois discursos no mundo de hoje também se afastam cada vez mais daquela realidade em que foram criados. Problema semelhante ocorre hoje no mundo virtual da era Google - tudo o que você faz na rede está alimentando um banco de informações enorme sobre os seus hábitos e gostos particulares. Será que seu "eu" virtual realmente corresponde ao seu "eu" real?
Outra questão interessante é a relação que o romance estabelece entre o universo ficcional (o
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Alguém disse que romance bom não precisa de explicações, o leitor entende o que o autor quer dizer. Só que minha defesa não é uma inferência (não estou explicando coisas) sobre o romance. Tudo isso que falei está pulando nas páginas do livro da Pola. Falei até meio desordenadamente porque não tive tempo de elaborar e desenvolver melhor as ideias. De qualquer forma, As teorias selvagens é um grande romance e acho que deveriam dar uma nova chance a beleza intelectual estonteante da Pola Oloixarac.
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PS: não tenho nada contra o valter hugo mãe, pelo contrário! Os romances dele também são de tirar o fôlego. Com a Pola, acho que ele guarda a experimentação e esse afastamento do discurso oficial da história que é tido por muitos como sagrado. Não é à toa que a mesa dos dois na FLIP chamava "Pontos de fuga". Prometo voltar no valter.
*fotos: Pola Oloixarac na coletiva de imprensa - Nelson Toledo/FLIP e lendo Fogo pálido, de Vladimir Nabokov - Walter Craveiro/FLIP.
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