O repórter Lucas Neves (do caderno Ilustríssima - Folha de SP), em podcast com o escritor Reinaldo Moraes, comentou rapidamente uma questão bem instigante: a aparição de um movimento de escritores precoces na atual literatura francesa. O assunto surgiu por conta do lançamento do romance Ilusões pesadas, de Sacha Sperling que Reinaldo Moraes traduziu para o português. Neves diz que três livros lançados recentemente na França formatam esse movimento: Hell - Paris 75016, de Lolita Pille; Ilusões pesadas, de Sacha Sperling e Michael Jackson, de Pierric Bailly.
Os três são muito jovens e escreveram o primeiro livro entre os 18 e 20 anos de idade. Eles usam elementos biográficos para contar histórias de jovens como eles que levam uma vida meio sem rumo, regada a altas doses de drogas, álcool, festas e sexo. Todos declararam ter sofrido influência de escritores como William Burroughs, Jack Kerouac, Frédéric Beigbeder, Philippe Djian, J.D. Salinger e Bret Easton Ellis. Some a isso o gosto por música pop (incluindo o rock and roll, a dance music e o hip hop), o uso de uma prosa com certas marcas de oralidade e talento de sobra para dar conta de uma das fases mais estranhas da nossa vida.
Pegando carona na ideia, o Fábio Justino escreveu para a segunda edição do fanzine um artigo falando desses três jovens escritores - "A (quase) nova literatura transviada" disponível para download aqui. Junto do artigo tem a tradução livre de um trecho do romance Michael Jackson, de Pierric Bailly, autor ainda inédito no Brasil.
Não é de hoje que a literatura francesa tem os seus prodígios. Talvez os três precursores mais antigos dessa nova geração sejam: Arthur Rimbaud, Raymond Radiguet e Françoise Sagan.
Rimbaud, aos 18 anos, revolucionou a poesia com a publicação de Uma temporada no inferno e Iluminações (um conjunto de poemas em prosa fundamental para o surgimento das Vanguardas Artísticas do começo do século XX). O estilo de vida 'enfant terrible' fez com que ele tivesse um relacionamento conturbado com um homem mais velho e abandonasse a poesia para levar uma vida mais ordinária.
Anos depois, em 1923, foi a vez de Raymond Radiguet escandalizar a França publicando Le diable au corps (Com o diabo no corpo - não descobri se foi lançado no Brasil). Ele tinha apenas 20 anos. Nesse livro uma mulher casada se envolve com um menino de dezesseis anos enquanto o dela marido luta na guerra - o enredo está cheio de traços autobiográficos do próprio autor.
Em 1954, Françoise Sagan tornou-se um bestseller na França com a publicação de Bom dia, tristeza. O livro virou uma espécie de retrato da juventude desiludida e solitária. Na época a escritora tinha apenas 18 anos. Sagan também teve uma vida complicada por conta do uso excessivo de drogas e remédios, o consumo de bebidas e de relacionamentos que não deram certo.
Além de Lolita Pille, Sacha Sperling e Pierric Bailly, mais nomes se juntam a essa nova geração de escritores precoces:
Ariane Fornia
A mais jovem escritora do time. Seu livro de crônicas Dieu est une femme (2004) foi publicado quando ela tinha só 14 anos. É uma reunião de observações chocantes sobre o universo adolescente escrita pela perspectiva de quem estava vivenciando aquelas coisas naquele exato momento. Ela já publicou mais dois outros livros.
Anne-Sophie Brasme
Estreou na literatura aos 17 anos com Respire (2001) que narra a história de um estudante do ensino médio que é preso depois de assinar uma amiga. O romance fez muito sucesso e foi traduzido para outras dezessete línguas. Publicou em 2005 seu segundo romance.
Faïza Guène
Publicou seu primeiro romance aos 19 anos, Kiffe kiffe demain (2004). O livro fala de uma menina de quinze anos e seu dia-a-dia na cidade de Livry-Gargan. Por conta da temática a autora recebeu o apelido de "Françoise Sagan das cidades". Já publicou outros dois romances.
Boris Bergmann
O segundo escritor mais jovem do time. Publicou seu romance Viens là que je te tue ma belle (2007) aos 15 anos. A história fala de um menino que descobre o rock and roll dos anos 60 e monta uma banda - no melhor estilo Holden Caulfield de ser. No ano passado Bergmann publicou seu segundo romance.
Lyubko Deresh
Escritor ucraniano que publicou Culte (2009), seu primeiro livro, aos 16 anos. Apesar da nacionalidade chegou à França totalmente integrado com o estilo dos demais escritores. Culte conta a história de um professor de biologia que vai dar aulas numa vila perdida no meio dos Cárpatos. Lá ele se apaixona por uma jovem tímida, mas não vê nenhuma chance de conquistá-la até que fenomenos estranhos começam a acontecer.
*imagem: montagem sobre fotos reproduzidas do Google de Lolita Pille, Sacha Sperling e Pierric Bailly.
quarta-feira, 20 de julho de 2011
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Nossa! Fiquei com muito vontade de ler alguns deles e ver do que se trata! Pena que geralmente esses livros internacionais de autores mais jovens são difíceis de encontrar no Brasil...
ResponderExcluirJuliana,
ResponderExcluirLolita Pille e Sacha Sperling já foram lançados no Brasil. Alguns dos outros novos escritores já foram lançados em Portugal, dá para importar de lá. Como são escritores muito novos a carreira deles ainda está em formação, pode ser que em breve alguma editora daqui tenha interesse.
Muito bom. Vou tentar pegar algum desses títulos para ler. Valeu pela dica.
ResponderExcluirFaltou "A Gente Não É Sério aos 17 Anos" ...
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