quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

ESPERANDO POR THOMAS PYNCHON



Adivinhem quem está de volta? Vou dar uma dica para facilitar: é o autor mais recluso e por isso mesmo o mais "pop" da literatura norte-americana. Ainda não adivinhou? Então te conto: é Thomas Pynchon - ele mesmo. Qualquer pequeno movimento que o enciclopédico escritor faz gera o maior burburinho, sobretudo na internet. Impressionante! Já imaginou se ele resolve anunciar que vai dar uma volta no bairro onde mora? Tenho certeza que muita gente ia formar um acampamento nas imediações do lugar só para fazer uma fotografia.

Pois bem, Pynchon vai publicar um novo romance com lançamento previsto para setembro, nos Estados Unidos. A notícia foi confirmada na segunda-feira pela editora dele. O livro vai se chamar Bleeding Edge e será ambientado no "Silicon Alley" (região de Nova Iorque dominada por empresas de internet e tecnologia) no período entre a crise promovida pela bolha especulativa da internet (no final dos anos 90) e os atentados terroristas do 11 de setembro.

O último livro publicado por Pynchon foi Vício inerente, em 2009. Uma versão cinematográfica desse livro já entrou em fase de pré-produção. Deve ficar pronto em 2014 e, como já foi dito, terá Joaquin Phoenix no elenco e Paul Thomas Anderson no roteiro e direção.

O projeto Pynchon in Public Day, dia em que pessoas do mundo inteiro enviam fotos e vídeos delas mesmas lendo qualquer livro de Pynchon num lugar público e sem nenhuma vergonha, vai ter motivos de sobra para comemorar. A próxima acontece em 8 de maio.

***


A ocasião também poderia ser uma oportunidade para resgatar V., O leilão do lote 49 e Vineland - três romances de Pynchon que andam fora de catálogo aqui no Brasil. O primeiro foi publicado em 1988 pela editora Paz e Terra e os outros dois pela Companhia das Letras em 1991 e 1993, respectivamente. Só é possível encontrá-los em sebos e com preços especiais.

Para se ter uma ideia, no site Estante Virtual o livro O leilão do lote 49 tem apenas três únicos exemplares com preços variando de R$ 100,00 a R$ 129,90. Livro raríssimo. Quem sabe?

*Imagem: reprodução do Google.

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sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

A TENDÊNCIA AO FETICHISMO LITERÁRIO


O site Ponto Eletrônico publicou nessa semana um curioso infográfico com dados sobre a literatura brasileira contemporânea tendo como base uma longa pesquisa feita pela professora da UNB e crítica literária, Regina Dalcastagnè. É quase um perfil socioeconômico dos escritores brasileiros e das personagens que habitam os livros que eles escrevem. 

Infográfico que o pessoal do PontoEletrônico.
Olhando assim descompromissadamente (abandonando a seriedade acadêmica da pesquisa) não pude deixar de pensar na quantidade de listas, gráficos e infográficos com temas literários que estão surgindo por aí. A coisa toda vai desde o percentual de tristeza de Emma Bovary, passa pelas palavras mais usadas por Balzac e chega nos romances que terminam com a mesma palavra - como bem apontou Sérgio Rodrigues no Todoprosa (também foi daqui que eu peguei emprestado o termo "fetichismo literário" que dá nome ao meu texto).

Provavelmente devo estar cometendo um erro de parâmetro ao misturar o joio com o trigo. Afinal, grande parte dessas maravilhas visuais são brincadeiras "inúteis" que nos lembram que a literatura não precisa ser levada tão a sério o tempo todo - um pouco de humor é bom para dessacralizar. Não excluo o meu blog disso. No entanto, no caso específico desse infográfico sobre a literatura brasileira, a questão muda de figura porque vem envolvida pelo crivo da academia.

Gráfico que mostra dados sobre o comportamento das personagens em Madame Bovary, de Gustave Flaubert.

Notem, não estou questionando a seriedade ou os dados levantados pela pesquisa, mas vejo problema nas conclusões distorcidas que os leitores podem ter quanto tudo fica fora do contexto. Portanto, quando você for concluir alguma coisa sobre esse infográfico tenha em mente que o corpo de trabalho da pesquisa foi delimitado pelos seguintes fatores: 
"(1) foi escrito originalmente em português, por autor brasileiro nato ou naturalizado;(2) foi publicado pela Companhia das Letras, Record ou Rocco;(3) teve sua primeira edição entre 1990 e 2004;(4) não estava rotulado como romance policial, ficção científica, literatura de auto-ajuda ou infanto-juvenil."*
*Na própria pesquisa a professora explica direitinho porque escolheu trabalhar com esse recorte.

Portanto, não dá para dizer que a literatura brasileira atual tem essa cara do infográfico porque os dados estão dentro de uma delimitação e deixam de fora muita coisa. Sobretudo quando consideramos que a realidade editorial do Brasil mudou bastante de 2004 até hoje. Só para citar alguns fatores: tivemos a FLIP que espalhou e inspirou muitas feiras literárias por todo o país, os programas de incentivo a leitura do governo brasileiro (nas três esferas), a proliferação de escritores com a chegada da internet, a visibilidade da literatura produzida nas periferias das grandes cidades, a movimentação das editoras brasileiras e até a recente ascensão dos nossos escritores no cenário internacional.

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Wordle, espécie de programa que contabiliza as palavras, aplicado a obra do escritor Balzac

Sempre que me deparo com essas listas, gráficos e infográficos me lembro do romance Se um viajante numa noite de inverno..., de Italo Calvino (escrito em 1979). De maneira resumida, o livro conta a história de um leitor que senta confortavelmente numa poltrona para ler mas um erro de encadernação interrompe a história no auge. O leitor volta a livraria, troca o livro e outro erro de encadernação acontece atrapalhando a leitura. Irritado, ele volta a livraria e assim acontecem várias coisas. Numa dessas reviravoltas ele conhece uma leitora chamada Ludmila, por quem se apaixona.

Pois bem, a leitora tem uma irmã chamada Lotaria - uma mocinha versada nos estudos acadêmicos - obcecada por encontrar nos livros nada mais que "ideias para um estudo crítico". O processo dela é simples: Lotaria põe o livro num computador e numa fração de segundos obtém uma lista de palavras de onde pode tirar suas "ideias" (tal qual pode acontecer nas listas, gráficos e infográficos da internet).

De alguma maneira, ela encarna a figura do leitor que não quer ser leitor - não perde tempo lendo e interpretando um livro. Ao reduzir os livros a mera estatística tudo fica empobrecido: livro, leitura, atividade crítica e mesmo criação literária.
"O que é de fato a leitura de um texto senão o registro de certas recorrências temáticas, certas insistências de formas e significados? A leitura eletrônica me fornece uma lista das frequências  o que me basta para ter uma ideia dos problemas que o livro propõe a meu estudo crítico. Naturalmente, as frequências mais altas são as registradas pelas listas de artigos, pronomes, partículas; mas não é nisso que detenho minha atenção. Concentro-me logo nas palavras mais ricas de significado, aquelas que podem dar uma imagem bastante precisa do livro". (Se um viajante numa noite de inverno... p. 191)
Sem parecer moralista, mas propondo uma reflexão: existe alguma maneira de ler um livro sem ler um livro?

*Imagens: reprodução dos sites em que os infográficos aparecem.

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segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

A PIADA INFINITA EM PORTUGAL



Vira e mexi eu escrevo sobre notícias literárias vindas de Portugal - a nossa "pátria-mãe d'lém mar". Daqui a pouco vocês vão pensar que me mudei para o Porto ou Lisboa. Nada disso, continuo firme e forte aqui no Brasil. Só que não pude resistir ao pequeno burburinho em torno do lançamento de A piada infinita, tradução do livro-monumento Infinite Jest, de David Foster Wallace que saiu por lá no finalzinho do ano passado.

(Comentei em julho nas NOTAS #38)

A tradução saiu pela editora Quetzal e ficou a cargo da dupla Salvato Telles Menezes e Vasco Menezes, respectivamente pai e filho. Os dois juntos levaram aproximadamente seis meses para chegar ao resultado final de 1198 páginas, lombada de 5,2 cm e peso de 1492 gramas - não deixa de ser um tempo impressionante considerando que a versão para o alemão, por exemplo, levou quatro anos e terminou com 1552 páginas.

O lançamento teve uma série de eventos com bottons, reportagens especiais em jornais e revistas, fitinhas com frases do livro e até um debate com editores e tradutores do livro. Tudo para celebrar a maior obra da literatura norte-americana contemporânea, segundo uma eleição feita por grande parcela da crítica literária.

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A tradução para o português do Brasil está nas mãos de Caetano Galindo e deve ser lançada ainda nesse ano pela Companhia das Letras. Ele mantém uma coluna no blog da Companhia para falar sobre o processo de tradução do livro e alimentar a curiosidade de uma legião de leitores fanáticos por Foster Wallace. Parece que ele já está na página 400. 

Um trecho da tradução apareceu na revista Cult, em dezembro - não encontrei o link.

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De volta a versão portuguesa, aqui está o trechinho inicial. Tem mais aqui, se vc quiser dar uma olhada.

ANO DE GLAD
     Estou sentado numa sala, rodeado de cabeças e de corpos. A minha postura é conscientemente congruente com a forma da minha dura cadeira. É uma sala fria do edifício da Administração da Universidade, com paredes apaineladas em que havia quadros à maneira de Remington e janelas duplas que a defendiam do calor de novembro, protegida de sons administrativos pela zona da receção na qual o tio Charles, o senhor DeLint e eu tínhamos sido recebidos.
     Eu estou aqui.
     Três caras ocuparam lugar em cima de casacos desportivos de verão e largas gravatas de seda do outro lado de uma mesa de conferências de pinho polido que brilha com a luz – que parece uma teia de aranha – do meio-dia do Arizona. São os três deões: o das Admissões, o dos Assuntos Académicos e o dos Assuntos Desportivos. Não sei a qual corresponde cada cara.
     Creio que estou a dar uma imagem neutra, talvez mesmo agradável, embora me tivessem instruído a carregar nas cores da neutralidade e não fazer nenhuma tentativa em matéria do que me pareceria ser uma expressão amável ou um sorriso.
     Decidi-me a cruzar as pernas, espero que com todo o cuidado, com o tornozelo em cima do joelho e as mãos juntas no regaço das calças. Os meus dedos estão entrelaçados numa série especular daquilo que, para mim, se manifesta com a letra X. O restante pessoal que ocupa a sala de entrevistas inclui: o diretor de Composição da Universidade, o treinador da equipa principal de ténis e A. DeLint, pró-reitor da minha Academia. Ao meu lado está C.T.; os outros estão, respetivamente, sentados, de pé e de pé na periferia da minha visão. O treinador de ténis faz tilintar algumas moedas. Há qualquer coisa vagamente digestiva no odor da sala. A sola de alta tração dos meus ténis Nike oferecidos está em paralelo com o bamboleante sapato de couro do meio-irmão da minha mãe, presente na condição de meu reitor, sentado na cadeira que espero que esteja à minha direita e também de frente para os deões.

*Imagem: capa da edição portuguesa.

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sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

UMA ESPIADINHA NO TOURNAMENT OF BOOKS 2013



É comum a gente dar uma espiada no Tournament of Books, por mais gringo que ele seja.  A curiosidade surge porque os organizadores costumam colocar na competição livros publicados nos Estados Unidos que tiveram enorme repercussão crítica e terão grandes chances de serem traduzidos pelo mundo afora.

Para você ter uma ideia 6 dos 8 romances campeões tiveram tradução para o português. Figuram entre os ganhadores Jennifer Egan, Hilary Mantel, Toni Morrison, Junot Díaz, Ali Smith e Cormac McCarthy. Estão esperando por uma oportunidade Cloud Atlas, de David Mitchell e The Sisters Brothers, de Patrick deWitt (ganhadora do ano passado).

Graças ao seu fortalecimento ao longo dos anos, o torneio está chegando a sua nona edição com apoio do Nook - o leitor digital da revendedora de livros Barnes & Noble. Outras razões para ficar de olho na competição são o caráter bastante democrático (jurados e leitores podem debater opiniões sobre os resultados) e o fato de ter inspirado iniciativas semelhantes aqui no Brasil - quem não se lembra da Copa de Literatura Brasileira e do Gauchão de Literatura?  

Isso posto, quero dizer que no começo de janeiro foram anunciados os competidores desse ano e a lista, para decepção ou felicidade de muitos, tem em sua maioria nomes desconhecidos para leitores aqui no Brasil. Pode ser que você recorde de Jess Walter, Louise Erdrich, Hilary Mantel, Laurent Binet, Alice Munro e Chris Ware. Apesar de ter publicado muitos livros, Jess Walter teve apenas o romance Cidadão do crime traduzido pela editora Landscape. Louise Erdrich ganhou o National Book Award e teve vários livros traduzidos por aqui (a maioria anda fora de catálogo), sendo que o mais recente Jogo de sombras saiu pela Tinta Negra. No ano passado, Hillary Mantel ganhou o Man Booker Prize e o livro que está concorrendo no Tournament será traduzido pela editora Record. O romance Hhhh, de Laurent Binet foi traduzido pela Companhia das Letras no final do ano passado. Os veteranos Alice Munro e Chris Ware são traduzidos pela Companhia das Letras.

Entre os lançamentos que tiveram ampla repercussão no ano passado, ficaram de fora This is How You Lose Her, de Junot Díaz; A Hologram for the King, de Dave Eggers; The Newlyweds, de Nell Freudenberger; Gods Without Men, de Hari Kunzru; NW, de Zadie Smith e Laura Lamont’s Life in Pictures, de Emma Straub. A maioria deve ganhar tradução para o português ainda nesse ano.

Aqui está a lista completa dos concorrentes:

HHhH, de Laurent Binet
The Round House, de Louise Erdrich
Gone Girl, de Gillian Flynn
The Fault in Our Stars, de John Green
Arcadia, de Lauren Groff
How Should a Person Be?, de Sheila Heti
May We Be Forgiven, de A.M. Homes
The Orphan Master’s Son, de Adam Johnson
Ivyland, de Miles Klee
Bring Up the Bodies, de Hilary Mantel
The Song of Achilles, de Madeline Miller
Dear Life, de Alice Munro
Where’d You Go Bernadette, de Maria Semple
Beautiful Ruins, de Jess Walter
Building Stories, de Chris Ware

O décimo sexto concorrente será escolhido por votação e divulgado em breve.

> ATUALIZAÇÃO 1: Não há nada que uma visita às livrarias não possa corrigir. Assim que coloquei o meu pé dentro de uma livraria na sexta feira fiquei cara a cara com o livro do John Green - A culpa é das estrelas (saiu pela Intrínseca no ano passado). Com isso, acho que um pouco menos que a metade é conhecida pelo público brasileiro.

> ATUALIZAÇÃO 2: O romance Where’d You Go, Bernadette, de Maria Semple será publicado no Brasil em junho pela Companhia das Letras.

*Imagem: logotipo do Tournament / reprodução.
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MENTE ABERTA - ESCRITORES EM DOMÍNIO PÚBLICO


Nessa semana, no blog Mente Aberta, escrevo sobre a quatro escritores fundamentais no século XX que passaram ao domínio público: Robert Musil, Bruno Schulz, Roberto Arlt e Stefan Zweig. Para ler é só clicar aqui!
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quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

JULGANDO LIVROS PELA CAPA (3): PORTUGAL X BRASIL

Desde que comecei o blog peguei uma bela ideia emprestada e todos os anos faço uma brincadeira comparando as capas dos mesmos livros em edições portuguesas e brasileiras. Para não perder a tradição faço uma nova rodada nesse ano. Vale lembrar que tamanha diferença entre as capas portuguesas e brasileiras não deve causar muito espanto, afinal cada país tem uma cultura visual muito particular e algo atrai os portugueses pode não atrair os brasileiros - evidentemente. O exercício de olhar as capas lado a lado serve para especular sobre o trabalho do capista na hora de resolver o problema de dar uma cara para um livro e vendê-lo para o leitor.

Digo de antemão que não sou especialista no assunto, portanto estou comentando sem muito compromisso. A caixa de comentários está aberta para quem quiser participar - por favor, fique à vontade. As capas das edições brasileiras estão do lado esquerdo.



1Q84, de Haruki Murakami
É difícil encontrar uma imagem que sintetize a epopeia onírica tão característica desse escritor japonês. Os portugueses optaram por uma capa limpa com uma brincadeira envolvendo o título do livro e uma linha vermelha cortando a brancura do fundo. Nós optamos pelas cores e pelo grafismo que lembra a bandeira do Japão - respeitando a clássica moldura das capas da Alfaguara. As duas não chegam perto da escolha certeira do design norte-americano Chip Kidd (ele optou por usar dois rostos japoneses por baixo do título do romance e deu uma cara para as suas personagens principais), mas foram não deixam de ser boas soluções. Empate.


A confissão da leoa, de Mia Couto
Não tem como fugir das garras dessa leoa, por isso ela aparece nas duas capas. Na versão portuguesa ela é selvagem e ameaçadora frente ao pequeno caçador. A cor amarela é uma marca das capas do selo Caminho, mas não deixa de lembrar o sol tropical de Moçambique. A versão brasileira tem a silhueta misteriosa da leoa, quase fictícia frente ao realismo da fotografia dos meninos pobres. Capta mais a atmosfera do romance. Ponto pra gente.



Laços de família, de Clarice Lispector
Demorou um pouco, mas a fama internacional de Clarice Lispector chegou a Portugal. Isso não quer dizer que ela não era conhecida por lá. Sua redescoberta promoveu uma série de reedições pela Quetzal. A foto da jovem Clarice é linda, mas não deixa de conferir ao livro um ar de biografia. Sendo assim, a capa brasileira ganha pontos por criar uma ilustração que resume alguns contos do livro.



Nada a dizer, de Elvira Vigna
Tem como não se render a bela imobilidade tediosa do casal que está na edição brasileira? Tudo se encaixa perfeitamente: o vazio que cerca o desenho, o equilíbrio das cores etc. No entanto, a edição portuguesa não fica atrás com essa fotografia em preto e branco, o olho fechado e o braço que cobre a boca (a cena muda, como alguns diriam). Empate técnico.


On the road - Pé na estrada, de Jack Kerouac
As duas reedições aproveitaram o lançamento do filme de Walter Salles baseado no livro de Jack Kerouac. A versão brasileira seguiu colada ao cartaz oficial do filme - é uma escolha muito comum para ligar um produto ao outro. Em termos de beleza para os olhos funciona como cartaz, não sei como capa de livro. A fotografia da versão portuguesa tem os inseparaveis amigos beatniks (Kerouac e Cassady - acho que o Burroughs também aparece ao fundo) e pareceu mais clássica. Ponto para os portugueses. Não tem como não sentir certo sorriso ao pensar no título Pela estrada a fora.


Passageiro do fim do dia, de Rubens Figueiredo
Não tem muito que falar da capa portuguesa. A ideia pode até ser boa, mas a realização é ruim. Ponto para a capa brasileira com a fotografia do ônibus em movimento.



Axilas e outras histórias indecorosas, de Rubem Fonseca
A capa brasileira é muito elegante. Passeia entre o sublime e o grotesco, tal qual o título do livro sugere. A capa portuguesa parece mais literal. Só que não deixa de ser bonita com essa cor meio dourada e a ilustração chapada da moça em preto - cena do crime? Outro empate - desculpe.



Serena, de Ian McEwan
A história é igual, mas os títulos são diferentes. Não estranhe. É uma questão de tradução. Seja como for, a nossa capa é a melhor de todas as capas que eu já vi (incluindo as edições em inglês). Ela tem a propriedade de não revelar o rosto, de estar bem contextualizada no tempo e no lugar - uma maravilha. Já a capa portuguesa é meio duvidosa. Mais um ponto pra gente.

*Imagens: divulgação e reprodução.
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sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

NOTAS #40


Saudades?
Quem estava com saudades dos prêmios literários não precisa mais se preocupar. A organização do Man Booker International Prize anunciou os dez finalistas que vão concorrer ao prêmio no valor de £60.000 libras. Os cinco membros do júri (que conta com Elif Batuman e Yiyun Li) terão de escolher entre U R Ananthamurthy (India), Aharon Appelfeld (Israel), Lydia Davis (Estados Unidos), Intizar Husain (Paquistão), Yan Lianke (China),  Marie N'Diaye (França), Josip Novakovich (Canadá), Marilynne Robinson (Estados Unidos), Vladimir Sorokin (Rússia) e Peter Stamm (Suíça). O vencedor será anunciado em 22 de maio num jantar no Victoria and Albert Museum, em Londres.

Em Portugal
Falando em Lydia Davis (que está concorrendo ao Man Booker International) acaba de sair em Portugal pela editora Relógio D'água o livro Contos Completos. São 198 pequenas histórias (quase mínimas) que tratam do amor, da solidão, do humor e da estranheza da vida. A Companhia das Letras tinha em seus planos publicar uma tradução de Varieties of Disturbance. A revista Piauí publicou a tradução de alguns contos para a gente ler enquanto espera.

Nobel no Brasil
Segundo o caderno Ilustrada, da Folha de SP, a escritora Herta Müller, vencedora do Prêmio Nobel de Literatura, virá ao Brasil não para participar da FLIP, mas do Fronteiras do Pensamento 2013. A data oficial do evento ainda não foi divulgada. Enquanto ela não vem, dois romances chegam às livrarias Fera d'alma (saí pela Globo Livros) e O homem é um grande faisão no mundo (saí pela Companhia das Letras).


Ginsberg repaginado
O ator Daniel Radcliffe quer mesmo se afastar da imagem deixada pela personagem Harry Potter. No filme Kill Your Darlings, dirigido por John Krokidas, ele encarna o papel de ninguém menos que Allen Ginsberg - o poeta beatnik. A história se passa na época em que Ginsberg estava na faculdade e conheceu seus colegas Jack Kerouac, William Burroughs e Lucien Carr (o jovem atraente que acaba envolvido numa bizarra história de amor obsessivo e morte). Críticos que assistiram a exibição do filme no Festival Sundance ficaram impressionados. Será que alguém ainda vai se lembrar de James Franco?

*Imagens: divulgação Relógio d'água/Sundance Film Festival

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