segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

A PIADA INFINITA EM PORTUGAL



Vira e mexi eu escrevo sobre notícias literárias vindas de Portugal - a nossa "pátria-mãe d'lém mar". Daqui a pouco vocês vão pensar que me mudei para o Porto ou Lisboa. Nada disso, continuo firme e forte aqui no Brasil. Só que não pude resistir ao pequeno burburinho em torno do lançamento de A piada infinita, tradução do livro-monumento Infinite Jest, de David Foster Wallace que saiu por lá no finalzinho do ano passado.

(Comentei em julho nas NOTAS #38)

A tradução saiu pela editora Quetzal e ficou a cargo da dupla Salvato Telles Menezes e Vasco Menezes, respectivamente pai e filho. Os dois juntos levaram aproximadamente seis meses para chegar ao resultado final de 1198 páginas, lombada de 5,2 cm e peso de 1492 gramas - não deixa de ser um tempo impressionante considerando que a versão para o alemão, por exemplo, levou quatro anos e terminou com 1552 páginas.

O lançamento teve uma série de eventos com bottons, reportagens especiais em jornais e revistas, fitinhas com frases do livro e até um debate com editores e tradutores do livro. Tudo para celebrar a maior obra da literatura norte-americana contemporânea, segundo uma eleição feita por grande parcela da crítica literária.

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A tradução para o português do Brasil está nas mãos de Caetano Galindo e deve ser lançada ainda nesse ano pela Companhia das Letras. Ele mantém uma coluna no blog da Companhia para falar sobre o processo de tradução do livro e alimentar a curiosidade de uma legião de leitores fanáticos por Foster Wallace. Parece que ele já está na página 400. 

Um trecho da tradução apareceu na revista Cult, em dezembro - não encontrei o link.

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De volta a versão portuguesa, aqui está o trechinho inicial. Tem mais aqui, se vc quiser dar uma olhada.

ANO DE GLAD
     Estou sentado numa sala, rodeado de cabeças e de corpos. A minha postura é conscientemente congruente com a forma da minha dura cadeira. É uma sala fria do edifício da Administração da Universidade, com paredes apaineladas em que havia quadros à maneira de Remington e janelas duplas que a defendiam do calor de novembro, protegida de sons administrativos pela zona da receção na qual o tio Charles, o senhor DeLint e eu tínhamos sido recebidos.
     Eu estou aqui.
     Três caras ocuparam lugar em cima de casacos desportivos de verão e largas gravatas de seda do outro lado de uma mesa de conferências de pinho polido que brilha com a luz – que parece uma teia de aranha – do meio-dia do Arizona. São os três deões: o das Admissões, o dos Assuntos Académicos e o dos Assuntos Desportivos. Não sei a qual corresponde cada cara.
     Creio que estou a dar uma imagem neutra, talvez mesmo agradável, embora me tivessem instruído a carregar nas cores da neutralidade e não fazer nenhuma tentativa em matéria do que me pareceria ser uma expressão amável ou um sorriso.
     Decidi-me a cruzar as pernas, espero que com todo o cuidado, com o tornozelo em cima do joelho e as mãos juntas no regaço das calças. Os meus dedos estão entrelaçados numa série especular daquilo que, para mim, se manifesta com a letra X. O restante pessoal que ocupa a sala de entrevistas inclui: o diretor de Composição da Universidade, o treinador da equipa principal de ténis e A. DeLint, pró-reitor da minha Academia. Ao meu lado está C.T.; os outros estão, respetivamente, sentados, de pé e de pé na periferia da minha visão. O treinador de ténis faz tilintar algumas moedas. Há qualquer coisa vagamente digestiva no odor da sala. A sola de alta tração dos meus ténis Nike oferecidos está em paralelo com o bamboleante sapato de couro do meio-irmão da minha mãe, presente na condição de meu reitor, sentado na cadeira que espero que esteja à minha direita e também de frente para os deões.

*Imagem: capa da edição portuguesa.

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