1. Blogar é melhor para os escritores de não-ficção porque eles compartilham os seus conhecimentos com um público específico, estar ligado com o público pode ajudar as vendas.Logo depois ela escreveu um outro post dizendo que embora blogar seja perda de tempo, John Locke (aquele que vendeu 1 milhão de livros no Kindle em cinco meses) achou um caminho certo para aumentar suas vendas.
2. "Tempo gasto no blog é tempo gasto longe de outra coisa: escrevendo outro livro, contatando um clube do livro, trabalhando meio período e investindo esse dinheiro em publicidade ou com um agente”.
3. Escritores de romances blogam muitas vezes se concentram na arte de escrever ao invés de se concentram em seus próprios leitores, criando "uma conferência escrita interminável". Enquanto isso ajuda a "encontrar novos amigos, desenvolvimento profissional e aprendizagem do seu ofício", não significa necessariamente aumentar as vendas de livros.
É certo que o post e as ideias giram muito em torno do mercado editorial americano. No entanto, se pensarmos no mercado editorial brasileiro acho que a Livia Blackburne vai ter razão. A internet realmente facilitou a divulgação e circulação de novos escritores, mas isso não significa que ela mudou a maneira como fazemos e pensamos o universo literário.
Um caso brasileiro
No final dos anos 90 e começo dos anos 2000 alguns dos nossos escritores ficaram conhecidos por meio da internet. O blog foi uma ferramenta fundamental para mostrar o trabalho de gente que estava escrevendo, mas que ainda não tinha alcançado reconhecimento mais amplo. Só que essa "geração" de escritores conseguiu publicar livros impressos e deixou da internet um pouco de lado. De modo que é raro ver novos escritores publicando ficção em blogs. Quase não se vê.
Não que o blog (e a internet) tenha perdido importância para a literatura. Pelo contrário, os blogs junto com as redes sociais ocupam o lugar da divulgação, do debate de ideias, das resenhas, das informações sobre um escritor, da reunião de leitores, das agendas de feiras, festas etc. Pode ser que antes da Livia Blackburne a gente já tivesse percebido que como escritores era mais importante se dedicar ao trabalho do que ao blog.
Pegando um caso mais brasileiro, Daniel Galera e Joca Reiners Terron falaram sobre o blog como ferramenta para escritores na reportagem Internet não anula estratégias de marketing, do jornal Gazeta do Povo. O pensamento dos dois sintetiza bastante coisa. Na reportagem Galera resume o caso da seguinte forma:
“A internet se firmou como um grande catalisador das relações entreE o Joca disse o seguinte:
autores, leitores e críticos, e não como um novo meio para publicação de
literatura. A discussão literária da internet ainda se dá em torno de livros
impressos”.
Terron, que concorda que a rede serve mais para reunir os interessados em literatura, acredita que as grandes editoras ainda detêm o “selinho ISO 9000 de qualidade literária”.Expandindo um pouco mais a fala dos dois, é possível dizer que de fato o grande número de discussões que rolam na internet gira em torno dos livros impressos e a internet por si só não parece capaz de legitimar alguém como escritor. O livro impresso é a verdadeira confirmação de que aquela pessoa exerce aquele ofício. Pensando dessa forma fica difícil imaginar a existência de um tipo de literatura que seja da internet. Por isso faz mais sentido usar a internet como meio de divulgação do trabalho do que formatação do trabalho em si.
Outro exemplo bacana foi a antologia ENTER, organizada pela Heloísa Buarque de Hollanda e pensada para o mundo virtual. A antologia não pretendia mostrar escritores que eram apenas da internet, mas mostrar a internet como potencia de visibilidade e acessibilidade da literatura. Tanto que a maioria dos 37 escritores que participaram tinham um pé fincado no mundo impresso. E gosto de falar desse caso porque existe um comentário da Heloísa que deixa bem claro a relação entre internet e produção de ficção:
"Não existe uma literatura de internet, mas, sim, práticas literárias na rede, que são diversificadas. E a antologia mostra que o que expandiu foi a palavra. Não foi a literatura do ponto de vista tradicional e canônico. Essa que preza a qualidade e a autoridade continua, e também hospedada na internet”.Depois dessas longas explicações gostaria de abrir uma discussão em torno dessas ideias. Será mesmo que para um novo escritor blogar é perda de tempo? Será que existem escritores na internet? Será que existem escritores ou grupos de escritores que fazem da internet o seu laboratório de criação?
*imagem: reprodução Diary of the book-lover.
Polêmico o ponto de vista da escritora americana. A internet, hoje, sem dúvia é uma ferramenta que vem aproximar o escritor do seu público... Não vejo como perda de tempo, não.
ResponderExcluirConcordo com a Maíra e vou mais além Já há autores decididos a investir só na internet. Como no futebol, há as estrelas, que são poucas e os milhares de bons jogadores anônimos, que sabem não haver times suficientes para que todos sejam fenômenos. Nem por isso deixam de jogar. Há, sim, milhares de autores brasileiros, publicando em blogs ou em outras mídias digitais.
ResponderExcluirNão dá mais pra segurar essa imensa massa virtual.
Abç fraterno.
Eu acho que não existem opiniões totalmente certas ou erradas, o que existem são pontos de vista diferentes. Creio que cada escritor tem o seu próprio caminho.
ResponderExcluirEu passei por três vias: o livro impresso, o livro em formato digital e a chamada literatura de internet, esta última mencionada pela Heloisa como inexistente. Ela existe sim, não tem como negar, comparo-a aos folhetos grampeados e mimeografados distribuidos pelos próprios escritores num passado não muito distante.
Infelizmente a qualidade do texto pode ser prejudicada pela falta de um bom editor. Porque são raros os escritores prontos. Nunca se está pronto, a atividade metódica e disciplinada da escrita é que molda o escritor e ter um editor/professor/orientador ajuda bastante. Editoras pequenas não tem editores tão engajados na qualidade do texto. Saber escrever parece ser o único crivo para certas editoras. É muito arriscado ser independente, é ótimo, mas é arriscado. Falo com conhecimento de causa.
Acho que é uma questão importante pendente e não vejo nenhuma revista literária versar sobre o assunto. Existem escritores independentes que não sabem que seu texto não está bem construído, não falo de não ser um bom texto, do ponto de vista crítico, falo de construções simples mesmo, que demonstram a falha explícita da revisão e edição.
Quando vejo um livro publicado assim a editora entra direto numa lista negra pessoal.
Publicar é fácil, e isso é arriscado.