terça-feira, 2 de agosto de 2011

CAPA FETICHE

É um clichê dizer que a gente compra livros por causa da capa. Mas a verdade precisa ser dita: uma capa bonita causa um inevitável desejo de compra. Não conheço ninguém que nunca tenha comprado um livro por causa da capa - ao menos uma vez na vida. Concordo com o Peter Mendelsund quando ele diz que a capa de um livro é a cara (o rosto) dele. É como ele se apresenta pra gente.

Num mundo em que o livro impresso tem sua morte anunciado, projetos gráficos mais orgânicos ganharam uma importância nunca vista antes.

Acho que rola a mesma coisa com capa de revista, de disco (ainda existem discos?) e primeira página de jornal. Olhando nas bancas percebi uma tendência nas revistas de criar capas diferentes para a mesma edição - quem não lembra daquela capa múltipla da revista Superinteressante ou mesmo das três capas da revista Serrote.

Daí li na Coluna de Babel (da Raquel Cozer) uma notícia que parece pegar carona nessa ideia: a Editora 34 lança em agosto uma edição do romance O duplo, de Dostoievski com três versões de capa. O objetivo foi destacar "as ilustrações do expressionista austríaco Alfred Kubin – 26 delas foram publicadas originalmente na edição alemã de 1933 e são agora reproduzidas no interior da edição".

Capas diferentes para um mesmo livro já tinham aparecido no Brasil para a famosa série de entrevistas da revista Paris Review - que saiu aqui pela Companhia das Letras. Na primeira edição as capas foram personalizadas por Marco Mariutti e Clovis França. Já a nova edição (que foi lançada esse ano) ganhou projeto ultratecnológico assinado por Flávia Castanheira. Nenhuma capa desse livro é igual a outra - coisa impressionante!


Para finalizar, descobri num post do Almir de Freitas que a editora Vintage Books está lançando novas edições de livros de Oliver Sacks. O projeto gráfico ficou a cargo de Cardon Webb - um designer descolado de Nova York. O detalhe mais impressioante é que as diferentes imagens de capa das seis edições em conjunto formam uma única figura. Como se fosse um quebra-cabeça enorme. Aqui acontece o inverso dos casos que citei antes, a capa foi pensada como um conjunto, uma coleção.

Pensando aqui com meus botões, acho que a ideia não foi inventada agora. Certamente deve haver outros exemplos de gente que criou essas capas seriais antes - alguém se lembra de algum (escreve aqui nos comentários que eu faço uma atualização depois)? Agora fico me perguntando se isso pode virar tendências nas capas das edições brasileiras. Evidentemente é um recurso que precisa ser usado com cautela e em ocasiões especiais. Em demasia pode cansar.

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Atualização: uma pessoa anônima e o Mauro Siqueira lembraram da série de capas para a coleção Crônicas Saxônicas, de Bernard Cornwell. O Samir Machado conta mais coisas sobre essas capas no blog Sobrecapas. Abaixo a imagem:

Alguém lembra de mais alguma?

*imagens: reprodução.

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2 comentários:

  1. As capas das Crônicas Saxônicas do Cornwell formam um painel quando colocadas lado a lado. Acho que nesse nicho deve ter vários exemplos.

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  2. Bela lembrança, Anônimo, o designer Samir Machado fez a análise delas no seu blog: http://is.gd/jNiRaU E não é só no nicho romance-histórico que essa preocupação de uma unidade em livros de um autor ou coleção, até entre obras jurídicas, como a coleção de direito civil do Silvio De Salvo Venosa, da editora Atlas. Porém, espertamente o efeito surge na lombada que compõe os oito volumes da obra.

    abraços.

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