segunda-feira, 22 de agosto de 2011

AS CIDADES VISÍVEIS

Acho Italo Calvino um escritor seminal. Ele criou uma teoria inovadora para resolver um impasse que consumia os escritores do século passado: como o romance poderia encontrar um novo caminho diante de tantas inovações formais (Marcel Proust, James Joyce, William Faulkner, Virginia Woolf etc)? A saída que ele encontrou pensava no futuro ao mesmo tempo que olhava para o passado. Unia progresso e restauração - para usar uma imagem consagrada naquele ensaio Filosofia da nova música, de Theodor Adorno (I).

Calvino privilegiava o leitor preservando a história (a fábula, o enredo, a trama, o plot) - não foi à toa que organizou um volume de Fábulas italianas e escreveu Por que ler os clássicos? Ele não promovia "exercícios puros de linguagem", mas brincava de todas as maneiras com a forma (a estrutura narrativa). Aqui estou pensando no Calvino das Cosmocômicas, O castelo dos destinos cruzados, Os amores difíceis, As cidades invisíveis, Se um viajante numa noite de inverno e Palomar.

[Tem um post do ano passado no Todoprosa que quando eu li pensei imediatamente no Calvino - O gosto de contar. Foi de lá que retirei algumas das ideias do parágrafo anterior.]

A gente embarca naquele mundo fantástico, vai reconhecendo os temas, as personagens e as alegorias. Vamos em busca da história do visconde que leva uma bala no peito e se divide em dois, o barão que se revolta e sobe as árvores e do cavaleiro que não existe. Às vezes até viramos personagem do livro que estamos lendo (somos o leitor de Se um viajante...). E como Kublai Khan, nos encantamos com as história de Marco Polo e as cidades que ele visita.

Deve ter sido esse mesmo fascínio que rondou a cabeça da artista plástica Nora Sturges. Um amigo dela recomendou a leitura de As cidades invisíveis depois que ela fez algumas pinturas sobre as viagens de Marco Polo. Ela gostou tanto do livro que criou pinturas para algumas cidades. O trabalho final ficou bem interessante. Encontrei as imagens enquanto pesquisa coisas sobre Calvino - acho que a notícia nem é tão recente, mas não resisti.

O trabalho todo pode ser visto aqui.





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(I) Não estou usando essa imagem para demonstrar erudição. Nem quero comparar "alhos com bugalhos"! É que As cidades invisíveis foi tema de uma monografia que escrevi para conclusão de um curso de especialização. Naquela época, enquanto fazia as pesquisas teóricas, sempre me vinha a cabeça a imagem desse ensaio do Adorno. As palavras restauração e progresso parecem se encaixar como uma luva para as coisas (ficção e crítica) que Italo Calvino escreveu.

*Imagens: reprodução do site de Nora Sturges.
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Um comentário:

  1. Depois desse belo post até vou pegar o meu "Se um viajante numa noite de inverno" e lê-lo. Acho que estou perdendo muito em adiar essa leitura...

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