segunda-feira, 25 de outubro de 2010

A LITERATURA DE AGORA, AGORA


Chovem perguntas sempre que alguém fala sobre a literatura brasileira feita agora. Muita gente quer saber, por exemplo, se existe um grupo de escritores com as mesmas características, qual é o estilo de cada um, quais marcas eles vão deixar, o que eles fazem de inovador, etc. Esclarecer todos esses pontos é uma tarefa digna de Hércules. Acho que nem mesmo um crítico literário consegue fazer esse apanhado sem cometer pequenas injustiças.

O crítico Alfredo Bosi conseguiu criar um modelo bastante satisfatório para esse tipo de análise na antologia O conto brasileiro contemporâneo, publicada em 1974. A coletânea reúne contos de 18 escritores que naquele período já eram consagrados. Entre eles: Guimarães Rosa, Lygia Fagundes Telles, Osman Lins, Dalton Trevisan, Autran Dourado, Clarice Lispector, Rubem Fonseca e Moacyr Scliar. No entanto, o mais interessante do livro está no ensaio introdutório: Situação e formas do conto brasileiro contemporâneo. Bosi, de maneira ampla, faz um apanhado crítico e histórico para explicar as situações do conto brasileiro produzido logo após a morte dos grandes escritores modernistas. No percurso ele fala sobre a diversidade de estilos, forma, conteúdo, etc.

No começo dos anos 2000, o escritor Nelson de Oliveira publicou duas antologias com o mesmo tema de apresentar um panorama de novos escritores - Geração 90: transgressores e Geração 90: manuscritos de computador. Porém, mais do que analisar Nelson queria colocar em circulação uma nova leva de escritores que produzia e não era muito conhecida. A publicação dessas duas antologias foi cercada de discussões. Alguns críticos acharam a seleção parcial, outros acharam mera promoção, etc.

Pensando com meus botões - e considerando o distanciamento histórico - acho que Bosi conseguiu êxito no seu trabalho porque naquela época não tínhamos uma profusão de novos escritores como temos hoje. A realidade do mercado editorial brasileiro era diferente. A crítica literária também era muito mais forte. Evidentemente, Bosi é um dos nossos maiores críticos e não quero dizer com isso que ele não seria capaz de refazer uma seleção semelhante. Mas pensando nas coletâneas de Nelson Oliveira, posso sentir as dificuldades que mesmo um crítico como Alfredo Bosi teria.

As questões centrais são: dar conta da imensa variedade de estilos; acompanhar e filtrar a enorme produção de livros que temos hoje; refletir e analisar com profundidade essa seleção. O processo não deixa de ser arbitrário, na medida em que "admiramos livros diferentes em momentos diferentes da vida, por diferentes razões". Também é difícil pensar numa literatura que seja escrita por toda uma geração ao mesmo tempo e com as mesmas características. Só a prova do tempo é capaz de fazer uma espécie de seleção natural desses escritores.

Para não parecer desanimado, recomendo um post bem bacana do escritor Antônio Xerxenesky sobre a nossa atual flora e fauna literária e suas lacunas - de alguma forma foi esse post que me motivou a pensar nesses temas.

*imagem: reprodução Google
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