terça-feira, 5 de outubro de 2010

COMPETIÇÃO PELO PRÊMIO NOBEL DE LITERATURA

Na próxima quinta-feira será anunciado o vencedor do Prêmio Nobel de Literatura. Muita gente considera esse o prêmio mais importante de todos, sobretudo pela enorme tradição e prestígio que ele carrega. Além do reconhecimento e da quantia em dinheiro, o ganhador terá projeção mundial de sua obra - caso ainda não seja conhecido.

A especulação e a expectativa em torno do nome desse anúncio é grande. A cada semana as opiniões mudam na Ladbrokes, uma famosa casa de apostas em Londres. O primeiro nome da lista nesse momento é do escritor queniano Ngugi wa Thiong'o, seguido pelo americano Cormac McCarthy e pelo japonês Haruki Marukami. Na semana passada, o poeta sueco Tomas Tranströmer era o nome mais cotado, mas curiosamente perdeu força. Outros nomes como Alice Munro e Philip Roth também constam nas apostas, mas com menores chances. Uma coisa é fato: o prêmio costuma ser sempre uma surpresa.

Em meio ao burburinho, o jornal Los Angeles Times publicou um artigo muito bom que é também uma provocação: "Literature as a competitive sport" (em tradução livre: "A literatura como uma competição esportiva"). Entre muitas coisas interessantes, o autor do artigo, David L. Ulin, defende que os prêmios literários criam "uma espécie de cortina de fumaça, que nos distrai da real discussão sobre a literatura em favor de um quadro competitivo". Em outras palavras, o prêmio acaba se tornando um fetiche que atesta o valor de um determinado escritor-campeão ou da sociedade que ele representa. Como quem diz, tal escritor merece porque é americano, ou latino-americano, ou europeu, ou africano, etc.

Ulin chama atenção para algo que ninguém percebe: essa busca por prêmios é resultado de um processo totalmente subjetivo, bem diferente dos esportes. Para os membros da Academia Sueca deve ser tão difícil escolher um livro, quando é para nós. Simplesmente porque "admiramos livros diferentes em momentos diferentes da vida, por diferentes razões". Daí a ideia de promover uma discussão sobre a literatura ser mais importante do que um prêmio em si.

É evidente que os prêmios literários representam um significativo aumento na venda de livros do autor premiado. E como explica Ulin, os leitores enxergam nisso uma espécie de porto seguro para o qual podem recorrer quando estão perdidos em meio ao fluxo voraz de informação da nossa sociedade.

Acho os argumentos interessantes porque fazem eco em certas ideias que circulam em nosso país. Há muita gente querendo que algum dia um escritor brasileiro ganhe o prêmio Nobel de Literatura, como se isso servisse para atestar a qualidade do que nós escrevemos. Tal perseguição faz a gente esquecer de discutir outras coisas mais importantes como melhorar a educação para termos mais leitores, mais escritores, mais pensadores, mais críticos, etc.

Isso não é um privilégio do nosso país, está em toda parte do mundo e o artigo do Los Angeles Times é a maior prova. Também não estou ignorando o peso do Prêmio Nobel ou dizendo que nossa literatura não mereça nenhum prêmio literário, mas essa busca não deve ser um fim almejado custe o que custar, como nas competições esportivas.

*imagem: reprodução.
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