domingo, 3 de outubro de 2010

LITERATURA ARGENTINA NA FEIRA DE FRANKFURT


A Feira do Livro de Frankfurt começa na próxima quarta-feira e esse ano o país convidado de honra será a Argentina. Por isso, não é à toa que a maioria dos nossos cadernos culturais desse final de semana está carregada de artigos falando sobre a literatura de ficção dos nossos hermanos. Também é possível reparar a grande quantidade de autores daquele país que estão chegando as nossas livrarias. Não é por falta de mérito, a literatura contemporânea deles figura entre as melhores do mundo.

Antes de entrar nesse assunto, gostaria de comentar a Feira de Frankfurt. Diferente dos festivais literários que a gente conhece, a feira é essencialmente um lugar de negócios - ainda que escritores "do momento" como Jonathan Franzen e Günter Grass marquem presença. Durante 5 dias, as editoras do mundo inteiro se reúnem para tratar de futuros contratos, fazer contatos e conferir as novidades do mercado editorial. Assim tem sido pelo menos desde 1949, ano em que a feira tomou esse formato moderno.

Além da Argentina, o e-book será outro tema onipresente e deve dominar as conversas de quem estiver por lá. Parece até que a organização da feira esta preparando uma série de conferências sobre o Kindle, o iPad e outros produtos similares. Para nós, leitores, acho interessante observar que a feira dita algumas tendências no lançamento de livros. Muitos outros escritores argentinos devem ser traduzidos entre o final do ano e primeiro semestre do ano que vem. Não custa lembrar que a Granta Espanha acabou de lançar uma edição especial com jovens escritores de língua espanhola - detalhe: oito deles são da Argentina.

Para mostrar que a literatura argetina vai muito além de Jorge Luis Borges e Julio Cortázar, o caderno Babelia, do El Pais, selecionou na semana passada alguns escritores argentinos que são destaque nas letras nacionais. A lista inclui escritores e poetas. Abaixo, comento apenas os escritores de prosa de ficção:

Sergio Chejfec
Embora tenha nascido em Buenos Aires, ele vive na Venezuela. Já publicou em torno de 12 livros entre romances, ensaios e poemas. No Brasil, "Boca de lobo" da editora Amauta é seu único livro publicado.

Ricardo Piglia
Um dos grandes nomes da literatura argentina contemporânea. Já publicou diversos romances e ensaios críticos. Lançou um novo romance esse ano - "Blanco Nocturno" -, é um dos convidados da próxima edição da FLIPorto. Também já esteve na FLIP. Entre seus livros publicados em português estão os romances "Dinheiro queimado", "Respiração artificial", "A invasão" e "Nome falso" (os dois primeiros pela Companhia das Letras e os demais pela Iluminuras).

Alan Pauls
Embora seja um escritor de fama recente, Pauls já escreve romances, ensaios e contos desde 1984. No Brasil já foram publicados "O passado" (que também foi adaptado ao cinema por Hector Babenco) e "História do pranto" - ambos pela Cosac Naify.

Juan José Saer
Quase um veterano da literatura argentina que faleceu recentemente, em 2005. Uma das qualidades de Saer, segundo a crítica, é manejar a linguagem para construir novas propostas narrativas. Felizmente grande parte de sua obra de ficção já ganhou tradução para o português. Alguns destaques: "O enteado" - lançado pela Iluminuras -, "O grande", "As nuvens", "A ocasião" e "A pesquisa", todos publicados pela Companhia das Letras.

Rodolfo Fogwill
Morto em Agosto desse ano, era um sujeito cuja personalidade em certos momentos chegou a ter mais fama que a obra. Segundo dizem, gostava bastante de substâncias ilícitas e não perdia muito tempo escrevendo seus textos. Teve uma produção bem diversificada entre romances, contos, ensaios e poemas. "Os pichicegos" é seu único livro em português, publicado pela Casa da Palavra.

Guillermo Martínez
Bastante conhecido e traduzido pelo mundo inteiro, mas pouco comentado no Brasil. Teve até um conto publicado pela revista New Yorker. Já lançou 5 livros de ficção e outros livros de ensaios. Por aqui já foram lançados: "Crimes imperceptíveis" e "Sobre Roderer" - ambos pela Planeta do Brasil.

Pablo de Santis
A maioria de seus livros é voltada para o público infanto-juvenil, mas escreveu também romances voltados ao público adulto. Ganhou fama em 2007 depois de ganhar o prêmio Planeta-Casa de América. No Brasil já foram lançados "Inventor de jogos", livro infantil pela Girrafinha e seu romance premiado "O enigma de Paris", pela Planeta do Brasil.

Leopoldo Brizuela
Já publicou quatro livros, nenhum ainda foi traduzido para o português. Admirador de John Berger e dos conterrâneos Pablo de Santis e Guillermo Martínez, ele segue uma certa tradição da literatura argentina de misturar história e ficção.

César Aira
Outro grande nome da literatura dos pampas. Sua obra é marcada por um forte experimentalismo sem fronteiras: gêneros se misturam, o real cruza o irreal, personagens de outros romances reaparecem, etc. O leitor tem um grande desafio de entrar nesse universo e dar forma ao que lê. Ele já esteve na FLIP e tem apenas três novelas traduzidas para o português: "As noites de flores", "Um acontecimento na vida do pintor viajante", ambos pela Nova Fronteira e "A trombeta de vime", pela Iluminuras.

Marcelo Cohen
Autor pouco comentado, mesmo pela crítica argentina. Seus livros são conhecidos pela inventividade e experimentação linguística. Abarcam a literatura fantástica e a ficção científica, renunciando ao realismo puro. Tem muitos livros já publicados, mas nenhum traduzido para o português.

Martín Kohan
Também tem uma obra diversificada: já escreveu contos, romances e ensaios. É crítico e professor de teoria literária na Argentina. Já esteve na FLIP e seu romance "Ciências morais", premiado com o Herrald, foi publicado pela Companhia das Letras. Há também um outro romance "Duas vezes junho" da Amauta, porém está esgotado.

Muita gente reclama que o mercado editorial brasileiro é resistente a literatura produzida na América Latina. Exceto os clássicos, poucos autores conseguem romper essa barreira. Tenho a impressão de que a recíproca é verdadeira: nossos autores também são pouco traduzidos e divulgados por lá - há quem diga que mesmo aqui nossos autores são pouco divulgados. Outro dia, li um comentário a respeito da dificuldade de traduzir autores brasileiros pelo mundo - não me lembro onde foi.

Retomando o assunto Feira de Frankfurt, o Brasil já foi convidado de honra em 1994 e voltará a ocupar esse lugar na feira em 2013 - um ano antes da Copa do Mundo de Futebol e num período em que todas as atenções do mundo devem mesmo se voltar para o nosso país. Pode ser que o convite ajude a modificar um pouco esse cenário literário.

*imagem: divulgação.
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