domingo, 15 de agosto de 2010

MAIS UM POUCO DE JONATHAN FRANZEN

Jonathan Franzen está realmente vivendo um bom momento, independente da aparente crise instaurada na literatura dos Estados Unidos. Freedom, seu novo romance, recebeu críticas positivas do jornal New York Times e da revista New York. O livro será lançado no final desse mês nos Estados Unidos. Porém, dois trechos inéditos já apareceram na revista New Yorker: Good Neighbors e Agreeable.

Freedom conta a história da família Berglund formada pelo casal Patty e Walter Berglund e o filho adolescente, Joey. Eles parecem constituir aquele tipo de família ideal, até o momento em que as coisas começam a mudar sem nenhum motivo aparente. O filho se muda de casa, o marido arruma um emprego estranho, um antigo amigo do marido reaparece e a mulher já não é mais quem costumava ser. O romance serve como uma grande metáfora dos nossos tempos, com pessoas lutando para aprender a viver num mundo tão confuso.

Não foi à toa que a revista Time estampou Franzen na capa com as seguintes palavras: "O grande escritor americano - Ele não é o mais rico ou o mais famoso. Suas personagens não solucionam mistérios, não tem poderes mágicos ou vivem no futuro. Porém em seu novo romance, Jonathan Franzen nos mostra a maneira como nós vivemos hoje". Uma crítica velada aos fenômenos literários que estão dominando a lista de livros mais vendidos.

Enquanto Freedom não chega, podemos ler em português As correções (foi publicado pela Companhia das Letras, com tradução de Sérgio Flaksman). Esse romance ganhou diversos prêmios da crítica e rendeu a Franzen comparações com o melhor de John Updike, Thomas Mann e Don Delillo. O livro também se concentra sobre um núcleo familiar: os Lambert. Enid sente que já cumpriu seu papel de mãe e esposa; Alfred é uma aposentado que está sofrendo as consequência do mal de Parkinson; Gary, Chip e Denise, os três filhos do casal, vivem suas próprias tragédias pessoais espalhados pelos Estados Unidos. Um retrato bastante interessante da família americana nos anos 90.

Aproveitando que Jonathan Franzen está na moda, quero reproduzir aqui dez regras pessoais que ele usa quando vai escrever um livro. O artigo original saiu no Guardian (Ten rules for writing fiction) e revela as regras seguidas por diversos escritores. A tradução é minha e foi feita literalmente:
1. O leitor é um amigo, não um adversário, não um espectador.

2. Ficção não é uma aventura pessoal de um autor para o assustador ou o desconhecido não vale a pena escrever por nada a não ser pelo dinheiro.

3. Nunca use a palavra "então" como uma conjunção - nós temos "e" para este fim. Substituir "então" é a preguiçosa ou a desatenta não-solução do escritor para o problema de muitos "es" na página.

4. Escreva na terceira pessoa a menos que uma voz muito distinta em primeira pessoa se ofereça irresistivelmente.

5. Quando a informação se torna livre e universalmente acessível, uma volumosa pesquisa para um romance é desvalorizada junto com ele.

6. A mais pura ficção autobiográfia requer pura invenção. Ninguém nunca escreveu uma história mais autobiográfica do que "A Metamorfose".

7. Você vê mais ainda reunindo do que perseguindo depois.

8. É duvidoso que qualquer pessoa com uma conexão à internet em seu local de trabalho está escrevendo boa ficção.

9. Verbos interessantes raramente são muito interessantes.

10. Você tem que amar antes que você possa ser implacável.

*imagem: reprodução do site da Cia das Letras.
P.S: A Companhia das Letras também publicou um outro livro de Franzen, chamado A zona de desconforto - no entanto, eu quis privilegiar apenas as obras de ficção do autor.

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