terça-feira, 31 de agosto de 2010

CECÍLIA GIANNETTI


Qual foi o primeiro livro que você leu e que teve impacto sobre você?
Os primeiros livros que li, escolhidos por mim mesma na biblioteca e que causaram impacto ainda na infância, foram todos da série escrita por Monteiro Lobato sobre o Sítio do Pica-Pau Amarelo. Na adolescência, Lolita, de Nabokov.

Alguma vez você considerou a hipótese de não ser escritora?
Eu achei, ainda na idade absurda em que dizem pra gente escolher uma "profissão" e passar no vestibular senão vamos morrer na miséria etc., que o lugar pra ser escritor era jornal porque grandes autores brasileiros e estrangeiros que eu admirava tinham tido sua passagem pelo jornalismo. Na faculdade de jornalismo o que eu menos fiz foi gostar e discutir jornalismo, até que apareceu uma matéria eletiva chamada jornalismo literário, que tratava de técnicas literárias aplicadas ao jornalismo por gente como Hunter S. Thompson, Tom Wolfe, Gay Talese, etc. e falava também de Machado de Assis, Lima Barreto... aí eu já estava escrevendo contos, ficção, sem o menor interesse em trabalhar numa redação de jornal. Aí já era tarde porque eu precisava trabalhar. Fui parar no Jornal do Brasil. Chegava em casa à noite e escrevia o primeiro romance. Durei um ano lá no jornal, pedi demissão. Voltei a jornal em 2007 escrevendo crônicas para a Folha de S. Paulo, longe da redação e sem qualquer compromisso com linguagem/foco jornalístico, crônica é crônica.

Na sua opinião, todas as histórias já foram escritas ou ainda é possível criar novas histórias? Há novas formas de contar histórias?
Sempre existem histórias novas a serem contadas e, entre os autores que valem a pena ser lidos, cada um deve ter seu jeito próprio de contar cada história sua.

No que você está trabalhando agora?
Um texto para TV e fazendo ajustes no romance que escrevi para a coleção Amores Expressos, sobre Berlim.

Quem são os seus escritores favoritos com mais de quarenta anos?
É uma lista que muda com alguma frequência. Hoje eu te digo: J. D. Salinger, Borges, Clarice Lispector (esta é um caso delicado; para ser lida hoje, é bom ignorar tudo o que já se escreveu sobre ela, sem contar também as imitações. Acho que quando um autor é imitado à exaustão e tão mal, corre-se o risco de pôr o povo a correr da obra original; a imitação, quando reverbera constantemente, monstruosamente, causa ojeriza mesmo ao seu original, incompreensão, desinteresse).

Pego muito velho e velha também. Jane Austen é um excelente lava-língua, exemplo de literatura cujos subprodutos deixam alguma gente com vergonha de citar, de dizer que lê com gosto. O Oscar Wilde de "De profundis", F. Scott Fitzgerald, e, nem tão velho, o Lobo Antunes.

Tenho uma lista mais atualizada de novas "conquistas", contemporâneos, mas ainda não sei se é namoro, então preferimos não divulgar nomes para não gerar fofoca.

*ilustração: Nathália Lippo.

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