terça-feira, 24 de agosto de 2010
ANDREA DEL FUEGO
Qual foi o primeiro livro que você leu e que teve impacto sobre você?
O primeiro livro impactante foi de Machado de Assis, no contexto da leitura obrigatória da escola. Quando me dei conta de que a "realidade" escrita era mentira, que um cara chamado Machado estava inventando as frases, as pessoas, os lugares, pirei. Depois percebi que também havia o possível junto à invenção, a verossimilhança no humor, no comportamento humano que Machado disseca em sua prosa. A literatura libera a invenção.
Alguma vez você considerou a hipótese de não ser escritor?
Sinto-me escritora, de fato, agora que publiquei o primeiro romance. Mesmo tendo publicado livros de contos e livros juvenis, o romance vem de um suor tão ardido, é muito trabalho, muita força de disciplina, força na peruca. Sempre escrevi, sem saber o que significava ser escritor. Eu escreveria mesmo sendo manicure, teria diários. A escritura independe da decisão de ser escritor.
Na sua opinião, todas as histórias já foram escritas ou ainda é possível criar novas histórias? Há novas formas de contar histórias? Um dia, numa Flip, ouvi o escritor português José Luis Peixoto falar sobre isso. Foi uma libertação, porque estava escrevendo justamente sobre um personagem, cujo perfil já havia sido muito explorado, que é o anão. Ele disse, na ocasião, que podemos falar sobre os mesmos temas com segurança, jamais as palavras serão repetidas. Anos depois, foi a ele que pedi que escrevesse a orelha do livro onde está o personagem anão. Faço minhas as palavras do José Luis Peixoto. Haverá sempre novas formas de se contar histórias, assim como há infinitas possibilidades numéricas.
No que você está trabalhando agora?
Estou trabalhando em um romance cujo tema já foi muito trabalhado, é praticamente um tema esgotado, no caso, o sonho. Estou fazendo pesquisa sobre o assunto, indo atrás dos gregos. Mas apesar da pesquisa, na hora da escrita o texto se torna imprevisível, é muito interessante, mas a pesquisa segue atrás, como um encosto. É uma espécie de proteção que dita ideias, mas na hora da reescrita pode desaparecer.
Quem são os seus escritores favoritos com mais de quarenta anos?
Vivo? Philip Roth e Enrique Vila-Matas.
*Ilustração: Nathalia Lippo.
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