domingo, 2 de junho de 2013

A PROGRAMAÇÃO DA FLIP 2013


A FLIP anunciou a programação completa da sua décima primeira edição que acontece entre os dias 3 e 7 de julho. Como os curadores gostam de lembrar, a Festa é um evento de artes, humanidades e ideias cujo eixo central é a literatura. O que não engessa os assuntos das mesas e permite mudanças, inovações, experiências e surpresas aos expectadores. Quem não se lembra do ano em que o homenageado foi o sociólogo Gilberto Freire? Não estou menosprezando a importância de sua obra, mas destacando o fato de que com essa manobra a FLIP estava ampliando seu repertório condutor. Portanto, não causa espanto os debates sobre cinema, artes plásticas e arquitetura. 

O chamariz que confere popularidade a Festa está nessas mesas não necessariamente literárias com Gilberto Gil, Maria Bethânia lendo Fernando Pessoa ao lado de Cleonice Berardinelli, Nelson Pereira dos Santos ao lado da cantora Miúcha e uma mesa com Eduardo Coutinho (gênio).

A grande surpresa foi Michel Houellebecq. Acho que ninguém esperava já que ele tinha cancelado a sua participação na Festa, em 2011, alegando problemas pessoais. Resta torcer para que nada aconteça e ele venha. Apesar de ser uma figura aparentemente serena, seus livros sempre despertam debates apaixonados. No romance Partículas elementares, por exemplo, uma das personagens diz "Se havia um país detestável, era justamente, e especificamente, o Brasil”. Em 2008, quando ele esteve no Brasil para o Fronteiras do Pensamento, falou sobre o futebol como uma válvula de escape para o instinto de combate do ser humano. Em 2010, muita gente acusou Houellebecq de plágio quando O mapa e o território ganhou o Prix Goncourt - o livro contém trechos que foram retirados da Wikipédia. Vai ser no mínimo curioso.

A tarefa de fazer Houellebecq falar está nas mãos do jovem escritor e crítico espanhol Javier Montes. Será que vão conversar em francês? Ele já morou em Paris, Lisboa, Rio de Janeiro e Buenos Aires, tem experiência com tradução e domína outras línguas. Quem quiser conhecer um pouco dele pode recorrer aquela edição da Granta com Os melhores jovens escritores em espanhol. Montes também apresentou Emilio Fraia para o mundo na edição inglesa da Granta dedicada aos escritores brasileiros.

No mais, no terreno da prosa de ficção, a FLIP apostou em nomes ainda pouco conhecido pelos leitores brasileiro como o norueguês Karl Ove Knausgård, o francês Laurent Binet, a norte-americana Lydia Davis e o francês Jérôme Ferrari (ganhador do Prix Goncourt do ano passado). Um pouco mais conhecidos são o bósnio Aleksandar Hemon cuja obra tem sido publicada por aqui pela editora Rocco desde 2002, o irlandês John Baville publicado no Brasil desde o final dos anos 80 pelas editoras Globo, Rocco e Nova Fronteira e o norte-americano Tobias Wolff que apesar de ter livros publicados em português anda meio sumido das estantes - acho que só catálogo.

No quesito popularidade, os escritores brasileiros levam vantagem. Três dos prosadores mais comentados da temporada marcam presença: Paulo Scott, José Luiz Passos e Daniel Galera. E para aqueles críticos que acreditam que a não-ficção está mais interessante do que a ficção, vale as mesas entre Lila Azam Zanganeh e Francisco Bosco, Roberto Calasso e Jeanne-Marie Gagnebin (eles vão falar sobre Kafka e Baudelaire) e Geoff Dyer e John Jeremiah Sullivan (promete ser o ponto alto da Festa no domingo em que as pessoas costumam ir embora).

No mais, a gente sempre espera que a FLIP traga um escritor por quem somos apaixonados. Só que o mercado editorial no Brasil mudou, as Bienais do Livro estão tentando se reinventar, feiras estão crescendo, eventos menores estão surgindo e as editoras estão mais sintonizadas com isso. O que significa dizer que a gente não precisa esperar só pela FLIP para ver aquele autor que a gente gosta. Logo mais, ele pode pintar por aí na sua cidade.

***

Tenho certeza que eu, você e muita gente distribuiu palpites da programação nas conversas de mesa de botecos. Como acontece com o futebol, todo mundo tem uma escalação de sua preferência na cabeça. Algo me dizia que Zadie Smith e David Mitchell finalmente viriam (dois nomes em evidência nesse momento e cujos livros mais recentes devem sair em português logo mais). Não rolou. No mais, lamentei a 'não-vinda' de Chuck Palahniuk e olhando a programação geral, teria incluído Elif Batuman (uma das melhores 'ensaistas' do momento). Faltou uma mesa que contemplasse quadrinhos. Enfim, a lista é longa. Quem sabe numa outra oportunidade.

E você? Qual seria a sua escalação?

p.s.: deixei de fora os comentários sobre poesia porque o blog trata de prosa de ficção. no entanto, sei que vai ter coisa bacana.

(Foto: Walter Craveiro/Flip)
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Um comentário:

  1. Um dia ainda quero conferir essa festa de perto. O que mais me animou na edição deste ano são os autores franceses que estarão presentes. Acho interessante principalmente os mais jovens, menos conhecidos - mas que já apostamos que serão nomes aclamados em um futuro próximo.

    Bjs! Livro Lab

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