"O grande Gatsby foi atualizado pela última vez em 1924. Você não precisa de nova atualização, não é?" - Jonathan Franzen
Não tem jeito, todo mundo anda cansado das polêmicas envolvendo e-books, mas é quase impossível fugir do assunto. Ainda mais quando uma pessoa como Jonathan Franzen, o autor mais comentado dos últimos tempos, resolve entrar na briga. Para resumir a notícia: Franzen disse durante uma coletiva de imprensa no Hay Festival em Cartagena que os e-books estão corrompendo a sensação de permanência que os livros impressos carregam desde a sua invenção. Um livro impresso não muda. É o registro de um tempo, de um pensamento, de uma vontade e permanece com a forma que o seu autor lhe deu. Em contrapartida os e-books são fluídos. Lendo numa tela temos a sensação de que podemos deletar uma parte, mudar algo e mover tudo.
Detalhes curiosos e importantes: Franzen trabalha num computador sem conexão com a internet, a personagem Walter Berglund do seu romance Liberdade expressa uma ideia semelhante em relação à internet "All the real things, the authentic things, the honest things, are dying off" e seus livros ganharam versões em e-book.
O pensamento parece ingênuo, reacionário e apocalíptico - como muito defensores dos e-books vão dizer -, no entanto ele toca num ponto aparentemente inédito no debate: quem realmente vai garantir a permanência intacta de um livro eletrônico ao longo dos anos? Alguém poderia apagar ou alterar um livro por interesse próprio? Alguma corporação lucraria com isso?
Quando a Wikipédia surgiu muita gente reclamava de censura e controle na edição dos verbetes. A briga de Robert Darnton para digitalização do acervo da Biblioteca da Universidade de Harvard não é à toa. Estudos sobre os efeitos da internet em nossa memória pipocam por todos os lados - que o diga Nicholas Carr (A Geração Superficial / Editora Agir). Em tempos de SOPA, PIPA, caça a pirataria, Wikileaks, compartilhamento de dados e o escambau todo cuidado é pouco.
Voltando a Jonathan Franzen, penso no escritor Tom Rachman. Se ele estiver certo, Franzen (contra e-books), Zadie Smith (contra o Facebook), Jonathan Safran Foer (junto com seu irmão Joshua Foer contra a desmemoria da internet) e muita gente acima dos 30 anos serão os primeiros integrantes da geração que Rachman batizou como “românticos offline” - artigo muito interessante publicado pelo caderno Link, do Estadão.
(Um parêntese se me permitem. Tom Rachman também está numa matéria chamada "Internet imperfeita", publicada pelo Link. Ele fala mais detidamente sobre os "românticos offline", a reação que a hiperconectividade deve gerar em breve, a banalidade do Facebook e outras coisas mais. Vale lembrar que seu romance de estréia, Os imperfeccionistas, acaba de ser publicado em português pela editora Record).
Independente da força dos argumentos contra ou a favor, não existe uma conclusão definitiva sobre os e-books. Escritores, editores, livreiros e leitores estão no mesmo barco sem saber direito como se comportar em relação ao monólito que surgiu nos últimos anos. Parece mesmo que o fim dessa história vai ficar para depois. Enquanto isso debatemos e especulamos.
Ah! Jonathan Franzen estará na próxima edição da FLIP, em julho.
***
Em tempo, quero reproduzir uma nota sobre um futuro negro reservado ao e-book e publicada na coluna Painel das Letras, da Ilustrada/Folha de SP.
*Imagem: reprodução do Twitter 'Emperor Franzen'
Não tem jeito, todo mundo anda cansado das polêmicas envolvendo e-books, mas é quase impossível fugir do assunto. Ainda mais quando uma pessoa como Jonathan Franzen, o autor mais comentado dos últimos tempos, resolve entrar na briga. Para resumir a notícia: Franzen disse durante uma coletiva de imprensa no Hay Festival em Cartagena que os e-books estão corrompendo a sensação de permanência que os livros impressos carregam desde a sua invenção. Um livro impresso não muda. É o registro de um tempo, de um pensamento, de uma vontade e permanece com a forma que o seu autor lhe deu. Em contrapartida os e-books são fluídos. Lendo numa tela temos a sensação de que podemos deletar uma parte, mudar algo e mover tudo.
Detalhes curiosos e importantes: Franzen trabalha num computador sem conexão com a internet, a personagem Walter Berglund do seu romance Liberdade expressa uma ideia semelhante em relação à internet "All the real things, the authentic things, the honest things, are dying off" e seus livros ganharam versões em e-book.
O pensamento parece ingênuo, reacionário e apocalíptico - como muito defensores dos e-books vão dizer -, no entanto ele toca num ponto aparentemente inédito no debate: quem realmente vai garantir a permanência intacta de um livro eletrônico ao longo dos anos? Alguém poderia apagar ou alterar um livro por interesse próprio? Alguma corporação lucraria com isso?
Quando a Wikipédia surgiu muita gente reclamava de censura e controle na edição dos verbetes. A briga de Robert Darnton para digitalização do acervo da Biblioteca da Universidade de Harvard não é à toa. Estudos sobre os efeitos da internet em nossa memória pipocam por todos os lados - que o diga Nicholas Carr (A Geração Superficial / Editora Agir). Em tempos de SOPA, PIPA, caça a pirataria, Wikileaks, compartilhamento de dados e o escambau todo cuidado é pouco.
Voltando a Jonathan Franzen, penso no escritor Tom Rachman. Se ele estiver certo, Franzen (contra e-books), Zadie Smith (contra o Facebook), Jonathan Safran Foer (junto com seu irmão Joshua Foer contra a desmemoria da internet) e muita gente acima dos 30 anos serão os primeiros integrantes da geração que Rachman batizou como “românticos offline” - artigo muito interessante publicado pelo caderno Link, do Estadão.
(Um parêntese se me permitem. Tom Rachman também está numa matéria chamada "Internet imperfeita", publicada pelo Link. Ele fala mais detidamente sobre os "românticos offline", a reação que a hiperconectividade deve gerar em breve, a banalidade do Facebook e outras coisas mais. Vale lembrar que seu romance de estréia, Os imperfeccionistas, acaba de ser publicado em português pela editora Record).
Independente da força dos argumentos contra ou a favor, não existe uma conclusão definitiva sobre os e-books. Escritores, editores, livreiros e leitores estão no mesmo barco sem saber direito como se comportar em relação ao monólito que surgiu nos últimos anos. Parece mesmo que o fim dessa história vai ficar para depois. Enquanto isso debatemos e especulamos.
Ah! Jonathan Franzen estará na próxima edição da FLIP, em julho.
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Em tempo, quero reproduzir uma nota sobre um futuro negro reservado ao e-book e publicada na coluna Painel das Letras, da Ilustrada/Folha de SP.
Pesquisa com editores americanos divulgada no Digital Book World, nesta semana em Nova York, mostrou um baque na empolgação com o e-book: só 28% creem que suas empresas melhorarão com a transição para o digital - eram 51% em 2011.Aguardem cenas dos próximos capítulos.
*Imagem: reprodução do Twitter 'Emperor Franzen'
A respeito disso, junto aos autos aquilo que chamarei de "Evidência A" http://wordswithoutborders.org/article/seizing-cervantes (conto de Antônio Xerxenesky traduzido para o inglês, com versão brasileira no livro "A página assombrada por fantasmas").
ResponderExcluirInteressante a questão levantada por Franzen. Não tinha lido ainda exatamente o que ele falou, apenar um comentário de alguém, intitulado "Why should we care about whar Jonathan Franzen thinks about e-books?" ou algo assim.
Abraço!
Tuca, o que é exatamente "Evidência A"?
ExcluirAff, sou eu sendo chato e querendo falar juridiquês, hahahaha. Pelo menos o juridiquês de seriado americano: desde que me formei, não quero ver um vade-mecum nem pintado de Guerra e Paz. =P A brincadeira Law & Order começou a partir do "junto aos autos". Só faltou um "Meritíssimo" no meio do comentário ou um "Provido o agravo, dê-se seguimento na forma da lei".
Excluir(Não sou bom piadista, sempre omito algo essencial para o eventual riso.)
Eu não gosto, mas não sou "contra" (nem poderia, pois o mundo e suas inovações estão aí, né?). Mas, em minha humilde opinião, o livro de papel é insubstituível!
ResponderExcluirCasmurro (qual é o seu nome? rs), você tem alguma informação a respeito da reedição do "Extremamente alto...,", que você mesmo informou aqui, há uns meses?
ResponderExcluirAnônimo, meu nome é Rafael. A reedição do "Extremamente alto..." já está à venda nas livrarias.
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