O lançamento da primeira tradução de Guerra e paz feita diretamente do russo por Rubens Figueiredo confirmou nosso crescente interesse pela literatura daquele país. O livro foi um sucesso de vendas, público e crítica - um feito para um clássico de 2536 páginas que descreve nos mínimos detalhes a vida da sociedade na Rússia do século XIX e as manobras de Napoleão Bonaparte na tentativa de tomar o poder. Tamanho interesse pela literatura russa não é recente. O caminho foi aberto quase dez anos antes de Rubens Figueiredo completar a sua tarefa hercúlea.
O fenômeno da "nova invasão russa" começou em 1999 com a "Coleção Leste", da Editora 34, e a publicação de Crime e castigo, de Dostoiévski com tradução premiada de Paulo Bezerra - quem estabeleceu esse 'marco' não fui eu, mas Paulo Scarpin num artigo bacana "Nossos três russos: Paulo Bezzera, Boris Schnaiderman e Rubens Figueiredo" para a revista Piauí. De lá para cá, a editora 34 publicou pela mesma coleção outros trinta e três títulos com traduções primorosas. A Cosac Naify também contribuiu bastante na empreitada de traduzir os russos diretamente para o português. Além das obras de Liev Tolstói, a editora publicou títulos alguns livros pela coleção Prosa do Mundo (Ivan Turguêniev, Issac Bábel, Antón Tchekhov, Maksim Górki etc.) e por uma coleção simpaticamente batizada de "Russinhos", dedicada somente aos escritores daquele país.
A saúde editorial do nicho só atesta que a procura por esses clássicos está longe de acabar, ainda bem! Entretanto, pergunto se não seria um momento oportuno para ousar um pouco e publicar obras de escritores contemporâneos.
Foi assim que descobri um prêmio literário muito popular na Rússia chamado Независимая литературная премия "Дебют" (em inglês Debut Prize for young authors). O prêmio foi instituído em 2001 pela fundação Pokolenie e ganhou projeção internacional em 2010 - quando a fundação passou a traduzir os livros ganhadores e enviar seus autores para feiras de livros e festivais literários internacionais.
Foi assim que descobri um prêmio literário muito popular na Rússia chamado Независимая литературная премия "Дебют" (em inglês Debut Prize for young authors). O prêmio foi instituído em 2001 pela fundação Pokolenie e ganhou projeção internacional em 2010 - quando a fundação passou a traduzir os livros ganhadores e enviar seus autores para feiras de livros e festivais literários internacionais.
Da iniciativa surgiu uma antologia de jovens escritores russos com até 25 anos de idade - no estilo da série "jovens escritores..." que a New Yorker e a Granta já fizeram. A antologia foi publicada em inglês Squaring Circle (New Russian Writing) pela editora GLAS e em espanhol El segundo círculo pelo selo La otra orilla. Não sei porque razão alguns escritores da edição em inglês não estão na edição em espanhol e vice-versa.
A antologia me parece cercada de curiosidade porque nenhum dos escritores selecionados viveu a experiência da União Soviética - ou eram muito pequenos para entender o que estava acontecendo. Fator que por si só os cerca de exotismo. Como Olga Slávnikova, a organizado da antologia, aponta na introdução todos estão livres da herança política carregada pelas gerações anteriores. Eles não têm qualquer nostalgia pelo mundo soviético, tampouco lutam contra esse passado recente. O que lhes interessa é o momento presente da Rússia, sua realidade atual e tudo o que se passa dentro das suas fronteiras geográficas. Também não deixa de ser curioso que a maioria dos escritores cita como influências outros escritores russos, sem deixar de lado Nabokov, Gogol, Bulgákov, Tolstói, Dostoievski e Tchekhov.
(Não há como não lembrar das declarações de Vladimir Putin, primeiro-ministro russo, sobre a instituição de um cânone literário nacional que deveria ser obrigatório a todos os russos para fortalecer a identidade cultural do país. Será que essa atual geração atende aos anseios de Putin?).
Ainda, segundo a introdução, o maior dilema dos jovens russos é lidar com a incerteza diante dos problemas apresentados pela vida. Não existe garantia, planejamento ou estratégia num mundo onde é possível acontecer tudo, de bom ou ruim. Por ser um terreno imprevisível, a literatura serve perfeitamente para a situação. Não é à toa que o Debut Prize recebe mais de 50.000 textos todos os anos.
O jornal espanhól El País destacou três escritores da antologia: Alekséi Lukiánov, Olga Onóiko e Ígor Savéliev. Sendo o primeiro comparado a Italo Calvino. Particularmente ainda não li nenhum conto da antologia, mas um preview está disponível neste link - os textos aparecem integralmente, não sei porque cargas d'água.
Tomara que alguma editora esteja interessada nesse programa de divulgação desses novos escritores provenientes de um país com ampla tradição literária. Público não vai faltar, tenho certeza. Vamos cruzar os dedos e que venham os russos!
*Imagem: reprodução das fotos publicadas no El Pais / reprodução da capa das edições em espanhol e inglês.
A antologia me parece cercada de curiosidade porque nenhum dos escritores selecionados viveu a experiência da União Soviética - ou eram muito pequenos para entender o que estava acontecendo. Fator que por si só os cerca de exotismo. Como Olga Slávnikova, a organizado da antologia, aponta na introdução todos estão livres da herança política carregada pelas gerações anteriores. Eles não têm qualquer nostalgia pelo mundo soviético, tampouco lutam contra esse passado recente. O que lhes interessa é o momento presente da Rússia, sua realidade atual e tudo o que se passa dentro das suas fronteiras geográficas. Também não deixa de ser curioso que a maioria dos escritores cita como influências outros escritores russos, sem deixar de lado Nabokov, Gogol, Bulgákov, Tolstói, Dostoievski e Tchekhov.
(Não há como não lembrar das declarações de Vladimir Putin, primeiro-ministro russo, sobre a instituição de um cânone literário nacional que deveria ser obrigatório a todos os russos para fortalecer a identidade cultural do país. Será que essa atual geração atende aos anseios de Putin?).
Ainda, segundo a introdução, o maior dilema dos jovens russos é lidar com a incerteza diante dos problemas apresentados pela vida. Não existe garantia, planejamento ou estratégia num mundo onde é possível acontecer tudo, de bom ou ruim. Por ser um terreno imprevisível, a literatura serve perfeitamente para a situação. Não é à toa que o Debut Prize recebe mais de 50.000 textos todos os anos.
O jornal espanhól El País destacou três escritores da antologia: Alekséi Lukiánov, Olga Onóiko e Ígor Savéliev. Sendo o primeiro comparado a Italo Calvino. Particularmente ainda não li nenhum conto da antologia, mas um preview está disponível neste link - os textos aparecem integralmente, não sei porque cargas d'água.
Tomara que alguma editora esteja interessada nesse programa de divulgação desses novos escritores provenientes de um país com ampla tradição literária. Público não vai faltar, tenho certeza. Vamos cruzar os dedos e que venham os russos!
*Imagem: reprodução das fotos publicadas no El Pais / reprodução da capa das edições em espanhol e inglês.
Nossa.
ResponderExcluirSuper vou querer ler, se traduzidos. O sexto parágrafo foi o principal catalizador de minha atenção. Fiquei pensando em analogias com o Brasil...
(Seu blog entrou na lista dos endereços que meus dedos digitam automaticamente, sem eu sequer perceber, junto com o Blog da Cia, o TodoProsa, a Biblioteca da Raquel, o Blog do IMS, o Blog da Cosac Naify, o Meia Palavra e o Sobrecapas. Não estranhe se eu entrar só pra comentar besteiras. BTW, não estou conseguindo baixar o Zine: fica aparecendo que o download foi concluído sem ter baixado coisa alguma. Ainda tô querendo ler o texto do (ou sobre) Perec.)
Tuca, fiz um teste e consegui fazer o download do fanzine. Pode ter sido um problema temporário. Faz um teste, por favor. Bacana que vc venha sempre ao blog, eu tbm sempre passo pelo "Leitor comum". =)
ExcluirVou testar baixar como torrent. Das outras vezes que o 4shared zoou comigo, eu tentei baixar desse jeito e funcionou. Vou tentar ao chegar em casa.
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