quinta-feira, 31 de outubro de 2013

DUAS REVISTAS


Amanhã chega às livrarias a nova edição da revista Serrote. A capa tem uma pintura feita por Jacob Lawrence que faz parte de uma série de pinturas chamada "Migração" retratando a migração dos afro-americanos do sul rural para o norte urbano dos Estados Unidos. A edição tem textos de Alejandro Zambra falando de computadores, Adam Gopnik comentando o estilo de Gertrude Stein, Milton Hatoum sobre Graciliano Ramos (ensaio lido na abertura da última FLIP), Julian Barnes sobre artes visuais e Alberto Manguel sobre cartas de amor.

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Também saiu na gringa a nova edição da Granta com tema "After the War". Tem ficção de Yiyun Li e Paul Auster e ensaios assinados por Hari Kunzru e Herta Müller.

*Imagens: divulgação.
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ADAM THIRLWELL: LIVRO COM FORMA E CONTEÚDO


Enquanto escrevia sobre J.J. Abrams e a celebração do livro como objeto (em toda a sua materialidade ao contrário dos ebooks achatados e virtuais) acabei me deparando com o intrigante Kapow!, de Adam Thirlwell. O livro saiu no ano passado pela editora inglesa Visual Editions com um design muito particular: variação de fontes, páginas dobradas (quando você desdobra elas aumentam), caixas de texto dentro dos parágrafos, parágrafos partidos ao meio, textos que correm em vários sentidos da página e assim segue. Para entender melhor assista esse vídeo. Tudo do jeito que a turma da Visual Editions e os seus fãs gostam (eles só fazem coisa caprichada - procure saber). O design foi criado por Frith Kerr, do Studio Frith.

As pessoas mais rabugentas certamente olham para o livro e pensam "bonitinho, mas ordinário - não passa de um fetiche gráfico". Ledo engado!


Kapow! foi saudado pela crítica inglesa justamente porque alia forma e conteúdo (como todos os livros da Visual Editions). O narrador da história é um escritor que mora em Londres e começa a acompanhar os eventos da Primavera Árabe pela televisão e pela internet, ao mesmo tempo. Tudo vai aparentemente bem até que pensamentos e observações de outros personagem que estão em Londres e no Egito começam a tomar conta da história - tal qual a revolução que o narrador está presenciando a distância. 

Adam Thirlwell estava interessado em experimentar a digressão como um elemento importante na construção desse livro (ele pega carona na tradição de Laurence Sterne, Robert Musil, Philip Roth, Javier Marias e tantos outros para levar o recurso ao limite extremo - parece que deu muito certo). Sua ousadia não brotou do dia para noite. Ele tem outros dois livros publicados Política (saiu pela Companhia das Letras, em 2004, mas está esgotado e fora de catálogo) e The Escape, ainda inédito no Brasil. Além disso, ele apareceu duas vezes na edição especial da revista Granta com os melhores jovens escritores ingleses, em 2003 e 2013. Não é pouca coisa.

Vejam que curioso, na edição da Granta dedicada aos escritores brasileiros foi Thirlwell quem apresentou Michel Laub aos ingleses. Ele virou fã e uma qualidade que destaca em Laub é justamente a digressão das histórias.

Voltando ao começo, dificilmente Kapow! vai ganhar tradução para o português - quem sabe? Portanto, vale a pena recorrer a edição original, ficar de olho na produção desse rapaz e celebrar o livro-objeto.

*Imagem: Amélie Bonhomme/reprodução
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terça-feira, 29 de outubro de 2013

DE VOLTA PARA O PASSADO


J.J. Abrams, diretor de Lost e Star Trek, escreveu um livro de ficção. Na verdade, o livro foi escrito 'a quatro mãos'. Quem escreveu mesmo - no sentido estrito do termo - foi Doug Dorst e, pelo que apurei, Abrams colaborou na elaboração do enredo usando toda sua experiência em narrativas cinematográficas. 

O livro chama S. e conta duas histórias cruzadas: a primeira está nas páginas do livro propriamente dito e chama Ship of Theseus escrita por um misterioso autor de nome V.M. Straka; a segunda acontece em anotações feitas nas margens desse livro por dois leitores chamados Jennifer e Eric. O relacionamento deles também extrapola os limites do livro e acontece por meio de cartas, recortes de jornal, fotografias, cartões postais, mapas e bússolas. Ufa! Como a explicação ficou um pouco confusa, recomendo que você assista esse trailer para compreender tudinho.

Em reportagem para o New York Times, Abrams disse que não publicou o livro com intenção de transformá-lo em filme. A ideia era fazer aquilo que só um livro pode fazer e celebrar todo o potencial de objeto físico. Por isso, S. tem um tratamento especial: vêm em capa dura num estojo selado por um adesivo que o leitor precisa rasgar, as páginas são amareladas (para dar aquele aspecto de livro antigo), as anotações dos leitores são todas feitas à mão em cores variadas e tem os complementos que falei antes (cartas, recortes de jornal, fotografias etc.). Os entusiastas daqueles livros transmídia devem estar lamentando - embora o livro tenha recebido um bom projeto de marketing na internet com o trailer e o mistério envolvendo sua divulgação.

Vai revolucionar a literatura? Certamente não. É um livro de mistério, aventura e ação que promete aos leitores (e fãs de J.J. Abrams) muitos momentos de entretenimento para juntar as peças do quebra cabeça para decifrar o enigma por trás das histórias.

A dupla de autores acerta em cheio ao criar um livro com todas essas características em plena era dos livros digitais. S. vai ganhar uma versão digital com material na internet, mas a experiência física só com o livro mesmo.

Também acho curioso o fato das duas histórias ocorrendo em paralelo e ao mesmo tempo. Cabe ao leitor, tal qual uma câmera cinematográfica, escolher o que focar em cada momento. Nisso entra a experiência de Abrams como escritor/diretor. Volto a dizer, não é a primeira vez que alguém faz isso na literatura (o que é novo hoje em dia, né?). A diferença, dessa vez, está na grife de um celebrado diretor de Hollywood que sabe a maneira correta de contar histórias para o seu público.

Tem tudo para entrar em todas as listas de 'mais vendidos'. As editoras brasileiras devem estar de olho (um comentário em forma de cochicho: considerando o peso da marca J.J. Abrams os direitos de publicação vão custar uma pequena fortuna), mas vai dar um pequeno trabalho traduzir o livro, criar as fontes, imprimir com essas características vintage e produzir o material extra.

Vamos acompanhar! 

*Imagem: reprodução.

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segunda-feira, 28 de outubro de 2013

FINAL DA COPA DE LITERATURA BRASILEIRA 2012/2013


Depois de doze semanas consecutivas chega ao final a Copa de Literatura Brasileira - edição 2012/2013. Na disputa pelo 'título' estavam dois gigantes (para abusar do jargão usado pelos locutores esportivos): O sonâmbulo amador, de José Luiz Passos X Diário da queda, de Michel Laub. Não quero bancar o estraga prazeres e revelar o 'vencedor', portanto se você quiser saber o resultado vá direto para o jogo (clique aqui) - quer um conselho: não seja ansioso e acompanhe a decisão dos jurados voto a voto; é de tirar o fôlego. Eu também votei!

Independente de você concordar ou não com o resultado final, tenho certeza que a impressão geral é que a última temporada de lançamentos nos rendeu uma enxurrada de bons livros (também acho que 2013 vai fechar com saldo positivo já que tem um monte de gente produzindo). Isso não significa que todos os livros que estavam na disputa eram obras-primas, mas eram interessantes/instigantes e bem acima da média. Além disso, acredito que a Copa está contribuindo bastante para colocar a literatura brasileira contemporânea em circulação e debate.

No mais, quero dizer que foi uma honra participar da empreitada - sobretudo quando penso que, além do voto na final, avaliei uma partida 'difícil' entre os livros Barba ensopada de sangue X Habitante irreal - ao lado de gente muito bacana. Agradeço aos organizadores pelo convite.

Que venha a próxima!

*Imagem: reprodução.
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quinta-feira, 24 de outubro de 2013

NOTAS #44


Fanfiction japonesa
Haruki Murakami não ganhou o prêmio Nobel de Literatura (nos últimos três anos ele aparece em primeiro na lista dos palpiteiros de plantão), mas figura essa semana nas páginas da revista - übber cool - New Yorker com um conto chamado "Samsa in love". O escritor japonês, capaz de levar milhares de leitores a dormirem em longas filas nas portas das livrarias por causa de 1Q84, promete derreter os corações endurecidos pela tristeza ou rabugice. O conto retoma a personagem da novela A metamorfose, de Franz Kafka e promove uma espécie de sequência: certa manhã, ao despertar de sonhos intranquilos, uma criatura encontrou-se em sua cama metamorfoseado em Gregor Samsa. Como o título sugere, Samsa vai reaprender a usar seu corpo humano e cair de amores por uma misteriosa mulher que aparece em sua casa.

"Samsa in love" foi retirado de uma coletânea de contos chamada Ten Selected Love Stories (capa acima), publicada mês passado no Japão pela editora Chuokoron-Shinsha. Curiosamente, Alice Munro também está nesta coletânea que teve seleção e tradução para o japonês feita pelo próprio Murakami.

Moraes, mais uma vez
Falando em páginas de revista, a Piauí publicou na edição desse mês mais um trecho de A travessia de Suez, próximo romance escrito por Reinaldo Moraes. Outro trecho apareceu na edição de julho de 2010. A história do sujeito que morre e descobre que era uma encarnação de Deus deve sair pela Alfaguara no ano que vem.


Revolta literária
O romance L’esprit de l’ivresse, do autor estreante Loïc Merle está causando um pequeno burburinho na recente temporada de lançamentos na França. O livro conta a história de um homem mais velho que ao voltar para casa depois de um dia cansativo de trabalho é preso pela polícia, morre e vira símbolo de uma revolta que terá proporções gigantescas em todo o país - o pano de fundo está concentrado naquela revolta de jovens dos subúrbios franceses que aconteceu em 2005. Para além do enredo vibrando narrado em três diferentes perspectivas, a crítica aponta como qualidades do romance: as frases longas, as belas descrições e o manejo do autor para construir personagens que escapam a mera caricatura sociológica.

Pode entrar facilmente na lista de livros que ecoam a revolta das ruas.

Do barulho
Parece que no futuro o silêncio vai andar a quilômetros de distância dos livros - olha que não estou falando das megalópoles ensurdecedoras ou dos aparelhos de MP3 (reparou como todo mundo prefere ler com um fone acoplado ao ouvido). A empresa Booktrack acaba de lançar um aplicativo para o Google Chrome chamado Booktrack Studio. Nele, você pode adicionar música, som ambiente e até efeitos sonoros mais simples as suas histórias preferidas. Detalhe: os sons ocorrem de acordo com o ritmo de leitura de cada um, pois o som está sincronizado a cada linha ou trecho específico. Promete atender aos anseios dos leitores digitais, sobretudo porque permite... compartilhar.

É interessante! Vale experimentar.

*Imagem: reprodução.

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A VOLTA DO QUE NÃO FOI


Não, meu caro leitor, você não está tendo uma alucinação. Apesar da longa pausa sem atualizações, o blog ainda existe e eu estou por aqui. Não queria apelar para aquele velho lenga-lenga de falta de tempo, mas não vejo outra saída. Fiquei ocupado com uma série de coisa e por falta de tempo (ou preguiça) - nunca por falta de ideias - o blog acabou parado.

Para não sumir completamente dei as caras no Twitter e no Tumblr.

Aos poucos, leitor amigo, estou voltando. Tire o pó da sua estante, desencaixote os livros, organize as prateleiras, revire as páginas e baixe os aplicativos...

Imagem: Erik Desmazières. La salle des planètes, from La Bibliothèque de Babel. / Reprodução
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