quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

PRÊMIO PARA MELHOR TRADUÇÃO

Na última terça-feira o júri do prêmio Best Translated Book Award anunciou sua lista de concorrentes a melhor tradução de literatura internacional publicada nos Estados Unidos em 2011. Foram escolhidos 25 livros de 14 países escritos em 12 línguas. Entre eles está Os leopardos de Kafka, de Moacyr Scliar traduzido do português para o inglês por Thomas O. Beebee e publicado pela Texas Tech University Press. Uma nova lista, com apenas 10 concorrentes, será anunciada em 10 de abril e o livro ganhador será conhecido durante o PEN World Voices Festival em Nova York - que acontece no final de abril e começo de maio.

Difícil avaliar quais as chances que o romance de Scliar tem para ganhar o prêmio. Embora o critério de seleção seja a qualidade do livro, sabemos que tem maior peso no julgamento a qualidade da tradução. Ou seja, mais da metade da responsabilidade está nas mãos de Thomas O. Beebee (renomado professor de literatura comparada e alemão na Universidade Penn State). Ainda temos de considerar dois pontos importantes: a) também estão concorrendo traduções de romances escritos por Amos Oz, Juan José Saer, Jean-Philippe Toussaint e Enrique Vila-Matas - para citar os nomes mais conhecidos; b) traduções do sérvio, norueguês, húngaro, sueco, polonês e hebraico levam uma pequena vantagem sobre as línguas mais usualmente faladas como francês, espanhol, italiano e alemão pelo grau de complexidade daquelas línguas e dificuldade de encontrar um tradutor (não tenho a menor ideia de como é o mercado de tradução norte-americano, mas tomando como base o Brasil quantos tradutores de húngaro você conhece?).

No que depender de Moacyr Scliar temos muitas chances. Li uma resenha sobre o livro e parece deliciosamente cheio de brincadeiras com a história, a literatura e a vida. Como resume o tradutor Thomas O. Beebee: "O romance de Scliar aborda temas da história brasileira e européia, escrita judaica, as viagens da literatura e uma questão fundamental da leitura: como julgar a correção ou incorreção de uma interpretação literária". Vamos cruzar os dedos! Levando o prêmio, projetamos um pouco da nossa literatura no mundo e fazemos jus a memória de um grande escritor que faleceu em março do ano passado, infelizmente.

***

Achei curioso descobrir que não existem prêmios de tradução de ficção tão tradicionais ou antigos quanto o Nobel, o Man Booker Prize, o Pulitzer e o Goncourt, por exemplo. Parece que no campo da tradução de poesia existem prêmios desde 1940 (ou até mais antigo). Imagino que deve ser por causa da especificidade do trabalho, afinal a nossa língua só diz respeito ao nosso próprio país ou aos falantes dela no mundo. Não tem como criar um prêmio internacional para isso. Solução: cada país deveria ter um prêmio importante do gênero já que a uma figura tão amada quanto odiado como o tradutor ("tradutor - traidor") pode ajudar ou prejudicar uma obra-prima.

O Best Translated Book Award pelo qual Scliar está concorrendo, por exemplo, foi criado em 2008. O prêmio para tradução mais antigo que encontrei chama Tchernichovsky Prize e foi criado em 1942 para traduções feitas para o hebraico.

No Brasil temos três prêmios conhecidos para tradução de ficção: APCA, Jabuti e Academia Brasileira de Letras. O prêmio da APCA foi criado em 1956, ganhou uma categoria específica para premiar literatura em 1972 e somente em 1974 contemplou o trabalho dos tradutores. Naquele ano ganhou Davi Arrigucci Junior pela tradução de Prosa de observatório, de Julio Cortazar. O Prêmio Jabuti foi criado em 1959, mas criou a categoria tradução somente em 1979 - premiando o livro Verso, reverso, controverso com traduções de Augusto de Campos para poemas dos trovadores provençais. A ABL criou recentemente um prêmio para tradução - o site não informa ao certo o ano, mas parece que foi depois do ano 2000.

Prêmios trazem prestígio ao trabalho do tradutor e ajudam a regulamentar o mercado que anda super aquecido por aqui. Quem sabe algum outro prêmio não esteja a caminho?

*P.S.: caso eu tenha praticado alguma incorreção ou tenha esquecido algum prêmio, por favor, escrevam nos comentários.

*P.S.2: como lembrou a Denise Bottman nos comentários, temos também o Prêmio Paulo Ranói de Tradução, organizado pela Fundação Biblioteca Nacional. Foi criado em 1995.

*imagem: reprodução de capa do livro de Moacyr Scliar em português e inglês.

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3 comentários:

  1. Existe também o Prêmio Paulo Rónai de Tradução, pela Fundação Biblioteca Nacional: os ganhadores da última edição (2011) foram luis carlos cabral, andré vallías e sergio tellaroli

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  2. ops, p.s.: o prêmio paulo rónai foi criado em 1995

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  3. Denise, não conhecia esse prêmio e não encontrei na "apuração". Um monte de gente bacana já ganhou, né? Vou atualizar no post.

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