No ano passado peguei uma bela ideia emprestada e fiz uma brincadeira comparando as capas dos mesmos livros em edições brasileiras e portuguesas. Para não perder a tradição e pensando em quanto isso seria divertido, faço uma nova rodada da brincadeira. Tamanha diferença entre as capas portuguesas e brasileiras não deve causar muito espanto, afinal cada país tem uma cultura visual muito particular e algo atrai os portugueses pode não atrair os brasileiros, evidentemente. O exercício de olhar as capas lado a lado servem para especularmos sobre o trabalho do capista na hora de resolver o problema de como dar um rosto a um livro e vendê-lo para o leitor.
A grande arte, de Rubem Fonseca
Na reedição desse grande clássico contemporâneo os dois capistas pensaram na mesma coisa: uma faca. Não é à toa, já que esse elemento traduz bem o enredo do livro. Os portugueses optaram por uma singela ilustração que transpassa a capa e vai a contracapa, ao passo que a edição brasileira escolheu um raio-x dilacerante - para dizer o mínimo. Ponto para as duas.
a máquina de fazer espanhóis, de valter hugo mãe
A capa da Alfaguara portuguesa é bonita, mantém a identidade da marca e tem humor. No entanto, é difícil não se render aos encantos abstratos (querendo ser figurativos) de Lourenço Mutarelli e ao projeto gráfico caprichado da Cosac Naify. Como explica Paulo Chagas no blog da editora "o procedimento remetia aos papéis marmorizados das partes internas de antigas encadernações. Era como se a capa tivesse sido virada do avesso".
A capa da Alfaguara portuguesa é bonita, mantém a identidade da marca e tem humor. No entanto, é difícil não se render aos encantos abstratos (querendo ser figurativos) de Lourenço Mutarelli e ao projeto gráfico caprichado da Cosac Naify. Como explica Paulo Chagas no blog da editora "o procedimento remetia aos papéis marmorizados das partes internas de antigas encadernações. Era como se a capa tivesse sido virada do avesso".
A noiva do tigre (A mulher do tigre, em Portugal), de Téa Obreht
Enquanto os portugueses "preferiram" a mesma capa dos norte-americanos, nós criamos um desenho de cores marcantes. Só que a edição portuguesa tem uma certa vantagem de não entregar tudo logo de cara. O tigre pela metade guarda o mistério entre ameaça e ajuda. O tigre da capa brasileira parece mansinho.
Os imperfeccionistas, de Tom Rachman
Um caso curioso de repetição. Tanto a edição portuguesa quanto a edição brasileira optaram pela mesma capa da edição americana. Se não estou enganado a mesma coisa aconteceu na Inglaterra, no Canadá, na Espanha e na Alemanha. Pobreza de ideias? Não sei dizer. Mas qual é o problema de reproduzir uma capa bem limpa e elegante como essa. Nem preciso dizer que o jornal ali diz tudo.
Liberdade, de Jonathan Franzen
Os portugueses seguiram colados a escolha da capa britânica e colocaram um imenso "L" gráfico com o detalhe pequeno da pena. No entanto, nos saímos melhor traduzindo a ideia de "liberdade" ao contrapor uma cerca (em estilo tipicamente americano, mas ao mesmo tempo universal) com um céu cheio de nuvens. Inclusive, acho nossa capa infinitamente superior a da edição norte-americana. Alguma coisa me incomoda naquele pássaro azul e naquelas letras meio de lado.
*Tem uma curiosidade a respeito da edição portuguesa: a mesma imagem de capa foi usada no livro Tu ne jugeras point, de Armel Job (um escritor belga). Foi pura coincidência como está explicado aqui.Os malaquias, de Andréa del Fuego
As duas capas são bonitas. Trabalham com a ideia de família. De qualquer forma, prefiro a capa brasileira: é mais clara e as sombras na parede mantém o segredo sobre a fisionomia das personagens.
Outra vida, de Rodrigo Lacerda
A nossa capa guarda algo de estático, nostálgico, triste. Sensação que as personagens do livro devem experimentar na pele, pois é sobre uma viagem de volta que trata o enredo. A capa portuguesa tem movimento, trânsito e mudança que ganham ares de tristeza graças aos guarda-chuvas abertos. Por mais colorido que sejam não deixa de ser triste.
Pornopopéia, de Reinaldo Moraes
A capa brasileira não revela nada. Parece que é uma foto de Reinaldo Moraes lendo alguma coisa. Serve para destacar o nome do livro em grandes letras vermelhas em cadência divertida. Em contrapartida a capa portuguesa leva a melhor com a brincadeira visual das formas femininas. Pode parecer clichê usar a "natureza" para retratar coisas mais picantes, mas considerando o enredo a imagem tem tudo a ver. Ponto para eles!
*Imagens: divulgação e reprodução.
Enquanto os portugueses "preferiram" a mesma capa dos norte-americanos, nós criamos um desenho de cores marcantes. Só que a edição portuguesa tem uma certa vantagem de não entregar tudo logo de cara. O tigre pela metade guarda o mistério entre ameaça e ajuda. O tigre da capa brasileira parece mansinho.
Um caso curioso de repetição. Tanto a edição portuguesa quanto a edição brasileira optaram pela mesma capa da edição americana. Se não estou enganado a mesma coisa aconteceu na Inglaterra, no Canadá, na Espanha e na Alemanha. Pobreza de ideias? Não sei dizer. Mas qual é o problema de reproduzir uma capa bem limpa e elegante como essa. Nem preciso dizer que o jornal ali diz tudo.
Liberdade, de Jonathan Franzen
Os portugueses seguiram colados a escolha da capa britânica e colocaram um imenso "L" gráfico com o detalhe pequeno da pena. No entanto, nos saímos melhor traduzindo a ideia de "liberdade" ao contrapor uma cerca (em estilo tipicamente americano, mas ao mesmo tempo universal) com um céu cheio de nuvens. Inclusive, acho nossa capa infinitamente superior a da edição norte-americana. Alguma coisa me incomoda naquele pássaro azul e naquelas letras meio de lado.
Livro, de José Luis Peixoto
O carinho de bebê na capa da edição portuguesa revela o ponto de partida do romance, nada que comprometa as surpresas que você vai encontrar no romance. Só que a capa brasileira com letras formando os desenhos dos azulejos portugueses é bem mais interessante - tem até textura por conta do relevo da impressão. Além disso, traduz bem a forma da segunda parte do livro. É bem metonímico o negócio. Nossa diferença cultural me leva a pensar será que em Portugal essa capa faria sentido?As duas capas são bonitas. Trabalham com a ideia de família. De qualquer forma, prefiro a capa brasileira: é mais clara e as sombras na parede mantém o segredo sobre a fisionomia das personagens.
A nossa capa guarda algo de estático, nostálgico, triste. Sensação que as personagens do livro devem experimentar na pele, pois é sobre uma viagem de volta que trata o enredo. A capa portuguesa tem movimento, trânsito e mudança que ganham ares de tristeza graças aos guarda-chuvas abertos. Por mais colorido que sejam não deixa de ser triste.
A capa brasileira não revela nada. Parece que é uma foto de Reinaldo Moraes lendo alguma coisa. Serve para destacar o nome do livro em grandes letras vermelhas em cadência divertida. Em contrapartida a capa portuguesa leva a melhor com a brincadeira visual das formas femininas. Pode parecer clichê usar a "natureza" para retratar coisas mais picantes, mas considerando o enredo a imagem tem tudo a ver. Ponto para eles!
Se eu fechar os olhos agora, de Edney Silvestre
A nossa edição é mais bonita. A "limpeza" de informações valoriza a foto no alto. ficou elegante. Já a capa portuguesa vai bem quando recupera elementos do enredo e vai mal quando coloca o título grande em vermelho. Parece que pesou um pouco, embora lembre o jogo de fechar os olhos alertando para abri-los. Será isso?*Imagens: divulgação e reprodução.
Liberdade, de Jonathan Franzen. A capa de Portugal me lembra apostila de 2° grau da escola.
ResponderExcluirJoão Viana
http://www.themillions.com/2012/02/judging-books-by-their-covers-u-s-vs-u-k-3.html
ResponderExcluirBah, curti pacas as comparações lá no The Millions, valeu pela dica. É interessante como a questão d'A mulher do tigre é muito parecida na comparação que há aqui e lá no site deles (a brasileira é tipo a britânica).
Sou muito mais as capas brasileiras. Tipo, quase SEMPRE. As portuguesas muitas vezes parecem bobas, apenas.
Os imperfeccionistas e Livro já estão na minha lista de "Quero ler". a máquina de fazer espanhóis só subiu no meu conceito depois que você apontou a questão do "abstratos (querendo ser figurativos)": eu simplesmente não havia reparado (talvez por só ter visto a capa pequenininha nos sites e tal). Liberdade: sem comparação (fora que tem um momento, lá pela página 550, 560 do livro, em que você vê uma parágrafo que pode ser usado para resumir capa e livro -- ainda que meio abstrata e sensorialmente no caso do segundo). Se eu fechar os olhos agora, a capa portuguesa quase ficou excelente: mas, mesmo com aquela tipografia, eu achei melhor que a brasileira.
Abraço!
Interessante...
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