quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

COMO ESCREVER UMA RESENHA RUIM

Em tempos de malhar a crítica literária, nada melhor do que criar um prêmio para a resenha literária "mais raivosa, engraçada ou mordaz dos últimos tempos" publicada em jornais ou revistas. Assim nasceu o "Hatchet Job of the Year" (ou "Serviço de Machadinha do Ano", como traduziu Sérgio Rodrigues no Todoprosa). O prêmio organizado pelo site inglês Omnivore Criticism Digested está na sua primeira edição e foi entregue em 7 de fevereiro. O ganhador foi Adam Mars-Jones pela resenha de Ao anoitecer, de Michael Cunningham. Segundo os organizadores, o objetivo do prêmio "é levantar o perfil dos críticos profissionais e promover a integridade e inteligência no jornalismo literário".

Este artigo, publicado originalmente no blog da Melville House (9/2/2012), trata dos problemas envolvendo uma resenha crítica.


"Eu tive sorte que todas as críticas ruins que eu tive foram escritas por idiotas." - Geoff Dyer sobre críticas negativas

Por Nathan Ihara
Tradução de Rafael R.


Geoff Dyer, um indicado ao primeiro prêmio "Hatchet Job of the Year" por sua resenha negativa para The Sense of na Ending, de Julian Barnes (Adam Mars-Jones ganhou o prêmio no dia 7 de fevereiro pela resenha de Ao anoitecer, de Michael Cunningham, como consta no site do prêmio), foi entrevistado na semana retrasada pelo jornal inglês The Guardian e disse algumas coisas tipicamente engraçadas e inteligentes sobre a natureza da crítica. Ele adverte contra o fascínio (talvez agravado por este prêmio) por escrever "frases espirituosas e condenáveis", à custa de "precisão de... julgamento".

Ele chama de "ingenuidade" pensar que os críticos não vão escrever sobre seus amigos ou inimigos . E ele traz à tona uma das minhas queixas de estimação pessoais sobre resenhas de livros: "Um dos problemas com resenhar é que os jornais estão obcecados com que suas resenhas apareçam primeiro – estar atualizado ao invés de ter tempo para formar uma visão mais considerável".

Como publicista, acho frustrante que editores de livros não queiram ou não possam atribuir resenhas de livros apenas alguns meses (ou semanas) após a janela de "oportunidade".

Dyer também critica um dos tipos mais comuns de resenhas negativas (uma resenha ruim de uma resenha ruim!):
Eu detesto quando um resenhista resume o enredo e adiciona algumas coisas no final sobre o estilo. Você está enfatizando a qualidade da escrita, mas de alguma maneira você correndo o risco de negligenciar a qualidade do julgamento.
O que me faz pensar num outro dos meus aborrecimentos críticos: que os resenhistas muitas vezes não conseguem apresentar claramente os seus próprios critérios estéticos antes de lançar ataques ou elogios. No exemplo acima, Dyer descreve o crítico comum que assume que algumas frases mal escritas significam um livro ruim. Dyer implica um critério crítico diferente: ele não está muito preocupado com a qualidade de escrita – há problemas maiores a serem considerados. Muitos argumentos aparentes sobre a qualidade de um livro ("Uma idéia brilhante!" versus "Horrivelmente escrito!") não estão realmente em desacordo sobre o livro. Pelo contrário, estas resenhas apenas expressam por baixo, mas frequentemente desarticulados, os conflitos sobre critérios para a “boa” arte.

Não seria mais fácil se os resenhistas fossem mais francos sobre o que eles querem? Por que, eu me pergunto, será que devemos ser forçados a inferir um sistema fundamental de avaliação dos resenhistas? (Respondendo minha própria pergunta: eu suspeito que muitos críticos não analisaram devidamente sua própria doutrina subjacente). Me parece evidente que qualquer crítico profissional deve ter por aí em algum lugar na web uma declaração formal de seus critérios literários. Essa lista não precisa (não deve) ser abrangente, mas pode fornecer uma base para a compreensão de como responder a um dado escrito por um crítico. Sem esses critérios, ler resenhas de livros parece um pouco como ser testemunha de uma condenação sem qualquer pista sobre a natureza da lei.

Algumas das melhores resenhas (a-hã, meus critérios) estão menos interessados em avaliar um livro do que descobrir ou revelar um critério útil. Por exemplo, no “Hatchet Job” de Marte-Jones para Ao anoitecer, de Cunningham, ele começa com a declaração: "Nada faz um romance parece mais vulnerável, mais nu, do que uma blindagem de referências literárias". Agora sabemos que um critério pelo qual Mars-Jones mede ficção. Ele teve a decência de ser dogmático. Bem longe dos padrões, ele está definindo sua regra: a referencialidade, particularmente se procura fazer um texto parecer mais significativo e poderoso, tem o efeito inverso de fazer um livro (ou escritor) parecer inseguro. Sem levar em conta se você concorda ou discorda desta afirmação, agora você pode ler o resto da resenha sabendo o que o resenhista destaca e acredita – o que lhe permite avaliar a forma como ele avalia.

Nathan Ihara é publicista da Melville House. Anteriormente, ela trabalhou como crítica literária do LA Weekly. O artigo foi reproduzido com permissão da editora.

*Imagem: Adam Mars-Jones recebendo o prêmio / reprodução hatchetjoboftheyear.com
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Um comentário:

  1. http://www.youtube.com/watch?v=XjM-zllpHuA

    O video foi compartilhado pela Diana Passy no Facebook. ^^

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