segunda-feira, 20 de agosto de 2012

LITERATURA EM NOVAS FORMAS DE DISTRIBUIÇÃO


"Para a literatura prosperar na era digital ela precisa abraçar algo da sensibilidade da cultura pop e adotar novas formas de distribuição coerentes com a maneira como as pessoas consumem conteúdo."

A frase acima tem qualquer coisa de futurista e visionária. Parece que foi dita por um daqueles gurus da tecnologia que escrevem laudas na revista Wired. Na verdade, foi dita pelo jovem Scott Lindenbaum, um dos fundadores da Electric Literature, numa pequena conversa que tive com ele em junho do ano passado. Voltei a pensar nessa conversa por causa de "Caixa preta", o conto de Jennifer Egan que será postado a partir de hoje no twitter da editora Intrínseca com tradução de Juliana Romeiro.

(Falei dessa experiência envolvendo a autora num outro texto)

Não sei se a Jennifer conhece o Scott, provavelmente conhece porque a revista dele faz bastante sucesso nos Estados Unidos. Seja como for, ela captou o espírito desses tempos e lançou mão do twitter para publicar uma história de ficção (estimativas recentes apontam que o twitter é uma rede social com 100 milhões de usuários no mundo todo, ou seja, muita gente consome conteúdo por esse meio). Além disso, ao invés de simplesmente distribuir, ela experimenta outras maneiras de criar ficção por essa "ferramenta" usando narrativa em forma de notas, transportando uma personagem para um gênero narrativo diferente, publicando a história de maneira serializada etc. O conto foi publicado pela primeira vez no twitter da New Yorker e ganhou uma versão integral na edição impressa e no site da própria revista.

Egan usou um caderno japonês que tinha oito retângulos em cada página para escrever o conto. Curiosamente, antes mesmo de existir o twitter e o iPhone, os japoneses popularizaram uma forma de ficção que naquele tempo ficou conhecida como “romances de celular” (keitai shosetsu, em japonês) - uma espécie de pré-história da ficção nos meios eletrônicos. As histórias eram curtas e os leitores ainda podiam interagir, para termos uma ideia de qual avançado era o negócio. O sucesso foi tão grande que esses romances ganharam até versão impressa com vendas astronômicas.

Não sei dizer se a moda continua ou ganhou novos formatos. Afinal, os celulares de hoje tem telas maiores, cores e muitos aplicativos com uma infinidade de recursos. As pessoas também gastam muito mais tempo conferindo os aparelhos em busca de novas mensagens, fotos, check-ins etc. Aposto que todo mundo conhece um fulano que fica mexendo no celular durante a primeira meia hora do happy hour. Dessa forma, Egan tem de concorrer desonestamente com todo o resto. Só que não seria de todo mal acompanhar uma história escrita por ela enquanto a gente aguarda naquela fila sem fim para ver a exposição dos pintores impressionistas, no CCBB-SP.

O caderno Ilustríssima adiantou um trecho da tradução. Parece óbvio para alguns, mas os tuítes traduzidos conseguem ficar dentro dos 140 caracteres (dizem que ao traduzir um texto para o português ele aumenta em torno de 20% - alguém confirma a informação?).

Serviço: "Caixa preta" será transmitido diariamente pelo twitter da editora Intrínseca entre os dias 20 e 30 de agosto, das 22h às 23h, e comercializado em e-book a partir de 31 de agosto.

*P.S.: Sérgio Rodrigues teceu comentários super elogiosos sobre o conto. Tem tudo para ser uma experiência bacana - uma pena que esteja concorrendo com o horário da novela.

*P.S.: A bela capa de "Caixa preta" (reproduzida aqui em cima) ficou a cargo de Rafael Coutinho. Uma pena que a gente não vai vê-la em papel impresso - salvo se a gente imprimir na nossa casa.

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