Muito em breve, na cidade de São Paulo, setembro ficará conhecido como "mês da cultura independente" - do mesmo jeito que agosto é conhecido popularmente como "mês do cachorro louco" (dizem que em Portugal, as mulheres supersticiosas evitam se casar nesse mês; e na Argentina, lavar a cabeça nessa época do ano pode atrair a morte). A explicação é simples: há seis anos a Secretaria Municipal de Cultura promove nesse mês eventos gratuitos ou com preços simbólicos voltados a produção cultural independente. A iniciativa não fica restrita apenas aos artistas brasileiros e também abre espaço para a turma internacional.
Além de artes visuais, cinema e música, o evento conta com uma programação literária e realiza uma série de saraus e oficinas tendo destaque para o I Encontro de Literatura Divergente, na Biblioteca Alceu Amoroso Lima. Se minha apuração não tiver falhas, o termo "literatura divergente" foi criado pelo Nelson Maca, poeta e professor da Universidade Católica de Salvador, para dar conta da produção literária que acontece a margem dos "ambientes acadêmicos ou oficiais": "literatura negra, maldita, periférica, marginal, letra de música, rap..." O próprio Nelson vai explicar tudo isso e outras coisas mais na mesa de abertura - ele também vai participar como mediador de outros debates.
O encontro dura quatro dias e vai reunir ativistas, estudiosos da academia, pesquisadores, consumidores e admiradores dessas vertentes literárias para discutir conceitos, definições, dar maior visibilidade aos autores e a maneira como todos esses textos circulam. Vai ter participação de Heloísa Buarque de Holanda (que faz coisas pela literatura brasileira desde muito tempo; Impressões de viagem – CPC, vanguarda e desbunde virou um clássico dos nossos estudos literários), Glauco Matoso, Marcelino Freire e muitos representantes dos grupos que organizaram editoras independentes e vários saraus pelo Brasil a fora.
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O movimento de olhar para a literatura feita nas periferias estão em alta. Veja, por exemplo, a FLUPP - Festa Literária das UPPs - que levou escritores brasileiros e estrangeiros para as comunidades periféricas do Rio de Janeiro com o objetivo de formar leitores e escritores. Em novembro, os organizadores da Festa vão lançar um livro com textos de 30 participantes desses encontros (sendo 15 policiais e 15 moradores das comunidades).
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Enquanto estava escrevendo percebi que esse texto está um pouco investido de raiva contra a academia e os órgãos que legitimam e autorizam o cânone cultural. O sentimento não é novo. Faz tempo que o discurso pró-academia (ou crítica cultural) anda fora de moda e para entender um pouco do cenário me ocorreu recomendar um texto do Sérgio Rodrigues, no blog Todoprosa.
*Imagem: Lajes da periferia, de Thaís Ibañez /reprodução
sexta-feira, 31 de agosto de 2012
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Olá,
ResponderExcluirOs estudos da chamada "literatura independente" estão cada vez mais divulgados e me chamam bastante minha atenção. Tomara que neste evento esteja o João Cesar de Castro Rocha e suas observações sobre a "dialética da malandragem" contra a "dialética da marginalidade", muito interessante.
A FLUPP foi uma iniciativa maravilhosa, bem surpreendente - torço para que haja outras edições.
Abraços,
Miguel
Casamentos em Portugal em Setembro é o que há mais. Sou portuguesa e nunca ouvi tal coisa. :/ Provavelmente são crendices antigas, como aquela que diz que mulher menstruada não pode tomar banho. Conhece alguma que não tome? kkkk
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