Muita gente já conhece as características da literatura feita por David Foster Wallace - pelo prazer ou pela dor, tem quem ama e quem odeia. Portanto, não vou ficar chovendo no molhado dizendo que a obra dele é cheia de ironia, metalinguagem, discurso indireto livre, jargões, palavras inventadas, longas sentenças e notas de rodapé gigantes. Chega de tudo isso, vamos falar de coisa boa: fofocas, claro!
Na semana passada chegou às livrarias norte-americanas a primeira biografia do escritor Every Love Story Is a Ghost Story, de D.T. Max. Wallace sofria de depressão profunda, teve muitos períodos de internações em clínicas, lutou contra a dependência do álcool e da maconha e cometeu suicídio em 2008. A biografia é oficial. D.T. Max contou com a colaboração da família e dos amigos próximos a Foster Wallace, além de ter tido acesso às cartas, manuscritos etc., que o escritor deixou guardada em seu arquivo.
Evidentemente, ainda não li a biografia, mas a revista Rolling Stone (gringa) leu e adiantou "seis coisas que a gente não sabia sobre David Foster Wallace". Por exemplo, ele não era tão bom jogando tênis, votou em Ronald Regan para presidente (mas odiava George W. Bush), tinha problemas paranóicos com higiene (suava muito e carregava uma escova de dentes na meia, para emergências) e planejou matar o marido da escritora Mary Karr (com quem teve um relacionamento bastante conturbado).
Parece que a maior curiosidade da biografia está nas possíveis ligações que podem ser feitas entre a vida de Wallace e o enredo dos livros Liberdade, de Jonathan Franzen e A trama do casamento, de Jeffrey Eugenides. Em tempos de autoficção exagerada também acho chato quando alguém pergunta "o que a personagem tem em comum com você?" ou "o livro é sobre você?". Só que a gente pode perdoar essa situação no caso desses três escritores sobretudo quando vemos muitas semelhanças entre Leonard Bankhead, Richard Katz (personagens) e Foster Wallace (o real) - a bandana na cabeça, o hábito de mascar fumo e a sagacidade intelectual. Eles eram muito amigos, amadureceram suas obras quase ao mesmo tempo e faziam parte de um grupo de escritores pertencentes a uma geração. Viveram muita coisa juntos, portanto é natural que tenham histórias para contar sobretudo depois da morte trágica de Wallace.
Quando perguntam da semelhança "realidade x ficção", Eugenides sempre nega dizendo que estava pensando na banda Gun's in Roses. Não lembro de alguma resposta de Franzen, mas ele era muito amigo de Wallace e as disputadas entre Walter e Richard tem qualquer coisa da vida real que são impossíveis de negar - como na frase meu objetivo era "colocar meu pênis na vagina quanto possível" (a frase está tanto em Liberdade quanto na biografia).
Verdade ou mentira, esse tipo de coisa não estraga a qualidade dos livros. Pelo contrário, acabam servindo como um elemento de atração. Afinal, todo mundo sempre vai querer comprovar sua fantástica teoria. Vai ver aconteceu de contarem essas coisas sem querer.
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Em tempo, a Companhia das Letras lança em outubro Ficando longe do fato de já estar meio que longe de tudo, a coletânea de não-ficção de David Foster Wallace com organização e tradução da dupla de escritores Daniel Galera e Daniel Pellizzari.
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Já Caetano Galindo (que acabou de ler essa biografia do Foster Wallace) está trabalhando na tradução de Infinite Jest. Segundo ele escreveu no twitter o trabalho já está em 250 laudas - ainda é pouco perto das mais de 1000 páginas do livro, mas animador para os fãs do escritor.
A tradução portuguesa saí em novembro com o título de A piada infinita. Tido como um lançamento importante, a editora Quetzal criou um blog reunindo notícias de jornal e outros mimos.
*Imagem: reprodução.
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