terça-feira, 27 de dezembro de 2011

A LITERATURA E O VIDEOGAME

De uns tempos para cá, uma da obsessão dos "nerds" do Vale do Silício é criar um game que tenha tanta complexidade narrativa quanto Moby Dick, de Herman Melville. Quem confirma o fato é o jornalista Harold Goldberg. O caderno Link (do Estadão) publicou um artigo interessantíssimo assinado por ele comentando as ideias por trás de seu livro All Your Base Are Belong to Us: How Fifty Years of Videogames Conquered Pop Culture (importado - ainda sem previsão de lançamento em português).

No tal artigo, Goldberg menciona a ascensão dos desenvolvedores de jogos nas últimas décadas a verdadeiros "mestres do ritmo, do clima e dos diálogos de uma narrativa". A ponto de fazerem os jogares sentirem um nó na garganta, por exemplo. A certa altura ele diz "a história de um jogo pode ser tão envolvente quanto a trama de um best-seller da literatura".

Não restam dúvidas quanto a capacidade dos games de criarem universos tão imersivos quanto os romances. Sobretudo se pensarmos em jogos tão populares quanto LA Noire ou a série God of War. Mas será mesmo que grandes obras da literatura podem render grandes jogos? Por enquanto a resposta é não. Como tudo na vida, a literatura e os jogos de videogame são "narrativas" com uma linguagem própria e específica. A experiência de ler algumas palavras nas páginas de um romance é bem diferente de acionar o avatar de um jogo a fim de vencer um obstáculo. Da mesma forma que as ações dos avatares não fazem muito sentido quando transportadas para os livros. Sendo assim, melhor encararmos um jogo como um jogo e um romance como um romance - ainda que entre os dois universos tenham retirado suas inspirações uns dos outros.

Foi partindo dessas ideias que pensei no tema videogame para a terceira edição do fanzine. É saudável que a literatura deixe de lado aquele ambiente sacro em que muitos gostam de trancafiá-la para se aproximar de um tema pop - para não dizer, um tema do cotidiano das pessoas. Ao longo do ano vários "joguinhos" inspirados no universo literatura foram aparecendo. Talvez o mais famoso tenha sido a adaptação de O grande Gatsby, de F. Scott Fitzgerald para a versão 8 bits em estética Nintendo. Ambos estão presentes no fanzine por meio de um trecho da nova tradução feita por Vanessa Bárbara (saiu pela Penguin-Companhia); e de uma entrevista com os dois desenvolvedores do jogo. Vale dizer que não foi a primeira vez que o romance de Fitzgerald foi adaptado para os games, a Big Fish Games também fez uma tentativa meio frustrada.

Outros destaques do fanzine são: o artigo de escrito especialmente por G. Christopher Williams relacionando o universo do Cormac McCarthy com os videogames; e o texto de Antônio Xerxenesky imaginando dez romances como se fossem videogames. Não podia faltar também uma recomendação de três livros que viraram jogos - os jogadores podem opinar se a adaptação foi boa ou ruim.

A cereja do bolo está nas ilustrações em estilo 8 bits feitas para a edição com exclusividade pelo designer Grafilu. Para fazer o download do fanzine Casmurros #3 basta clicar nesse link.

*Imagem: reprodução da tela inicial do jogo The great Gatbsy.
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