quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

O PROBLEMA DAS GERAÇÕES

Tem leitor que vive reclamando da vida e lamentando a falta de aparição de novos escritores. Não adianta, essa busca incessante pela novidade é uma marca do nosso tempo ou pelo menos desde o tempo em que a "modernidade" bateu à nossa porta. Que atire a primeira pedra aquele leitor inveterado que nunca sonhou em pegar a novidade pelo rabo, bem no momento em que ela está nascendo.

Na última década dois livros organizados por Nelson de Oliveira tentaram dar conta do panorama de novos escritores de 1990 até o começo dos anos 2000 – chamada "Geração 90" Manuscritos de computador e Os transgressores. Para o ano que vem ele está preparando um novo livro da série que vai dar conta da produção de 2001 em diante. Vai se chamar Geração Zero Zero e será publicado pela editora Língua Geral.

A Ilustrada trouxe uma reportagem bem interessante sobre o novo livro "Antologia 'Geração Zero Zero' embaralha conceitos". Antes mesmo de ser lançada a nova antologia já está causando polêmica, como aconteceu com as outras duas. O maior problema é o critério de seleção, a criação do rótulo e o que isso inspira nas pessoas.

Enquanto nos dois primeiros livros o critério era estético, para o novo livro o critério é "ter aparecido na última década e ter pelo menos dois livros já publicados". Pela pesquisa do organizador havia 150 escritores aptos a aparecerem na antologia, mas apenas 21 deles foram selecionados depois de conversas, ajustes, acertos, etc.

A lista conta com nomes: Ana Paula Maia, Andrea del Fuego, Carlos Henrique Schroeder, Carola Saavedra, Daniel Galera, Flavio Viegas Amoreira, João Filho, José Rezende Jr., Lima Trindade, Lourenço Mutarelli, Marcelo Benvenutti, Maria Alzira Brum Lemos, Marne Lucio Guedes, Paulo Sandrini, Paulo Scott, Santiago Nazarian, Sidney Rocha, Tony Monti, Verônica Stigger, Whalter Moreira Santos e Whisner Fraga.

Como a gente sabe, por um lado as listas são arbitrárias, perigosas e limitadoras - já falei aqui sobre o assunto. Por outro lado, as listas servem como uma referência para os leitores que estão em busca de informações. Além disso, as listas colocam em circulação o nome de escritores que nem sempre tem chance a uma projeção maior nos grandes veículos de imprensa.

A limitação dessa antologia está no rótulo que seguirá colado a esses autores. Como dizem os críticos, o gesto acaba soando como puro marketing vazio de sentido. Como bem disse Paulo Werneck num outro artigo: "uma antologia deve identificar movimentos, vetores, sensibilidades compartilhadas por um grupo. É preciso um ensaio de peso, uma revista, um manifesto que justifiquem o batismo de uma nova geração literária".

Sem tanto alarde, Karl Erik Schøllhammer publicou em 2010 um livro chamado Ficção brasileira contemporânea - saiu pela editora Record. Ele explica que o livro é resultado de uma “tentativa [de] flagrar o que acontece de significativo na ficção brasileira atual, de maneira a enxergar as continuidades e, principalmente, as rupturas produzidas pelos escritores contemporâneos”. O resultado obtido soa teoricamente mais embasado e com maior estofo crítico. É um contraponto.

*imagem: reprodução.


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