terça-feira, 29 de abril de 2014

POLA OLOIXARAC ADERE AO #NAOVAITERCOPA


O título desse texto soa como uma manchete do The piauí Herald, mas não, eu explico. Duas semanas atrás, a escritora argentina Pola Oloixarac esteve no Brasil para participar do seminário "Brasil, América Latina e África: novas realidades, novos escritores" na II Bienal do Livro e da Leitura, em Brasília. 

Sua passagem foi mais tranquila e não teve tanta repercussão quanto na FLIP, em 2011. Para quem não lembra, naquela edição, Pola era muito esperada pela plateia (por várias razões: ela é uma das revelações da literatura argentina recente; seu romance As teorias selvagens é bastante engenhoso e cheio de humor; foi eleita musa da edição etc.), mas acabou "ofuscada" pelo escritor português Valter Hugo Mãe que tomou de assalto o posto de "muso".

Voltando a 2014, Pola ouviu durante a Bienal a insatisfação de muitos brasileiros na figura do escritor João Paulo Cuenca (seu companheiro de mesa no seminário), saiu dali com muitas ideias na cabeça e escreveu um artigo de opinião sobre a realização da Copa do Mundo no Brasil que foi publicado no suplemento do New York Times - no International Weekly e traduzido no encarte da Folha de SP. Nele, ela arrola direitinho todos os argumentos do movimento #NaoVaiTerCopa adotando um tom bem menos inflamado do que o dinamarquês Mikkel Keldorf Jensen. Ela cita os protestos contra a corrupção, a indignação dos brasileiros com o desperdício de dinheiro público, o caso do metrô de São Paulo, a "nova classe C" reivindicando saúde e educação, a eleição que o PT vai enfrentar em outubro, os 50 anos do Golpe Militar, o caso das UPPs, a Mídia Ninja, a forte repressão policial as liberdades individuais e a criminalização dos protestos (como também acontece na Argentina e Venezuela).

Curiosamente, o artigo parece depois de Pola declarar que seu próximo romance, ainda sem nome ou data prevista para publicação, terá algumas cidades brasileiras como cenário e trará uma raça superior de jogadores de futebol fruto do cruzamento sexual entre brasileiros e argentinos. Ironia ou não, resta saber se Pola vai mudar o enredo depois de encarar a Copa do Mundo e o País do Futebol com outros olhos.

No mais, só o tempo dirá se o fósforo que Pola riscou servira para incendiar o coro dos descontentes. Nessa altura do campeonato dificilmente alguma coisa não vai mudar o rumo da Copa, afinal, como disse o Demétrio Magnoli, "#VaiTerCopa - infelizmente".

*Foto: @LuizMotta/Reprodução Twitter


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