Um crítico disse certa vez que Dino Buzzati foi um escritor sui generis na literatura italiana. Basta ler qualquer um de seus contos ou romances para perceber algo bem diferente que circula entre o absurdo, o existencialismo e o surreal - seus temas favoritos. Acho Deserto dos Tártaros e As noites difíceis, duas obras primas.
Além de escritor, Buzzati era jornalista e também artista plástico. Ele gostava de mexer com esses três campos e se ressentia pelo fato de ser reconhecido somente como um autor de ficção. Mas devo confessar que fiquei bastante impressionado com o livro Poema em quadrinhos - que está saindo pela Cosac Naify. Não sei como foi na época do lançamento (1969), deve ter feito as pessoas olharem para sua obra com outros olhos.
Não se trata de uma história em quadrinhos propriamente, como estamos acostumados. Parece que Dino Buzzati resolveu experimentar essa linguagem e levá-la ao seu limite. Os desenhos têm cores e formas chocantes, reduzidas ao essencial da narrativa. O texto mistura a forma da prosa e da poesia, as frases parecem soltas e as palavras livres. Além de tudo isso, o livro emula pintura e faz muita referência ao cinema italiano dos anos 60/70 - Pasolini, Antonioni e Fellini. Vale lembrar que nessa época as teorias linguísticas estavam em plena ebulição na Europa e podem ter servido de estofo para as ideias de Buzzati.
A história é uma nova interpretação do mito de Orfeu, personagem da mitologia grega. Nessa versão, Orfeu é Orfi, um cantor pop; e Eurídice é Eura, a musa que morre jovem. O desfecho é bastante diferente, reatualiza o mito.
A revista Piauí publicou um trecho do livro na edição desse mês.
*imagem: divulgação.
sexta-feira, 26 de novembro de 2010
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