Se você acompanha esse blog desde o começa deve saber que todos os anos faço uma brincadeira comparando as capas dos mesmos livros em edições portuguesas e brasileiras. Virou tradição. Por isso, vamos aos costumes.
Lembrando que não sou especialista no assunto e estou comentando descompromissadamente. Cada país tem a sua próprio cultura visual e cada consumidor tem uma preferência na hora de escolher um livro pela capa. As observações servem como um exercício especulativo sobre o trabalho do capista (ou da editora) na hora de dar uma "cara" para o livro.
A caixa de comentários está aberta para quem quiser participar - por favor, fiquem à vontade. As capas das edições brasileiras estão do lado esquerdo.
Vida querida, de Alice Munro
Começamos com uma ganhadora do Prêmio Nobel de Literatura (não tem quem não se espante ao perceber, ainda hoje, que a Academia Sueca resolveu premiar uma escritora de... contos) que merece todas as pompas e honrarias. Uma pena que os portugueses não deram o tratamento necessário. Tá certo que essas folhas vermelhas 'simbolizam' a experiência acumulada ao longo dos anos da vida, mas o resultado ficou muito simplistas e acho que passaria despercebido pelas vitrines. Em contrapartida, as moças praticando saltos ornamentais da capa brasileira apontam para o risco, audácia e ousadia. Fora a cor deliciosa para os olhos. Ponto pra gente!
O sermão sobre a queda de Roma, de Jérôme Ferrari
Eu entendo a boa intenção dos portugueses ao colocar essa foto da família em escadinha - tem um pouco a ver com o enredo do livro e com a ideia de declínio. Já a capa brasileira, por mais que tenha optado por dar um corte fechado no dorso da estátua, sintetiza tudo o que precisa dizer de maneira clara e objetiva. Desculpem, mas esse ponto é nosso outra vez.
Diário da queda, de Michel Laub
Muito bem, a capa brasileira é muito bonita e forte (sem mencionar esse tom cinza que é o tom que o narrador imprime em seu relato). No entanto, não há como não se render aos encantos desse boneco segurando com força na barra para não cair. Ponto para os portugueses.
A arte do jogo, de Chad Harbach
Os portugueses optaram por essa mistura de cores que conduzem o nosso olhar para a bola de beisebol. Ficou divertido e deu movimento. Já a capa brasileira preferiu não arriscar e optou por seguir o mesmo visual da edição norte-americana. Pela ousadia, acho que os portugueses merecem levar esse ponto.
É assim que você a perde, de Junot Díaz
Eis uma escolha bem difícil, pois a fotografia da capa portuguesa emoldurada pelo branco tem apelos poéticos que hipnotizam. A edição brasileira também não deixa por menos usando essa letra orgânica, de cor vermelha (tipo sangue) e com ares muito atuais (lembram grafites, lambe-lambes etc). Acho que deu empate técnico.
Mudanças, de Mo Yan
Outro Prêmio Nobel de Literatura. Seria injusto dizer que a capa da edição portuguesa não tem o seu valor. Ela é minimalista na medida certa - não comete exageros e nem peca pelo excesso. Só que a capa da edição brasileira parece mais requintada (tal qual um Prêmio Nobel merece) e a editora cuidou com muito capricho do visual do livro como um todo. Ponto pra gente.
Barba ensopada de sangue, de Daniel Galera
O nadador sem nome e portador de uma doença rara que o faz esquecer da fisionomia das pessoa ganhou um rosto (ainda que escondido em penumbra) na edição portuguesa. Inclusive, ele tem até um biotipo bem jovem e europeu - na minha leitura imaginava alguém com rosto e corpo mais velho, não sei dizer ao certo o motivo. Não deixa de ser uma foto bonita que deve funcionar muito bem para os leitores de lá. Aqui, a capa teve três cores diferentes, a letra orgânica, um "desenho" que lembra uma mancha e riscos que lembram os pêlos de uma barba (ensopada de sangue, claro!). Alguém disse 'empate'?
A infância de jesus, de J.M. Coetzee
A capa da edição portuguesa não diz muita coisa porque preferiu destacar o nome do autor e usar apenas duas pequenas ilustrações (silhuetas) das personagens principais do enredo. Será que uma imagem moderna de Jesus poderia causar polêmica? Nesse aspecto, a edição brasileira foi mais audaciosa e colocou esse menino ostentando um estiloso óculos escuro e uma capa (de super-herói?). Ponto pra gente!
Obs.: as edições australiana e alemã tem a mesma capa
A chave de casa, de Tatiana Salem Levy
Não sei se o costume de deixar a chave de casa embaixo do tapete é universal. Acredito que sim - é um gesto comum de personagens em livros e filmes do mundo ocidental. A capa brasileira aposta nisso. É uma boa sacada e ficou bem visualmente. A capa portuguesa tem um apelo poético com esse azul melancólico e esse vento que balança o coqueiro a contra-luz. Acho que vale um empate.
Os transparentes, de Ondjaki
A capa brasileira só seria mais transparente se fosse feita totalmente em acrílico (sei lá como chama aquele papel). Lembra aquela brincadeira de raspar a tinta da superfície para ver o que está escrito por baixo. Achei tudo muito acertado. No entanto, a capa portuguesa é mais quente (graças ao vermelho que toma o fundo inteiro) e a ilustração que parece um prédio visto sem as paredes é incrível. Ponto para os portugueses.
O testamento de Maria, de Colm Toibin
Parece que a fim de evitar polêmicas (a personagem do livro também faz referência ao catolicismo) a editora optou apenas pelo título em fundo branco. Perdeu a oportunidade de recorrer ao vasto e rico repertório de representações de Maria nas artes plásticas. A edição brasileira seguiu por esse caminho e ganhou muito mais pontos com a imensa cruz branca que ocupa tudo de ponta a ponta. Ponto pra gente!
Festa no covil, de Juan Pablo Villalobos
A capa portuguesa tem qualquer coisa meio "tex-mex", não? Parece inspirada nos cartazes do velho oeste norte-americano. A capa brasileira é muito mais interessante porque parece mais tipicamente mexicana (para não dizer, mais autêntica). Ponto pra gente.
*Imagens: divulgação e reprodução.
sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014
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A edição portuguesa do "Diário da Queda" está, realmente, prodigiosa. As Edições Tinta da China a fazerem a sua magia! :)
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