segunda-feira, 19 de maio de 2014

TRÊS PERGUNTAS PARA CARLOS HENRIQUE SCHROEDER


Começa hoje a vai até domingo a 4ª edição do Festival Nacional do Conto, no Teatro do SESC Prainha, em Florianópolis. Será uma oportunidade única de ouvir diferentes gerações de escritores brasileiros falando sobre a arte de uma forma breve. O autor homenageado será Sérgio Sant'Anna. A programação também terá Altair Martins, Daniel Pellizari, André Sant’Anna, Fernando Bonassi, Márcia Denser, Noemi Jaffe, Cíntia Moscovitch, Luísa Geisler e outros mais. Aproveitando a oportunidade, fiz três perguntas para o idealizador do festival, Carlos Henrique Schroeder.




1) Como surgiu a ideia de criar um festival dedicado exclusivamente ao gênero conto?

Há festivais de narrativas breves na Europa, na Ásia, na América do Norte, mas a América Latina, de contistas como Pablo Palacio, Borges, Cortázar, Dalton Trevisan e muitos outros, não tinha nenhum. Como estudo há muitos anos essas formas breves e sou um contista da gema, me pareceu um caminho natural tentar articular algo além da própria escrita: um festival que pudesse abrigar os contistas, dar voz para eles e às suas obras. Já estamos na quarta edição e crescendo a cada ano, em breve partimos para a internacionalização, para trazer os latinoamericanos também.

2) Você acredita que o conto vai se tornar cada vez mais importante no mundo de hoje, onde as pessoas não têm muito tempo ou paciência para dedicar muito tempo aos livros longos?

Acho que esse é um mito, a questão do tempo e do tamanho da leitura.  As pessoas querem boas histórias, independente do tamanho. O conto vai muito bem, obrigado, na América do Norte, por exemplo, onde os contistas têm espaço na mídia e nas grandes editoras, mas muito mal no Brasil, onde o trio grandes editoras, jornais e eventos literários vão pasteurizando tudo, e tentando criar uma tradição romanesca na marra, tentando achar o “grande-jovem-romancista-brasileiro” e blá-blá-blá... Gente, eu vou citar quatro nomes: Rubem Fonseca, Sérgio Sant’Anna, Luiz Vilela e Dalton Trevisan. Todos contistas da gema, todos vivos e produzindo, então pensem na potência do conto brasileiro.

3) No ano passado, a escritora canadense Alice Munro ganhou o Prêmio Nobel de Literatura. Ela é uma escritora conhecida por publicar apenas contos. Você acha que o conto está finalmente sendo reconhecido como um gênero importante e um escritor não precisa mais escrever um romance ou novela para provar o seu talento?

O conto já teve diversos períodos prósperos na história da literatura universal e da brasileira, e um escritor sabe quando tem um conto, uma novela ou um romance na mão, então acho um erro se pautar pelo mercado. Nós fazemos concessões o dia inteiro, com os amigos, com os colegas de trabalho, na vida familiar, mas fazer concessões na arte, ao mercado editorial, é um erro, um triste erro. Tenho vários amigos que pararam de escrever livros de contos, com medo da rejeição da editora ou do leitor, é o mercado dando as cartas, uma tristeza.




*Foto: reprodução do site do autor

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