Martin Luther King na "Marcha sobre Washington por Trabalho e Liberdade" após seu histórico discurso popularmente conhecido como "I Have a Dream", nos Estados Unidos, em 1963 |
Joan Baez e Bob Dylan na "Marcha sobre Washington por Trabalho e Liberdade", em 1963 |
Colocando em perspectiva histórica, O sol é para todos encarna as ebulições sociais dos anos 60 e sua publicação foi algo muito inusitado para aquele momento, mas a verdade é que Harper Lee nunca esteve diretamente envolvida com movimentos sociais de luta por direitos civis. De maneira simplista, suas intenções eram discutir temas como o racismo e a injustiça social no sul dos Estados Unidos a partir de uma história verídica que ela presenciou na cidade onde morava quando tinha 10 anos. Ou seja, ela enxergava na sociedade e nesse episódio específico sentimentos tão fortes que a levaram a questionar o motivo de tudo aquilo.
Alguns críticos gostam de apontar outros dois pontos que enfraquecem a ligação entre o livro e a luta por direitos civis: primeiro, o tema central fala sobre o racismo e não sobre os racistas; e segundo, as personagens negras não são bem desenvolvidas e ficam restritas a tipos (caricatura). Não podemos desconsiderar as limitações de pontos de vista impostas naquela época que impediam a autora de escrever um livro mais 'avançado' nos costumes.
Para além dos temas, o sucesso do livro está ligado a maneira magistral como Harper Lee conduz a narrativa usando a voz cativante da personagem Scout Finch e explora suas sutilezas psicológicas. Há também a figura integra de Atticus Finch - o pai da pequena Scout. É um romance de formação bem estruturado, com uma linguagem cheia de ironias e recheado de riqueza visual.
Pode ser que Harper Lee não tenha mudado o rumo da história, mas certamente registrou com dignidade e grandeza a busca por justiça num período muito triste que apesar de todos as conquistas ainda não foi superado. Tomara que o aniversário do discurso de Luther King traga nova luz sobre a luta por direitos civis.
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P.S.: sobre a questão racial na literatura alguém lembrou da quarta parte de O som e a fúria, de William Faulkner. Dilsey, a governanta negra da família Compson, encarna a fé e a esperança em meio a desgraça que abate a família. Arrisco dizer que este é um dos capítulos mais bonitos de toda a literatura ocidental.
Fotos: Martin Luther King - fonte difusa/reprodução; Bob Dylan e Joan Baez - sem autoria/Wikipedia; Capa/reprodução
Excelente post, além de muito pertinente. Apesar de conhecer de nome, nunca soube muito sobre O Sol é Para Todos. Concordo sobre as artes não serem - infelizmente - capazes de mudanças sociais, apesar de promoverem discussões acerca delas. Também, as artes funcionam como um reflexo de todo o cenário social, contribuindo para "o enxergar", a tomada de consciência.
ResponderExcluirAinda há um bom caminho a ser percorrido nessa luta...
Um beijo, Livro Lab