segunda-feira, 6 de maio de 2013
LIVRO POPULAR QUE NEM QUEM?
Outro dia, comentando sobre a figura do jogador Neymar como divulgador dos sucessos musicais brasileiros, coloquei no ar a seguinte pergunta: seria ele capaz de repetir a mesma façanha caso o produto fosse um livro? Em tom de brincadeira, recomendei que ele aparecesse com um exemplar de Os sertões, de Euclides da Cunha.
De fato, não temos como comparar dois campos da cultura tão distintos como a música (me refiro a música popular ou a canção popular como alguns preferem) e o livro. Enquanto o primeiro é uma experiência corporal, imediata e coletiva; o segundo demanda concentração, esforço intelectual e uma quase solidão.
A música conta com a facilidade de penetrar mais facilmente na vida das pessoas através da TV, do rádio e da internet com os downloads e compartilhamentos em redes sociais. Como produto cultural, um disco não consome muito tempo. A gente pode colocar ele para tocar e seguir com as nossas tarefas do cotidiano - o famoso fundo musical. Você pode tomar contato com uma música que nunca ouviu até quando anda na rua.
Até a chegada da internet e dos leitores digitais, o livro não contava com nenhum meio de divulgação que não fosse o jornal e a revista - impressos. A coisa mais difícil do mundo era ouvir uma propagando no rádio ou na TV. Aos poucos a coisa está mudando, mas não vejo como dispensar dessa relação de consumo a vontade do leitor. Por mais que a gente faça propaganda, ele precisa se aproximar do livro, mexer, comprar e embarcar nas redes daquela história. Do contrário não tem livro e nem leitura.
Portanto, por mais que o Neymar ajude na divulgação, não temos como saltar essa outra parte do trabalho que compete ao leitor.
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Uma boa maneira de medir esse retorno, seria ficar de olho nas dicas de leitura que estão ficando famosas nos programas de TV.
Outro dia, vi a cantora Ivete Sangalo dizendo no Esquenta!, da Regina Casé que seu livro de cabeceira é Cem anos de solidão, de Gabriel Garcia Marques. Será que as vendas desse livro aumentaram?
Aliás, o Esquenta! tem uma biblioteca recebe doações dos seus convidados. Por exemplo, a atriz Dira Paes doou Chove nos campos de Cachoeira, de Dalcídio Jurandir; o guitarrista Dado Villa Lobos doou A montanha mágica, de Thomas Mann; a atriz Lilia Cabral doou Dom Casmurro, de Machado de Assis; e o comediante Fábio Porchat doou A revolução dos bichos, de George Orwell.
Você pode consultar o acervo da biblioteca no site do programa. Lá eu descobri também que o Pe Lu (da banda Restart) doou Ensaio sobre a cegueira, de José Saramago. Será que as fãs da banda compraram ou procuraram saber mais coisas sobre livro?
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A apresentadora Ana Maria Braga também abriu um espaço semanal no seu programa batizado de Cantinho da Leitura. Na semana passada, o ator Alexandre Nero recomendou Big Jato, de Xico Sá.
Pesquisando o assunto na internet, encontrei um blogueira fazendo campanha para que o programa da Ana Maria abraçasse a causa da leitura e fizesse um clube do livro - tal qual o popular book club organizado pela apresentadora Oprah Winfrey (ela já leu William Faulkner e recebeu pessoalmente, autores do calibre de Jonathan Franzen).
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Termino com a mesma pergunta do começo: será que essas ações em conjunto conseguem tornar o livro mais popular?
*Imagem: montagem a partir de frames do programa Esquenta!/reprodução
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Podiam ajudar a popularizar o livro campanhas desse tipo. Assim espero... Mesmo que quem doe não leia o que doa, fica no imaginário do povo que assiste, não é mesmo?
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