Segundo uma estatísticas de botequim (nada confiável): entre cem pessoas que você conhece, apenas uma realmente leu os sete volumes do romance Em busca do tempo perdido; outras três leram até dois volumes esparsos; e a grande maioria restante está dividida em grupos "está lendo", "vai ler", "nunca leu" ou "nunca vai ler". Mesmo assim, Marcel Proust tem uma verdadeira legião de fãs que vão demostrar seu amor por ele às vésperas do aniversário de cem anos da publicação de No caminho de Swann.
Na verdade, "Combray" (a primeira parte do volume No caminho de Swann) começou a ser escrita em 1909 e excertos apareceram no jornal Le Figaro entre 1912 e 1913. A primeira publicação do primeiro volume em formato de livro aconteceu somente em 14 de novembro de 1913 pela editora francesa Grasset. Os seis volumes restantes foram publicados entre 1919 e 1927, sendo os três últimos póstumos já que Proust morreu em novembro de 1922.
Dizem que a França já está tomada por uma onda de suvenires com frases do tipo "Proust t'aime" e desenhos de corações e bigodes. Podiam fazer alguma ação de marketing com aquela foto do escritor arrasando no "air guitar" - os hipsters pagariam pequenas fortunas por qualquer objeto tendo esse conteúdo.
Para além de toda a festividade mais popular, o Collège de France está organizando um seminário chamado "Proust 1913" com duração de quatro meses e participação de diversos professores destrinchando temas ligados a obra de Proust. Já a Morgan Library & Museum, em Nova York, planeja uma exposição reunindo uma série de documentos originais que pertenceram ao autor, como cadernos, manuscritos, fotos e cartas.
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Livros de ensaios, crítica e alguns textos inéditos também estão no cronograma das editoras. Três deles já sairam: Le Mensuel retrouvé reúne 11 textos desconhecidos do jovem Marcel Proust - com então 19 anos e muito longe de ser o autor de Swann - comentando as artes e a vida na sociedade francesa daquele período. Vale mais como registro histórico do que como qualidade literária. Proust contre la déchéance é um misto de ensaio e memória escrito por Joseph Czapski sobre o período em que esteve confinado num campo de concentração para prisioneiros na Rússia, durante a Segunda Guerra Mundial, e ajudou a salvar a vida de 400 oficiais poloneses através de conversas sobre a obra de Proust. Por último, saiu Sobretudo de Proust - História de uma obsessão literária, de Lorenza Foschini (no Brasil foi publicado pela Rocco com tradução de Mario Fondelli) contando uma história curiosa e veridica sobre a paixão do magnata francês Jacques Guérin pelos objetos que pertenciam a Proust. Tamanha obsessão permitiu que a memória do escritor fosse preservada e chegassem intactas (em partes) até hoje.
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No Brasil, os proustianos estão com os olhos voltados para a nova tradução que será assinada por Mario Sergio Conti e ao que tudo indica deverá ser publicada pelo selo Penguin-Companhia (da Companhia das Letras). Na nova tradução, o título do romance será A procura do tempo perdido e ainda não há previsão sobre quando o primeiro volume será publicado.
Por enquanto, dois aperitivos saborosos apareceram na revista Piaui: "A morte de Bergotte" (edição 65) e "Madalenas idas e vividas" (edição 76 - somente assinantes). O tradutor também aproveitou e destrinchou os trechos traduzidos em artigos para a mesma revista: "Proust do pêndulo ao calendário" (edição 65) e "Há uma santa com seu nome" (edição 76 - somente assinantes).
O selo Biblioteca Azul (da GloboLivros) também acabou de publicar toda a obra de Proust com novo projeto gráfico e revisão da professora Olgária Matos.
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Quem quiser saber mais sobre a personalidade de Marcel Proust deve ler o livro Uma noite no Majestic, de Richard Davenport-Hines. Nele, o historiador narra detalhes de um encontro envolvendo James Joyce, Marcel Proust, Pablo Picasso, Serge Diaghilev e Igor Stravinsky. Dizem que Joyce e Proust se detestavam e no único encontro que tiveram não conseguiram conversar. Proust aparece como um tipo muito refinado e delicado que só sabia responder "não" as perguntas de Joyce. Por fim, os dois tomam um táxi com destino a suas casas e assim tudo termina.
*Imagens: camiseta "Proust plays the ukulele" daqui / livros: divulgação.
É dose viu?
ResponderExcluirLogo agora que decidi encarar autores nacionais contemporâneos - ou pelo menos escritores contemporâneos- eu lembro que tenho esta falha na minha coluna literária.
Estou no famigerado grupo que "vai ler" Proust.
Acho que vou ter que redefinir os meus planos- e olha que estamos em 12/01/2013. rs
Eu estou no grupo que só leu os dois primeiros... Mas tenho a intenção sincera de ler tudo até o final da vida! Rs
ResponderExcluirComo diz um amigo meu: "Proust a gente sempre tá lendo - é pra vida inteira" =)
ResponderExcluirExcelente levantamento, Rafael.
ResponderExcluirDia desses estava justamente pensando na leitura contínua que foi feita de Proust ao longo do século XX aqui no Brasil: desde as traduções do Quintana, mas também livros de crítica e interpretação - Alvaro Lins, Alcântara Silveira, José Maria Cançado, Philippe Willemart, Leda Tenória da Motta, Vera de Azambuja Harvey... Claro, com oscilações de qualidade e objetivos mas, ainda assim, tem muita coisa sobre Proust escrita diretamente em português.
Abraço
Valeu, Kelvin!
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