A editora Dalkey Archive publicou no começo do ano o terceiro número da antologia anual Best European Fiction, editada pelo escritor Aleksandar Hemon. Ele foi convidado pela Dalkey Archive para editar a primeira antologia em 2009. A ideia era colocar em circulação nos Estados Unidos e na Inglaterra escritores europeus contemporâneos que dificilmente seriam traduzidos por grandes editoras - exceto os fenômenos como Roberto Bolaño (sim, ele não era europeu, mas morava na Espanha), Per Petterson, Stieg Larsson e companhia que surgem ora aqui, ora ali.
Os autores europeus podem enviar textos recentes em sua língua original. O pessoal da Dalkey Archive corre para fazer as traduções e junto com Hemon fazem a seleção dos melhores. Infelizmente não é possível incluir tudo o que enviam e nem publicar um texto de cada país (se fosse assim a antologia teria mais de mil página, tranquilamente). Também acontece de alguns paises não enviarem nenhum texto, por isso ficam de fora. O prefácio sempre tem algum escritor renomado: Zadie Smith, em 2010 e Colum McCann, em 2011. Depois de publicada não rola nenhuma discussão no Twitter, no Facebook etc.
Para o número Best European Fiction 2012 foram selecionados 31 textos de 28 países diferentes - indo de Portugal até o extremo Leste Europeu. A Espanha participa com três textos, sendo: um galego, outro catalão e outro espanhol propriamente dito. O prefácio escrito por Nicole Krauss destaca o fato dos leitores anglófanos consumirem quase 90% ou mais da literatura produzida em seus próprios países e apenas 10% ou menos da literatura estrangeira. Isso mesmo, não traduzem quase nada para o inglês.
(Não tenho a menor ideia do volume de tradução no Brasil, mas usando minha matemática de botequim posso dizer que a proporção é bem maior do que nos Estados Unidos. Ainda que não sejamos um país de muitos leitores.)
Desse número, os leitores brasileiros podem conhecer apenas a francesa Marie Darrieussecq (que teve alguns livros publicados pela Companhia das Letras e está fora de catálogo) e o português Rui Zink (que teve dois livros publicados pela Editora Planeta).
Uma pena que a antologia circule apenas em inglês.
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Evidentemente, a frase do André Barcinski tem uma provocação embutida. Algumas pessoas pelo Brasil, não necessariamente aquelas da vida real, se importam com a literatura brasileira. Além da Mercearia São Pedro (para quem não conhece é um bar em São Paulo, no bairro da Vila Madalena), tem escritores em Porto Alegre (aliás, aos montes; tanto que criaram um campeonato literário só com escritores de lá), no Rio de Janeiro (qual o bar dos escritores no RJ?), em Salvador, no Recife e em Belo Horizonte - desculpem se esqueci as outras praças. A galera dessas turmas deve ter ficado bem chateada com a provocação da frase. Tem ainda o pessoal da periferia (essas sim, pessoas da vida real que não estão nem ligando para a turma da Granta e afins) que está quilômetros distante da Mercearia e estão fazendo sua própria literatura - vide a FLUPP, Sarau da Cooperifa e muitos outros.
Putz! Esqueci de falar dos autores e leitores da chamada "literatura do entretenimento" - a maioria apareceu na antologia Geração subzero, da editora Record. Os leitores devem ter ficado bem chateados com a tal frase. Uma reportagem da revista ÉPOCA falou que a tiragem em exemplares da Thalita Rebouças chega a 1,3 milhão; André Vianco - 900 mil; Eduardo Spohr - 360 mil; e Raphael Draccon - 130 mil.
Portanto, fiquem calmos. Se um caminhão desgovernado bater na Mercearia a literatura brasileira contemporânea não vai acabar.
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Em tempo, se você quiser ler as resenhas sobre a Granta que saíram nos jornais clique aqui, aqui, aqui e aqui. Eu fico com o Nelson de Oliveira, "precisamos de mais antologias. Os norte-americanos, que entendem realmente de mercado editorial, lançam numa década dúzias de antologias."
Próximo assunto, por favor.
*Imagem: reprodução capa da antologia.
Esse André B. é a prova de que no Brasil, para ocupar um cargo relevante no jornalismo cultural, talento é extra-curricular. O blog dele arquiva uma sequência de posts desgostosos e sem fundamentos. Ele gosta mesmo de literatura, afinal? Ou está muito além do que nossos escritores podem oferecer a ele? De qualquer maneira, a Gol está com várias passagens promocionais para viagens internacionais. Comprando só a ida, então, o preço sai ainda menor.
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