segunda-feira, 25 de junho de 2012

AS PRIMEIROS LINHAS DE SERENA, DE IAN MCEWAN

"Meu nome é Serena Frome (a pronúncia é Frum) e há quase quarenta anos fui enviada numa missão secreta do Serviço de Segurança britânico. Eu não voltei em segurança. Um ano e meio depois de entrar fui despedida, depois de ter caído em desgraça e acabado com a vida do meu namorado, embora ele certamente tenha tido um pouco a ver com a sua própria queda.

Não vou perder muito tempo com a minha infância e a minha adolescência. Sou filha de um bispo anglicano e cresci com uma irmã numa catedral de uma cidadezinha linda no leste da Inglaterra. A minha casa era simpática, lustrosa, organizada, cheia de livros. Os meus pais gostavam bastantinho um do outro e me adoravam, e eu a eles. A minha irmã Lucy e eu tínhamos um ano e meio de diferença e, apesar de nós termos passado a adolescência brigando e gritando uma com a outra, isso não deixou grandes cicatrizes e nós ficamos mais próximas na vida adulta. A fé do nosso pai em Deus era uma coisa acomodada e razoável, não se metia muito na nossa vida e foi apenas o suficiente para ele conseguir subir tranquilamente na hierarquia da Igreja e nos instalar numa confortável casa do período da rainha Anne. A casa dava para um jardim cercado por muralhas de plantas que eram, e ainda são, muito bem conhecidas por quem entende de jardinagem. Então, tudo muito estável, invejável, até idílico. Nós crescemos dentro de um jardim murado, com todos os prazeres e limitações que isso implica.

A segunda metade da década de 1960 mitigou o nosso modo de vida mas não acabou com ele. Eu nunca perdi um só dia de aula na escola local a não ser que estivesse doente. No fim da minha adolescência os muros do jardim viram alguma bolinação, como as pessoas diziam na época, umas tentativas com cigarros, álcool e um pouco de erva, discos de rock, cores mais vivas e relações mais quentes de um modo geral. Com dezessete anos eu e as minhas amigas éramos tímida e encantadamente rebeldes, mas fazíamos a lição de casa, decorávamos e vomitávamos os verbos irregulares, as equações, as motivações de personagens de ficção. Nós gostávamos de nos ver como meninas travessas, mas na verdade éramos bem boazinhas. Aquilo era agradável, aquela empolgação toda que estava no ar em 1969. Era algo inseparável da expectativa de que logo chegaria a hora de sair de casa e ir estudar em outro lugar. Nada de estranho ou terrível aconteceu comigo durante os meus primeiros dezoito anos e é por isso que eu vou pular esse período."


Assim começo um dos livros mais aguardados pelo mundo todo (sem nenhum exagero) é Serena, de Ian McEwan. Como adiantei na semana passada, o romance terá lançamento mundial em primeira mão no Brasil pela Companhia das Letras e chegará às livrarias estrageiras somente no final de agosto. Os livros de McEwan lhe renderam vários prêmios importantes e aclamação da crítica mundial - sobretudo depois de Reparação, eleito um dos melhores romances da primeira década do século 21.

O livro conta a história de Serena, uma leitora compulsiva de romances cuja missão designada pelo MI5 (Serviço Secreto Britânico) é se infiltrar no círculo literário de um jovem e promissor escritor chamado Tom Haley a fim de financiar a criação de um romance.

Um trecho um pouco maior está disponível aqui.

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Em tempo, a Companhia das Letras também está lançando Amsterdam - romance que rendeu a Ian McEwan o prêmio Man Booker Prize, em 1998. A tradução foi feita por Jorio Dauster e a capa é do pessoal do Máquina Estúdio. O livro conta a história de dois amigos que estão no momento mais importante de suas vidas quando uma ex-amante de ambos morre depois de muito sofrer. Assim, um pacto sinistro será selado entre os dois.

Um trecho de Amsterdam está disponível aqui.

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Para finalizar, a Companhia das Letras preparou um aperitivo para quem vai à FLIP e deseja conhecer um pouco mais sobre os autores convidados. Trata-se de um ebook distribuído gratuitamente em formato epub com trechos de livros dos escritos que fazem parte do time da editora. Para baixá-lo basta clicar aqui.

*Imagem: divulgação.
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3 comentários:

  1. Esse trecho do Na Praia é um dos meus preferidos!

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  2. Talvez "não recomendo" seja duro demais. Mas a verdade é que "recomendo" seria uma mentira.

    Essa dificuldade é para mim um resumo do livro. Ele é morno, fica no meio termo. Não há uma grande promessa de tensão ou medo, não há uma reviravolta chocante. E mesmo o final do livro é de certa maneira previsível.

    Porém, me saiu bem como uma passatempo. Como um filme que passa de tarde e você se espreguiça no sofá esperando chegar a noite para a coisa boa, assim foi meu período com Serena, esperando o momento de comprar o próximo livro e me divertir mais.

    Se o enredo não é um dos melhores, os personagens são interessantes. Tom Haley parece muito chato a princípio mas depois se torna divertido como uma criança.
    Serena, a personagem principal, é uma delícia, gostoso de ler e refletir sobre as reclamações, medos, vontades, etc.

    É isso, se não houver nada melhor, comprem sem nenhuma ambição. Querendo algo chocante ou impactante, prefiram outro livro.

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