sexta-feira, 27 de junho de 2014

NO MEIO DO CAMINHO TINHA BORGES


É difícil não falar de futebol quando a Copa do Mundo está acontecendo no quintal da nossa casa. Para o bem ou para o mal, "#TáTendoCopa" e muita gente está contaminada pelo espírito do torneio embalado pela boa atuação das seleções, pelo clima festivo das cidades brasileiras e pelo entusiasmo da imprensa nacional e estrangeira. Agora só falta o Brasil levantar a taça para a festa ser completa.

Antes dessa data tão sonhada um temor anda a espreita: a seleção argentina. Como eu disse, não entendo profundamente de futebol, mas estou acompanhando os jogos pela TV, jornais e internet. Na minha humilde leitura, eles tiveram uma boa atuação nessa primeira fase e aos trancos e barrancos venceram as três disputas graças ao brilho de Lionel Messi. Para além dos campos, a torcida dos nossos hermanos está acompanhando o time de maneira apaixonada por onde quer que ele passe. Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Porto Alegre já sentiram um pouco dessa febre azul e branco.

Em meio a tangos, tragédias, empanadas e churrascos, parece que tanto os jogadores argentinos e quanto a sua torcida tem a plena convicção de que vão levar a taça da Copa para a casa. Tomara que não.

Para espantar o clima de festa deles, vale lembrar que Jorge Luís Borges - a estrela máxima das letras argentinas - odiava futebol. Dizia ele: "el fútbol es popular porque la estupidez es popular” (em tradução livre, "o futebol é popular porque a estupidez é popular"). Pode parecer controverso porque para os argentinos o futebol é quase uma religião, mas a história é verdadeira. Para Borges, o problema do futebol era o uso político do esporte apoiado no fanatismo nacionalista das pessoas e na cegueira para com a situação do país. Como não lembrar, por exemplo, da propaganda do governo militar brasileiro na Copa de 70? O risco sempre existe.

A ironia de Borges com o futebol aparece de relance no conto Esse est percipi - que está no livro Crônicas de Bustos Domecq, escrito por Adolfo Bioy Casares e Jorge Luis Borges. Em determinado momento uma personagem diz que o futebol deixou de ser um esporte praticado na vida real para virar um espetáculo midiático encenado. Mais pós-moderno impossível!
“Os estádios já são ruínas caindo aos pedaços. Hoje tudo se passa na televisão e no rádio. A falsa excitação dos locutores nunca o levou a suspeitar que tudo é patranha? A última partida de futebol nesta capital foi jogada dia 24 de junho de 37. Desde aquele exato momento, o futebol, do mesmo modo que a vasta gama de esportes, é um gênero dramático, a cargo de um só homem em uma cabine ou de atores com camisetas junto ao câmera”.
(Achei essa tradução na internet creditada a Janer Cristaldo)

Bem que o espírito de Borges poderia baixar no caminho da seleção argentina, né?

*Foto: Borges no L'Hôtel, Paris, 1969 / reprodução Wikipedia.
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Um comentário:

  1. O Brasil perdendo a Copa, qualquer seleção pode ganhá-la.

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