quinta-feira, 5 de setembro de 2013

O MUNDO É UMA OSTRA


Três rapazes de Nova York, donos de uma startup, estão adicionando mais um ingrediente apimentado a longa discussão sobre o fim do livro. Melhor dizendo, o ingrediente tem gosto de ostra (com ou sem limão, você é quem decide). Junto com outros entusiastas, eles criaram um aplicativo chamado Oyster. Uma reportagem da revista WIRED explica como vai funcionar: você paga $9,95 dólares por mês e tem acesso ilimitado a mais de 100 mil livros em versão digital para você ler no seu celular. Uma vez que você acessou, pode procurar livros de todos os gêneros num esquema mais ou menos parecido com o Netflix (aquele serviço de TV por internet) ou com o Rdio (serviço de música por internet).

O aplicativo tem algumas peculiaridades. Por exemplo, não vai disponibilizar o catálogo inteiro de uma editora. Parece que os desenvolvedores farão uma seleção para colocar na plataforma apenas livros interessantes (o que quer que isso signifique). Como todo aplicativo que se preze, ele vai permitir que você monte uma biblioteca e compartilhe suas leituras com o mundo inteiro. Todas as suas informações, livros preferidos, lista de livros que você leu ou deseja ler serão registrados para que o aplicativo possa decodificar seu 'gosto' e oferecer para você aquilo que você procura. Mais do que isso, você poderá adicionar amigos e dar aquela espiadinha na biblioteca deles a fim de encontrar livros que eles estão recomendando. Finalizando os atrativos, o usuário poderá aplicar 'temas personalizados' aos livros que alteram a fonte, a luminosidade e a textura da 'página' para conforto de leitura - há cinco temas disponíveis.

A ideia é derrubar as barreiras que estão entre você e os livros para que você gaste seu precioso tempo... lendo e esses objetos de outro planeta percam a materialidade que lhes é característica para estarem SEMPRE ao alcance dos seus dedos. Ou seja, você não poderá usar como desculpa a falta de tempo ou dinheiro por duas razões: o valor que você paga por mês custa menos do que um livro na Amazon e com todas as sugestões que você vai receber não terá nem o trabalho de procurar um livro que você goste.

Pelo que entendi, o aplicativo ainda está em fase de teste e, por isso, o acesso está restrito apenas para pessoas com iPhone que moram nos Estados Unidos - para usar o aplicativo o interessado ainda precisa pedir um convite. Com base nesse teste a plataforma será lançada oficialmente.

Mesclando a minha matemática de botequim com a minha visão de negócios mambembe tive um raciocínio. Para o usuário parece um bom negócio, mas para o mercado editorial, mais especificamente para o negócio do livro digital, será um golpe e tanto porque os preços dos livros por unidade terão de despencar para serem mais competitivos e atraentes. Com isso, o lucro dos editores deve diminuir porque eles deixam de ganhar no preço unitário do livro. Afinal, será que o leitor vai ficar tão entusiasmado assim que vai comprar o livro físico ou o livro digital separadamente? Pode ser que exista um ou outro, mas não um número expressivo. Quem vai sentir mais de perto será a Amazon, o maior concorrente do filão.

Quando vejo esses movimentos do futuro sempre penso naquela frase do Chris Anderson, um jornalista (quase um guru) que cria várias teorias sobre o futuro da indústria do entretenimento: "Every industry that becomes digital will eventually become free" (em tradução livre: "Toda indústria que se torna digital, eventualmente, vai se tornar gratuita").

Seja como for, é uma aposta, uma experiência, uma tentativa de encontrar espaço num modelo de negócio em crise ávido por uma saída surpreendente. Só o tempo dirá.

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E pensar que em meados da década passada, os japoneses inventaram um negócio chamado "mobile novel". Com o avanço da tecnologia e o advento das redes sociais quem vai ficar interessado em receber torpedos com histórias quando pode ter todas as histórias do mundo num aplicativo.

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Uma curiosidade, o nome Oyster foi retirado da fala "The world's mine oyster” que está na peça As alegres comadres de Windsor, de Shakespeare. Ah! Eles tem um blog com fotos bem legais de gente lendo.

*Imagem: Oyster/Divulgação.
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Um comentário:

  1. Não sabia desse aplicativo, mas também confesso que meu celular ainda é velhinho (ainda tem botões hehe) e não sou louca para ter iPhone nem nada. Mas fiquei curiosa em relação ao Oyster e concordo que para o leitor seria muito bom, apesar de que para o mercado seria uma revolução e tanto. Também não escondo que essas tecnologias todas me dão um pouco de medo, medo do que mais pode ser possível, de como tudo estará num futuro não muito longe.

    Beijo, Livro Lab

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